parte 34

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ponto de vista: gabi

— Laura... — cheguei na porta do quarto dela e à vi dobrando umas roupas.

— Fala, Gabi. — ela virou o rosto pra me olhar.

Nessa hora eu simplesmente travei. Como fazer com que ela diga a verdade? Tô completamente perdida. Abro e fecho a boca algumas vezes, à procura das perguntas certas.

Mas que merda!

— Por favor, se tá acontecendo alguma coisa grave, me diz que nós podemos te ajudar.

— O quê? — Laura disse, quase me interrompendo. — Gabi, eu não tenho nada pra falar. Vocês deviam me deixar em paz, de uma vez!

— Mas Laura...Fiquei sabendo que você foi no médico várias vezes nos últimos dias.

— E daí? Isso não tem nada a ver com você. Eu só tava...só preciso... — ela começa a chorar e eu me aproximo.

— Calma. — abracei minha amiga, tomando um pouco suas dores.

Ajudei-a à sentar na cama, e me acomodei ao seu lado.

— Tá muito difícil aguentar tudo isso sozinha. — ela enxugou as lágrimas com suas mãos.

— Tudo isso o que? — juntei as sobrancelhas, torcendo pra que ela não me ache invasiva.

Acho que já passei desse ponto.

— Eu vou te contar, mas você promete que não conta pra ninguém? — Laura pergunta, me olhando nos olhos. — Por favor.

Ah, não. Como vou poder ajudá-la sozinha? Nem pra Vivi poderei contar, e ela tá comigo nessa. Aliás, não só nessa. Ela se tornou minha pessoa favorita.

— Prometo.

— ...Eu fiz uma endoscopia e descobri que tô com câncer. — ela finalmente disse, e eu tentei conter minha expressão de choque.

— Como assim? Tem cura, né? Tem que ter. — me desesperei.

— Encontraram um tumor no meu estômago. Eu não tinha ideia do que era até então, mas a médica me disse que os sintomas ocorrem em fases avançadas. No meu caso, muito avançadas...

— E o que isso quer dizer?

— Quer dizer que eu tenho que procurar um tratamento que possa ser eficaz. Um bom profissional, sei lá...Mas eu não quero morrer. Eu não posso morrer.

Laura me explicou exatamente sobre a doença, o que as pessoas do hospital disseram, os sintomas, o tratamento, os remédios, a possibilidade de haver uma esperança de cura.

Conversamos por horas e eu disse à ela que tudo ficaria bem, mesmo não tendo certeza disso. Se ela desanimar, aí sim tudo se complica. Agora, como vou guardar tudo isso pra mim mesma?

— Demorou, hein? Como foi? — Vivi perguntou quando esbarramos no corredor de baixo.

— Eu não posso falar. — fui direta, não conseguiria mentir na cara dura e dizer que foi tudo bem.

— Por que? — ela cruzou os braços e eu virei a cabeça. — Gabriela...

— Já disse que não posso falar. Esqueça isso, por enquanto, ok? Vou dizer o mesmo pra Manu.

— Então não era algo sério? — a morena seguiu com as perguntas e eu demorei pra responder. — Fala alguma coisa!

— Caralho, pode confiar em mim?! Fique fora disso, eu fiz uma promessa.

— Mas garota, não é só você que tá preocupada. — ela gesticulou, irritada demais.

Isso me deixa mal, provavelmente esse assunto vai abalar nossa relação.

— Vivi, não insista, ok? Se quiser ficar brava, fique. Mas eu... — notei seus grandes olhos me fitando e ouso dizer que eles parecem tristes.

Devo ter decepcionado muito ela.

— Tá bom. — ela aceitou, de uma forma que pode significar tudo menos uma aceitação pacífica.

Vi a garota se distanciar e quis me dar um tapa.

que cheiro é esse? tão sentindo??
parece cheiro de uma merda federal que
está prestes à acontecer...

borboletas [gabi cattuzzo]Onde histórias criam vida. Descubra agora