parte 29

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ponto de vista: vivi

— Quem é? — perguntei ao ver Gabriela responder uma mensagem no celular.

— A Laura. Ela quer que eu cuide das crianças amanhã de tarde, enquanto ela vai no médico.

— Hm. Só você?

— Sim. Pode comemorar. — ela deu risada.

— Yes! — levantei os braços e gritei, chamando atenção de praticamente todo mundo da lanchonete.

— Meu Deus, sua doida! — a garota pôs a mão no próprio rosto, constrangida.

— Mudando um pouco de assunto... — falei calmamente. — A Samira tá desconfiando.

— Eu sei. Hoje mais cedo ela perguntou porque eu demorei tanto no banheiro ontem.

— Como ela sabia que a gen...que você tava lá?

— Uma menina desistiu de me esperar e saiu da fila. Daí acabou contando pra ela.

— Caramba...

— Pois é, tá ficando cada vez mais perigoso te pegar às escondidas. — ela pôs a boca no canudo, segurando o riso.

É a cara dela ficar envergonhada por algo que ela mesma disse.

— É, melhor a gente parar. — brinquei, mas ela não entendeu e ficou séria.

— Sério?

— Claro que não. Ai de você se resolver querer parar.

— Idiota. — Gabriela revirou os olhos. — Mas caso um dia isso venha à tona e todo mundo saiba, como acha que vai ser?

— Sei lá. Mas por mim podia continuar assim, que eu não reclamaria.

— Fala sério, quer ficar se escondendo pra sempre?

— Eu não tô me escondendo, Gabriela. — rebati.

— Mas parece. Aposto que não me assumiria pra sua família, por exemplo.

— Opa, calma aí também, né? A gente tá ficando tem o quê...um mês? Muito cedo.

— Tem razão. É que eu nunca fui de ficar por ficar. Essa é a primeira vez.

— Sei... — não sabia o que dizer, então saiu isso.

Imediatamente me lembrei das nossas brigas, e em como tudo se transformou nessa maratona de carícias e pegações. Eu realmente gosto da Gabriela. Me sinto bem com ela, de um jeito que não senti com mais ninguém. Só é estranho pensar que a gente se "odiava" e de repente ficamos tão íntimas.

Não tão de repente assim.

ponto de vista: gabi

Acordei às onze da manhã. Tirei o braço de Vivi de cima de mim e levantei, após depositar um beijo longo na bochecha dela. Fui até o banheiro e tinham duas pessoas esperando na porta.

Quando finalmente entrei, lavei meu rosto, escovei os dentes e fiz minhas necessidades. Após tomar café — um pouco tarde, convenhamos, fui pro quintal, me sentei numa cadeira grande e tomei um solzinho.

Tempo depois me dei conta que passava de meio dia. Voltei pro quarto e encontrei Vivi arrumando a cama, com seu pijama xadrez vermelho.

— Bom dia. — abracei-a por trás.

— Bom dia. — ela largou os panos e se virou pra me beijar. Colamos nossas bocas e não lembramos da porta aberta. Alguém passou falando algo pelo corredor, o que fez nos separarmos bruscamente. — Sai daqui, eu quero arrumar minha cama sozinha.

— Garota chata, eu só queria ajudar! — exclamei, entrando na onda.

— Voltaram à brigar? Pensei que fossem amigas, agora. — Laura disse da porta.

— Não dá pra ser amiga dessa patricinha. — Vivi deu as costas e disse tão ríspida que eu quase acreditei.

— Desculpa se eu tenho educação e você não. — rebati. — Patricinha é meu cu!

Seguimos trocando farpas falsas, até que Laura interviu.

— Gente, por favor!

— Me deixa, Laura. — Vivi falou.

— Gabi, você ainda vai cuidar das crianças? Eu juro que volto assim que a consulta acabar. — Laura me olhou.

— Vou sim, você já vai?

— Daqui à pouco.

— E cadê o Henrique e a Fabiana?

— Eles tão terminando de almoçar. É bom você já descer. — ela sorriu docilmente.

— Tô indo. — afirmei e ela saiu.

A morena de pijama me encarou com um sorriso divertido em seu rosto.

— Pegou pesado, hein? — provoquei.

— Você também. "Patricinha é meu cu!" — Vivi me imitou, e eu dei um tapinha em seu braço.

— Bom, eu já vou. Beijo. — me inclinei pra ganhar meu presente.

— Vai logo, antes que ela volte. — ela desviou e eu me retirei do cômodo meio decepcionada.

borboletas [gabi cattuzzo]Onde histórias criam vida. Descubra agora