parte 45

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ponto de vista: vivi

Os parentes distantes da Laura vieram ao enterro. Eles leram discursos nada emocionantes em comparação ao da Manu e da Gabi.

A reação das crianças não foi boa, como já era de se esperar. Perder a mãe não é algo fácil. Henrique ficou agressivo e esperneou bastante. Chegou à tentar fugir de casa, mas nós o alcançamos. Depois disso ele só chorou, assim como a irmã.

Fabiana acordou hoje achando que tudo não passava de um sonho. Quando confirmaram a notícia, ela voltou à chorar e mal quis comer.

— Vai lá dar sua flor pra mamãe. — Manu incentivou a garotinha, que fez o que foi indicado.

Só estávamos nós agora.

— Eu te amo, mamãe. — as crianças sentaram na grama e se abraçaram.

— Eles não vão ler a carta? — pergunto para as outras.

— Laura escreveu na minha que eu só entregasse quando eles ficassem mais velhos. — Manu explicou.

— Tão protetora. A Laura era uma sábia. — Samira comentou.

— Ai, ai, vou sentir falta daquela chata de galocha. — Manu murmurou, fazendo Gabi apoiar a cabeça em seu ombro e rir. — Ela fez um manual de instruções pra mim. — nós gargalhamos. — E até indicou livros de autoajuda pra criar os pestinhas.

— A gente te ajuda, não se preocupe. — falei.

— Pois é, eu não conseguiria ficar longe. — Gabriela concordou.

— Sabem de uma coisa? — Samira perguntou e a gente olhou pra ela. — A Laura amaria ouvir essa conversa.

— Será?

— Claro. — deu de ombros. — Ela disse pra gente viver e aproveitar tudo. Sem chororô, lembram?

— E o que sugere? Festa no dia do enterro? — ironizo, revirando os olhos.

— Isso não. Mas podíamos fazer algo que ela gostaria que fizéssemos.

— Tipo o quê? — Gabi questionou.

— Tipo...um jantar. Todas nós, hoje, no meu apartamento. — Samira sorriu de canto.

— Mas não tá vazio? — Manu franze a testa.

— Não, ela alugou. — respondi.

— Eu acho legal. — Gabriela aceita.

— Eu também. — eu concordo.

— Eu também. Vou preparar o prato favorito dela. — Manu balança o corpo, entusiasmada.

Quando chegou a hora do jantar, já estávamos na nova casa de Samira. Ela comprou um vinho ótimo e suco para os pequenos. Eu me encarreguei da sobremesa.

— Que vista linda. — Gabi admirava o céu estrelado pela varanda.

— Né? Eu adorei, também. — Sami fala enquanto arruma as coisas na mesa.

— E vocês? — sento no sofá junto à Henrique e Fabiana. — Tão com fome?

— Não. — Henrique responde, emburrado.

— Um pouco. — Fabiana me olha melancólica.

Levanto a cabeça e vejo Gabi observar a cena de longe. Ela se aproxima e me beija no rosto, antes de:

— Querem ver a mãe de vocês?

— Mas ela tá enterrada... — os dois fazem bico, e segundos depois arregalam os olhos. — Podemos ver ela?

— Claro. Venham. — a garota os leva até a varanda. Eu sigo os três de curiosa. O que será que ela vai dizer? — Me digam, qual a estrela mais bonita?

— Aquela! — eles apontam pra maior de todas, e que tem o brilho mais forte.

— E se eu disser que a mamãe virou aquela estrela? — Gabriela sorri.

As crianças fazem sons impressionadas.

— Sério? — Fabiana pergunta.

— Claro.

— Sério, Vivi? — Henrique me olha.

— ...Lógico, pirralho. Mas então? Tá esperando o que pra acenar pra ela?

Eles começam à acenar. Gabi e eu nos olhamos e eu lanço uma piscadinha pra ela.

— Pessoal, venham! Tá na mesa! — Manu gritou nos chamando.

A refeição foi repleta de conversas legais, risadas e brindes. Nós falamos sobre a Laura. Contamos histórias, choramos um pouco mais...

Depois assistimos um filme de comédia e todo mundo acabou dormindo na sala, com exceção de mim e da minha namorada.

Fomos assaltar a geladeira no meio da madrugada. Por sorte, sobrou um pouco de doce.

— Você tá bem?

— Tô sim. As coisas tão caminhando bem. — ela disse olhando pra baixo.

Que mulher linda, puta que pariu!

— Te amo. — me acerco, levantando seu queixo e roubando um beijo da menina.

— Te amo. — Gabriela roçou nossos narizes.

Os dias passaram e já tá tudo pronto pra nossa mudança, finalmente. Hoje fomos com Triz comprar um tapete pra por em frente a nossa porta. Depois tomamos sorvete e eu comprei bombas de chocolate na minha confeitaria favorita.

Manu mantém contato conosco e ela disse que tá tudo encaminhado pra conseguir a adoção dos pirralhos. Eles vão morar no mesmo prédio da Samira, os três juntos. Enquanto tudo se aguarda, o juizado permitiu que os dois fiquem com ela. Afinal, era a mais próxima além de Laura.

Então nada de orfanato. Ainda bem.

E quanto a pensão? Cada vez pior. Eu não procuro saber nada sobre, mas de alguma forma as informações chegam até mim. Fiquei sabendo que não sobrou quase ninguém, e muito menos quem queira morar lá. Com certeza Júlia e Dora estão se mordendo por dentro.

— Alô! — me assusto com Gabriela gritando pra chamar minha atenção.

— Foi mal! — gargalhei, me desculpando. — O que foi?

— O filme já vai começar. — ela aponta com o controle pra televisão.

— Eu não gosto desse filme... — me espreguicei, caindo em seu colo.

— Sério, amor? — a garota acaricia minha cabeça. — Problema seu. Agora assiste.

— Nossa, que esposa mandona. — digo em sarcasmo.

— ...Esposa? — ela engole seco de nervosa, até deu pausa no filme.

— Brincadeira. Mas que bom saber sua reação. — levanto devagar, achando graça.

— Assim não vale! — Gabi me segue até a cozinha.

— Vale sim! E fica tranquila que eu nunca vou te pedir em casamento. — abro a geladeira e beberico minha garrafa d'água.

— Até parece. — ela levantou as sobrancelhas, fazendo uma cara de malícia.

— Ah, é? — perguntei em provocação, me aproximando.

FIM.

borboletas [gabi cattuzzo]Onde histórias criam vida. Descubra agora