parte 5

488 42 20
                                    

ponto de vista: vivi

Com o maldito colchão já instalado no quarto, desço as escadas após um tempo e encontro minha ex amiguinha no sofá, conversando com as crianças, Laura e Júlia. Samira passa por mim e me olha como quem quer dizer: "Se controla".

— Vivi, tá ficando tarde. Pode levar a Gabi pro quarto de vocês? Ela deve estar cansada da viagem.

— ...Viagem? — inclinei a cabeça pro lado.

Elas me ignoraram e voltaram à se olhar.

— Boa noite, crianças, Laura. Brigada pela recepção, Júlia. Eu me senti bem acolhida, considerando que é só meu primeiro dia. — Gabriela levantou e segurou as mãos de Júlia, agradecendo.

— Não se preocupe. Espero que aqui você viva bem. Todas são muito amigáveis, viu?

— Vamos, crianças? — Laura chama seus filhos e os três vão pra seus determinados quartos.

— Eu já vou indo, também. — Júlia pegou sua bolsa e se direcionou à porta.

— Até ano que vem, Júlia. — acenei, provocando-a.

Ela me olhou sem expressão e saiu mesmo assim.

— Bom...onde é o quarto? — bati os olhos na Gabriela e ela falou, dando de ombros e segurando sua mala.

— Me segue. — digo após uns segundos à encarando.

Ela tá diferente. Fisicamente, eu digo. O cabelo platinado com uns detalhes na cor rosa. Tatuagens coloridas e roupas bem distintas das que ela costumava usar. Claro. Passou-se um tempo, alguma coisa tinha que mudar.

Subimos e eu paro na porta do quarto que agora será nosso. Que raiva!

— É menor do que eu imaginei. — ela disse entrando e olhando em volta, mas principalmente reparando no colchão.

— Mal chegou e já tá exigindo mais do que merece? — sorrio ironicamente, cruzando os braços e me encostando na parede.

— Vivi, desse jeito não vai dar pra gente conviver.

— Que bom que sabe. Mas foi você quem quis vir morar bem no mesmo lugar que eu.

— Eu não sabia que você estaria aqui. Eu nem... — Gabriela suspirou. — Olha, já fazem anos. Eu me arrependi por ter feito aquilo, ok? Não pode simplesmente me perdoar e esquecer?

— Perdoar e esquecer são duas coisas completamente diferentes. — eu me aproximei. — Mas realmente, não precisamos ficar batendo boca. Só finja que eu não existo, e eu farei o mesmo. Satisfeita?

— Uau, quanta maturidade. Você não era assim. — ela debocha, revirando os olhos.

— Que foi? Tá com saudade da trouxa que fazia tudo o que você mandava?

— Eu acabei de chegar e você tá sendo uma filha da puta comigo. E por algo que aconteceu séculos atrás. Fala sério! — a menina levantou a voz.

— Fala sério, você! Já te disse como as coisas serão aqui, se você não quiser discussões. Agora o que você acha sobre, pouco me importa. Licença. — passo por ela, esbarrando em seu ombro e deitando na minha cama.

Ela fica parada onde está, e isso chegou à me incomodar.

— Eu quero me trocar. Ou tomar um banho, pelo menos. — Gabriela disse, com vergonha em seu tom.

— Fique à vontade. Só não me acorde, amiga. — dou ênfase ao me referir à ela e me viro pro lado contrário.

— Você vai dormir assim? Suja? — ela continuou tagarelando.

— Algum problema? Não vamos dormir grudadas. — resmunguei.

— Tá bom. Faça o que quiser. Folgada. — a garota murmurou, saindo do quarto.

Depois de um tempo ela volta e eu sinto cheiro de um sabonete diferente. Parecem aqueles hidratantes com tema de flores. Manu usa bastante. Ouço barulhos de vestimenta e quando a luz se apagou, um silêncio se instala instantaneamente. Agora vou poder dormir, mas como?

borboletas [gabi cattuzzo]Onde histórias criam vida. Descubra agora