ponto de vista: vivi
Eu não odeio meu trabalho. Eu só...queria ser demitida. Já é a segunda vez nessa semana que a Valentina falta e eu tenho que ocupar as duas funções, tanto a recepção quanto o caixa. Meu chefe finge que não acontece, mesmo eu reclamando até mais do que o necessário.
Preciso arrumar algo que me entretenha. Flores são legais, mas eu vejo tantas todo dia que se alguém me presentear com uma, recusarei.
— Vamos fechar mais cedo hoje, Vivi. — como um sinal divino, o chefe aparece bem na hora em que eu pensava sobre.
— Jura? — arregalei os olhos e pulei o balcão, entusiasmada.
— Sim... — ele alonga a palavra. — Terei que conversar com a Valentina, saber o que tá acontecendo. Não é justo você ficar sobrecarregada.
— Sei. — o olhei de cima à baixo, estranhando. — Bom, eu vou indo, então.
Boas notícias, aleluia!
Após fechar o caixa e em seguida os portões, seu Ronaldo e eu saímos em direções opostas. Claro, pois ele mora em um dos condomínios mais requisitados do bairro, e eu numa pensão que mal cabe uma pessoa no banheiro direito.
Caminho pelas ruas e decido parar numa confeitaria. A minha favorita desde que me mudei. São raras as vezes que eu paro pra comprar algo lá, mas quando acontece, eu me pergunto porquê eu não simplesmente moro nesse lugar.
Lubrifico o lábio ao ver todos os doces da vitrine, mas escolho apenas duas bombas de chocolate, só pra mim.
— Aqui está. Volte sempre. — à vendedora disse me entregando a sacola.
— Pode deixar. — respondo, não escondendo minha cara de felicidade.
Já de volta em casa, assim que abro a porta, duas crianças passam correndo por mim. Só fui me dar conta de quem eram quando a mãe aparece descendo as escadas, aborrecida.
— Esperem! Mas que merda! — Laura grita, antes de passar a mão no rosto. Ela nota minha presença e me encara daquela forma que as pessoas fazem, quando querem pedir um favor.
Laura é a mãe das pestes: Henrique e Fabiana. Eles dão trabalho não só pra ela, mas pra todo mundo. Inclusive, euzinha.
— Não, nem vem. Larguei cedo do trabalho, eu só quero paz, agora. — nego antes que ela sequer fale e vou rapidamente até a cozinha. — E aí, Samira. — a vejo bebendo leite direto da caixa, próxima à geladeira.
— Fala, Vivi. — ela me cumprimenta de volta, sorrindo e expondo seu bigode branco.
Samira tem um ano à mais que eu e é a menos chata da casa. Ela é muito de boa.
Me acomodo numa cadeira e coloco a sacola que carregava em cima da mesa. Retiro as bombas de chocolate quase babando e as como em pouco tempo.
— Beleza. Nem divide, né? Mal educada. — Samira senta também e provoca.
— Me deixa. Você também nem ofereceu o leite. — rebato.
— Como se você fosse aceitar, né? — ela dá risada.
— É, tem isso. — rio também.
— Ficou sabendo que a casa vai ficar mais cheia? — Samira pergunta enquanto eu lambo meus dedos.
— Mais? — a palavra sai sozinha.
— Pois é, tudo bem, o imóvel é grande, mas...
— Mas já deu. — completo. — Que seja. Quando a pessoa chega? Ou melhor, a moça.
— Como sabe que vai ser mulher? — Samira cruza os braços.
— Nenhum homem até hoje aceitou morar aqui, onde só tem mulheres.
— Tem o Henrique. — ela diz, se referindo ao filho da Laura.
— Mas ele é só um projeto de gente, ainda. Sem contar que só mora aqui por conta da mãe.
— Enfim, parece que a moça chega essa semana mesmo. Já confirmaram a entrada dela tem uns dias.
— E por que eu fui a última à saber? — finjo indignação.
— Porque você é uma distraída. — Samira faz uma careta e eu reviro os olhos.
Conversamos mais um pouco sobre coisas rotineiras, até que eu vou até a pia lavar minhas mãos e saio logo depois. Subo as escadas e vou até meu quarto.
Jogo minha bolsa na cama e vou até minha escrivaninha. Em cima dela tem um papel pequeno com um recado escrito nele.
"Arrume o quarto e consiga um colchão para amanhã. A nova moradora dormirá nele até comprarmos uma beliche."
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borboletas [gabi cattuzzo]
Fanfictiononde viviane mora em uma pensão e a nova moradora é sua ex amiga, gabriela.