parte 32

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ponto de vista: gabi

"Fizemos" várias coisas essa noite. Sim, com aspas. Porque eu não estava bem animada com aquilo, então não considero minha inclusão.

Depois que saímos do jardim, Vivi tomou banho, se trocou e nós fomos pra cozinha. Eu tinha jantado há pouco tempo, então não estava com fome. Os dois comeram enormes fatias do bolo que uma das meninas fez hoje mais cedo.

Fiquei sentada no canto da mesa, com a mão apoiada no queixo e observando eles conversarem sobre seus interesses em comum.

— Por que você tá tão quieta? — Vivi me olhou.

— Por nada. — dei de ombros.

— Não quer bolo? — ela apontou pro seu prato, que continha um pedaço ainda inteiro.

— Não. — reparei na postura do meu amigo ao lado dela, que deu uma garfada e não me encarou.

— Certeza? — Vivi insistiu e eu senti que perderia a cabeça.

— Sim! Tenho certeza...! — afirmei de forma rude, fazendo ela arregalar os olhos.

O que deu em mim?

— Tá bom, não pergunto mais nada. — ela juntou as sobrancelhas e não prestou mais atenção em mim, depois de uns segundos.

Depois da cozinha, fomos pra sala e Guaxi escolheu um de seus filmes favoritos pra assistirmos. Ou melhor, eles assistirem. Talvez eu esteja sendo dramática. Eles podem ser amigos, não devo ser possessiva nem nada, mas e se...e se ela acabar gostando dele?

Nunca conversamos direito sobre nossas sexualidades. Talvez ela também goste de rapazes.

— Essa cena é ótima, fica vendo... — ele pegou na mão dela, alertando-a.

Me encolhi no sofá, até que virei a cabeça por acaso e vi Laura passar por nós. Ela não parece bem, na verdade, desde que chegou.

— Onde vai? — Vivi repara meu movimento de escape.

— Beber água. — minto pra não gerar perguntas e sigo Laura.

Chegando na cozinha, encontro ela de costas, com os braços apoiados no balcão. Chamo seu nome calmamente e ela inclina a cabeça pro lado.

— Gabi? — ela pronuncia meu apelido.

— O que você tem? Pode falar. — toco em seu ombro e ela se vira rapidamente.

— Não é nada. Hoje acordei péssima.

— Mas você tava bem antes de ir ao médico. Aconteceu algo lá?

— Eu...eu vi um pai levando seus filhos pra clínica. Daí lembrei que meu ex marido me abandonou quando Henrique e Fabiana tinham apenas quatro anos. Fiquei mal, muito mal. Pior que eu sinto falta dele. — ela segura o choro, mas acaba não aguentando.

— Imagino como deve ser difícil. Mas você é uma mãe ótima, tenho certeza que cuida dos seus filhos muito melhor do que seu ex cuidaria, sozinho ou acompanhado.

— Eu só espero poder viver bastante, pra educá-los e vê-los crescer. — ela põe a mão na boca e desaba em lágrimas.

— Laura... — me inclino e à abraço forte.

Ficamos conversando por mais uns minutos e depois eu à ajudei à deitar em sua cama. Pedi pra outra moradora ficar de olho nas crianças enquanto o Guaxi não ia embora, e fui procurá-lo.

De volta na sala, peguei os dois prestes à sair. Sei que não é uma atitude muito madura, mas decidi me esconder à tempo e espia-los. Aproveitei que ainda estavam de costas e fiz isso. Eles subiram as escadas e quando vi que se afastaram, subi também.

— É meu livro favorito, vou te emprestar só porque você é legal. — ouvi a voz de Vivi de dentro do nosso quarto, assim que me aproximei do cômodo.

Me encostei na parede ao lado da porta e fiquei ouvindo o que eles falavam.

— Valeu. Vou tentar ler rápido pra te devolver mais rápido, ainda. — Guaxi disse e eu pude ouvir ele folheando as páginas.

— Sem essa. Leia no seu tempo.

— Valeu, novamente. — ele riu e ela acompanhou. — Então, posso te fazer uma pergunta?

— Pode.

— Você esqueceu mesmo de me mandar mensagem, ou só não quis?

— Eu juro que esqueci. — Vivi respondeu e eu senti sua sinceridade daqui.

— Tá bom, vou acreditar. Hoje não saímos da pensão, mas eu gostei de ter vindo. Passar um tempo contigo e com a Gabi.

— É? Que bom que gostou. Aqui não tem muito o que fazer, mesmo. Mas com companhia, as coisas mudam um pouco.

— Você vai fazer algo essa semana? A gente podia sair, só nós dois.

— Tipo...como um casal? — Vivi falou devagar e eu senti meu coração bater muito forte.

O que será que ela vai dizer?

— É.

— Rafael, você é muito legal. Mas eu só quero ser sua amiga. Vai ficar bravo por causa disso? — ela perguntou, e eu imaginei sua cara de receio pela resposta.

— Não, imagina. Eu entendo. Mas tem algum motivo específico? Você não me achou atraente? Desculpa se eu estiver sendo inconveniente.

— Não, eu só gosto de outra pessoa.

Arregalo os olhos instantaneamente. Tampo minha boca com as duas mãos e abafo um grito.

— Ah, tudo certo, então. Brigado pela sinceridade. Você também é muito legal.

— Eba, somos legais. — Vivi riu divertida e ele fez o mesmo.

Com uma felicidade imensa em meu peito, volto pra sala e me deito no sofá. Não muito tempo depois, eles aparecem.

— Eu já vou, Gabi. Foi muito divertido, hoje. — Guaxi falou comigo e eu corri para abraçá-lo.

— Tchau, amigo. — eu disse, olhando Viviane por cima do ombro dele.

Ele saiu porta afora e a morena e eu nos fitamos. Ela com aquele olhar desconfiado e surpreso.

— Que foi? — a garota sorriu e levantou uma sobrancelha.

— Você é linda. — seguro seu rosto e à beijo lentamente.

Quando nossas bocas se separam, ela me olha nos olhos e roça nossos narizes. Passo minha mão pelo seu cabelo liso escuro e sinto a maciez.

— Você também é. — Vivi mordeu o lábio e eu encosto meus lábios nos dela novamente.

teorias sobre a estranheza da laura?
será q ela falou a verdade??? HEIN HEIN

borboletas [gabi cattuzzo]Onde histórias criam vida. Descubra agora