parte 31

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ponto de vista: vivi

Assim que adentro minha casa, ouço gritos bem agudos. Meu susto foi tão grande que a chave voou da minha mão e eu gritei também. Antes de conseguir sequer raciocinar, dois projetos de gente correm até mim e me agarram.

— Que porra é essa, posso saber? — eu perguntei, rangendo os dentes.

— Porra...? — Fabiana repetiu a palavra, e eu me recordei de algo que Laura me disse tempos atrás.

"Se qualquer uma de vocês influenciar meus filhos à ter a boca suja, eu meto um processo e ainda expulso todo mundo da casa!"

— Não, não, pelo amor de Deus... — segurei os ombros da menina. — Eu não disse isso pra você, ok? Finge que eu falei..."corra". É, eu falei "corra"... — me embananei toda pra tentar me livrar de mais uma.

— Não falou, não. — Henrique lançou um sorriso sapeca.

— Ai, eu tô fod...esquece. Cadê a mãe de vocês?

— Na cozinha. — eles falaram ao mesmo tempo.

Em segundos, Laura aparece na sala meio estranha. Ela parece abatida.

— Por favor, meus amores, eu já falei pra entrarem na fila do banheiro. — ela disse num tom cansado.

— Tá bom, mãe. — as crianças concordaram e fizeram o que foi pedido, creio que percebendo o estado da mãe.

— Tudo bem, Laura? — me aproximo.

— Sim. Só tô exausta. — a mais velha respondeu, sentando na poltrona.

— Como foi no médico?

— Tudo certo. Só uma consulta de rotina. — ela suspirou e eu depositei um beijo em sua cabeça, antes de subir.

Coloco minha mochila no quarto e procuro Gabriela nos outros cômodos.

— Manu? — chamo a atenção da mulher ao passar por seu quarto. — Cadê a Gabi?

— Ela tá no jardim com o amigo dela.

— Amigo? Que amigo é esse? — cruzei os braços, enciumada.

— Um tal de...Ah, esqueci. Vai lá, eles tão sentados conversando.

— Ok. Valeu.

Fui em direção do jardim e a visão foi exatamente como Manu tinha descrito. Gabriela numa cadeira baixa e ao seu lado, em outra cadeira, o...Guaxinim?

— Oi. — falei me acercando.

— Vivi, oi! — ele levantou e meio me cumprimentar.

— Oi. — Gabi disse, meio cabisbaixa.

— Que bom que veio passar um tempo aqui. Desculpa por não ter te mandado mensagem, nem nada. É que... — enquanto falava com ele, olhei de relance pra garota, que ainda estava sentada. — aconteceram muitas coisas e eu esqueci.

— De boa. Mas eu vim ver a Gabi, também.

— Legal. E vocês querem fazer alguma coisa?

— Podíamos sair, a gente tava só te esperando. — Guaxinim passou a mão no cabelo e fitou nós duas.

— Vão vocês. Eu tô cansada. — Gabriela levantou e passou por nós, mas eu segurei seu braço de leve. — É sério.

— Você também? O que houve? — franzo a testa.

— Nada. Eu só não quero sair. — ela se soltou de mim, não de forma brusca, mas também não foi delicada.

— Então a gente fica aqui, mesmo. Não tem problema pra mim. E você, Vivi? — o rapaz falou, gentilmente.

Ele é legal.

— É, tudo bem. Ficamos aqui. — tentei não soar incomodada com essa mudança repentina de Gabriela, mas sinto que não foi eficaz.

borboletas [gabi cattuzzo]Onde histórias criam vida. Descubra agora