ponto de vista: vivi
Eu amo brigadeiro com todas as minhas forças. Faz tempo que eu não faço, o que quer dizer duas semanas. Samira não tá aqui agora, então infelizmente vou ter que aproveitar essa maravilha sozinha.
Ela saiu no início da tarde com um trabalho enorme em mãos, dizendo que não podia esquecer uma só palavra da apresentação.
Laura saiu com as crianças e Manu tá trabalhando. Seria fácil surtar agora e me considerar uma desocupada, mas eu tenho direito à uma folga por semana, e decidi que essa folga será hoje.
Após terminar, despejei o brigadeiro num prato fundo e comecei à lamber a colher que usei pra prepará-lo. No meu celular em cima da mesa, uma das minhas músicas favoritas tocando.
Fiz umas dancinhas aleatórias enquanto saboreava o doce, me esquecendo totalmente que não moro sozinha. E pior, que moro com uma víbora.
Pode ser exagero, mas eu não tô nem aí.
Em meio à minha péssima coreografia, assim que me viro na direção da porta da cozinha, vejo a própria víbora parada, me olhando. Reviro os olhos e pauso a música.
— Não sabia que tava em casa. — falei sem pensar.
— Percebi. — Gabriela se aproximou, passando a mão lentamente pelo vidro da mesa, até chegar no prato.
O meu prato.
— Posso saber o que você quer? Eu tô ocupada. — eu disse, ríspida e querendo bater nela com a colher.
Gabriela se senta em cima da mesa e passa o dedo no brigadeiro, colocando-o na boca em seguida.
— Pelo menos isso você faz bem. — ela fez uma cara de quem tava impressionada.
— Primeiro... — afasto o prato dela. — Isso é meu. E segundo, quem não sabe fazer brigadeiro?
— Muita gente não sabe. Você conhece todo mundo, por acaso? — ela provocou.
— O que é, hein Gabriela? Era pra gente se ignorar, mas você tá fazendo exatamente o contrário.
— Eu tô entediada! — ela esperneou.
— Foda-se? — sorri sarcasticamente. — Vai fazer suas lives na Twist-
— É Twitch. — Gabriela me corrige.
— Tanto faz. Vai lá, que eu quero ficar sozinha. — dou as costas e consigo ouvir ela bufando.
Até que a garota passa o dedo outra vez no brigadeiro, e quando vê a minha reação, sai correndo. Que merda, ela não descansa, não?
Eu preciso agir como se ela não existisse. Você consegue, Vivi. Você consegue...
Louça lavada e dentes escovados, vou até meu quarto e me sento de frente pra escrivaninha. Começo à escrever uma lista de coisas que quero comprar ainda esse ano.
Meu salário não é lá essas coisas, mas se eu juntar, acho que consigo coisas de qualidade. Meu aniversário não tá tão longe, quem sabe eu possa me presentear com um notebook novinho.
Quando me pego lendo e relendo a lista várias vezes, ouço um barulho vindo lá de baixo. Vou até a janela e vejo o carro de Júlia estacionado na frente da casa. Do lado do veículo, parece que tem outro, mas eu não identifiquei.
Será que tem gente nova chegando?
Não estranharia se do nada o garoto que roubava minha coxinha do lanche no fundamental resolvesse morar aqui, também.
Desço as escadas e me deparo com pessoas desconhecidas. Dois homens, carregando caixas grandes que parecem ser de uma cama. Claro, a beliche.
— Cadê todo mundo, Vivi? — Júlia veio até mim.
— A maioria saiu, só tem eu e... — antes que eu terminasse de falar, Gabriela aparece atrás de mim.
— É a beliche? — ela pergunta.
— Sim. Agora você vai dormir mais confortável, querida. — Júlia acaricia o cabelo da garota, e eu apoio meu braço no corrimão.
— Ah, eu já tava confortável. Mas que bom. — Gabriela me olha de relance e eu levanto uma sobrancelha.
— Eu vou dormir em baixo. — levantei a mão e ela cruzou os braços, incomodada. — Que é?
— Tá fazendo isso só pra me irritar?
— Claro, porque o meu mundo gira em torno de você... — disse em sarcasmo.
— Só espero que você não me faça cair, com suas brincadeiras idiotas.
— Alguma vez eu fiz algo sequer parecido com isso? Acorda! — rebati.
— Meninas, chega. Meu Deus, quanta implicância. Por que não podem simplesmente virar amigas? — Júlia se intromete.
— Licença, Júlia, que nem aqui você mora. — coloco minha mão na frente da sua cara, mas ela tira rapidamente, me fazendo rir.
— Como é? Eu sou a representante da dona da casa!
— Pipipipopopo... — gesticulei fantoches falando baboseiras, e ela seguiu os homens pra não me dar atenção. Bato o olho em Gabriela, e ela tá segurando o riso. — Pode rir, eu sei que você quer.
— Eu não. — ela juntou as sobrancelhas, pressionando os lábios pra se controlar.
— Aham... — sorrio passando por ela, tranquilamente.
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borboletas [gabi cattuzzo]
Fiksi Penggemaronde viviane mora em uma pensão e a nova moradora é sua ex amiga, gabriela.