parte 12

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ponto de vista: vivi

Manu organizou uma viagem com todo mundo até a praia. Ela me pediu ajuda pra conseguir alugar uma casa boa e com espaço pra um final de semana. Depois de procurar bastante, eu achei o lugar perfeito, então juntamos as economias e deu.

Algumas meninas quiseram ficar na pensão, elas falaram que tinham compromissos inadiáveis e desejaram boa sorte pra nós.

Gabriela tá estranha. Ela do nada resolveu ser legal comigo, e essa semana discutimos apenas uma vez. Não que eu esteja reclamando, mas que é estranho, é. Talvez seja uma estratégia pra me tirar do sério. Coitada dela, porque eu não tô ligando nem um pouco pra isso.

Sou péssima com mentiras. Depende. Sei lá!

— Todo mundo trouxe tudo? — Manu gritou antes de fechar o porta-malas da van.

— Sim! — gritamos de volta, nos separando pra entrarmos civilizadamente no carro.

Não deu certo.

As crianças entraram com tudo pra conseguirem ficar nos lugares atrás do banco do motorista. Rolou uma briga desnecessária, e eu fui quase a última à adentrar o veículo. Me viro pra trás e Gabriela tá parada, me fitando com uma cara estranha.

— Não vai entrar? — gesticulei pra ela adiantar.

A garota não disse nada e fez o que foi indicado. Acabamos ficando lado à lado no fundo, junto com Samira, que estava próxima à janela, assim como eu.

Ninguém calou a boca nos primeiros vinte minutos de percurso, eu me arrependi de ter deixado meu celular e fones de ouvido na mala maior. Decidi então fechar os olhos e tentar relaxar.

— Manu, liga o rádio! Eu quero música! — Fabiana e Henrique gritaram, me acordando.

— Ah, não, gente! Tava tudo tão calmo, até agora... — Manu reclamou.

— Liga! Liga! Liga! — as crianças insistiram.

— Chega, vocês dois. Liga logo isso, Manu. — Laura os repreendeu, e Manu apertou no botão de ligar.

Começou à tocar um funk pesado, e nós do banco de trás rimos pra caralho.

— Desliga! — Laura tentou tampar os ouvidos de seus dois filhos ao mesmo tempo.

Manu desliga o aparelho às pressas, e a gente se recupera dos risos. Não consigo me conter e olho pro lado, vendo nitidamente a oposição entre as garotas próximas à mim. Samira roendo as unhas, toda relaxada, de cabelo bagunçado e Gabriela, se olhando no espelho e retocando o batom.

— Sério? — brinquei, fazendo ela me encarar.

— O quê? — ela guarda o espelho na pochete.

— Nada. — balanço a cabeça em negativo e volto à prestar atenção na janela.

— Tá irritada, já? Imagina quando chegarmos na praia... — ela ajeitou seus óculos de sol, apoiados na cabeça como uma tiara.

— Eu disse alguma coisa? — franzo a testa.

— Sim. Acabou de falar: "Eu disse alguma coisa?" — Gabriela lança um sorriso de provocação, o que me surpreende, porque até horas atrás ela tava toda meiguinha.

Quando chegamos na casa onde nos instalaremos, as crianças correm em direção ao portão, as mais velhas vão até o porta-malas pegar as bagagens, e nós que estamos no meio termo observamos a paisagem.

Dá pra sentir o cheiro da água salgada daqui. Eu amo isso.

— Tão esperando o quê? Venham pegar suas malas. Aqui não tem empregada, não! — Manu chamou nossa atenção.

— Que mal humor. Você tá na praia, Manoela. — Gabriela disse já segurando na alça de sua bolsa enorme cor de rosa.

Larguei minha mala no chão e procurei na minha roupa as chaves da casa. Depois de entrarmos, Laura nos fez deixar nossas coisas nos quartos em que ficaremos. Segundo ela, não era ético deixar bagunça espalhada pelos corredores ou pela sala.

Por sorte, consegui um quarto pra ficar sozinha. E melhor ainda, com uma enorme cama de casal.

— Vem, Vivi! — ouvi me chamarem enquanto eu terminava de checar o banheiro da minha suíte.

— Já vou! — gritei de volta e comecei à tirar minha blusa.

Comprei esse biquíni azul tem uns meses, não fazia ideia de que estrearia ele tão cedo.

Consegui correr à tempo de pegar todo mundo à caminho do mar. Samira com uma bolsa de palha cheia de utensílios como protetor solar e toalhas, os pirralhos com seus brinquedos em mãos, Manu e Laura com garrafas d'água e Gabriela, com uma câmera vintage em mãos.

borboletas [gabi cattuzzo]Onde histórias criam vida. Descubra agora