parte 26

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ponto de vista: vivi

Abri os olhos e senti borboletas no estômago ao lembrar da noite passada. Fiquei encarando a beliche de cima, me perguntando se Gabriela ainda estava dormindo. Acabo por me levantar e percebo a ausência dela no cômodo.

Paraliso em frente à janela, tentando decidir com que cara vou aparecer pra todo mundo. Ok, ninguém mais sabe...eu acho. Basta apenas agir naturalmente, isso não é o fim do mundo. Aliás, é bem o contrário.

Me troco rapidamente e saio disparada. Ao chegar na cozinha, vejo Gabriela comendo com as crianças. Nossos olhares se encontram e ela segura o riso. Inclino a cabeça pro lado, como se dissesse à ela pra não ser tão óbvia.

— Oi, Vivi. — Henrique e Fabiana me cumprimentam.

— Oi. Digo, bom dia. — me sento ao lado de Fabiana, de frente pra Gabi, que está ao lado de Henrique.

Enquanto passava manteiga no pão bem discreta, Laura e Manu aparecem discutindo sobre algo que não presto atenção alguma.

— Eu tô falando, elas tão folgando. Sempre sou eu que lavo o banheiro. Já cansei! — Manu falou, aborrecida.

— Aquelas lá só sabem ficar batendo perna, e não ajudam em nada. Até a Vivi ajuda mais que elas. — Laura apontou pra mim, que dei um pulinho assustada.

— Eu? O que eu fiz? — fiquei entreolhando as duas mais velhas e Gabriela ao mesmo tempo.

— Nada. Você tá no mundo da lua, menina? — Manu pôs a mão na cintura.

— Claro que não. Só tô distraída, ué. — mastiguei o pedaço de pão, me sentindo intimidada.

— Que basicamente significam a mesma coisa. — Gabriela finalmente falou, pena que foi essa farpa.

— Come quietinha na sua, vai... — sorri, provocando ela.

— Você não manda em mim. — ela retribuiu o ato, sorrindo também.

— Manu, eu falo com uma das meninas. Qualquer coisa eu mesma lavo o banheiro. — Laura tocou no braço de Manu, que agradeceu. — E vocês, comam rápido.

— Oi? — Gabi olhou Manu inconformada, e eu também.

— Tá achando que é nossa mãe? — resmunguei, caindo na risada com a garota à minha frente.

— Eu falei com meus filhos, suas mal-educadas. — Laura bufou, jogando um pano de prato em mim e saindo da cozinha.

Depois do café, fomos pra sala e ficamos vendo um programa que sempre passa nesse horário. Com o tempo, o tédio chegou e eu suspirei irritada.

— Desliga isso! — Gabriela implorou, esfregando o próprio rosto.

Parece mais perplexa que eu.

— Com prazer. — peguei o controle e desliguei a televisão. — Que dia merda...

— Concordo. — ela se aproximou, sentando ao meu lado no sofá. — Cadê a Samira?

— Saiu, por que? Ela é sua nova melhor amiga, confidente? — brinquei.

— Você que não ia ser, né? — ela riu, e eu levantei uma sobrancelha.

— Como assim?

— É que eu não quero ser sua amiga. Só isso. — a menina disse tão naturalmente que eu fiquei pasma.

Desde quando ela ficou tão confiante?

— É, você quer ser minha-

— Meninas, vocês viram a minha carteira? — Laura apareceu na sala, me interrompendo.

— Não vi, não. — Gabriela respondeu.

— Os pirralhos devem ter pegado. — eu dei de ombros.

— Ah, não. — Laura subiu as escadas apressada.

Gabi e eu nos fitamos e gargalhamos após uns segundos em silêncio. Tanto que não ficamos paradas, e nossas mãos se encostaram.

Ela se inclinou e me beijou, ficando quase que por cima de mim. Eu pus minha mão em sua cintura que estava à mostra e ela afundou os dedos em meu cabelo. Tava tudo ótimo, perfeito e gostoso, até ouvirmos um barulho de passos e nos separarmos rapidamente.

borboletas [gabi cattuzzo]Onde histórias criam vida. Descubra agora