parte 37

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ponto de vista: gabi

Eu lembro perfeitamente daquelas três palavras, as quais ela disse enquanto eu desabava.

Só que ainda não arrumei forças pra dizer de volta, com toda essa situação da Laura. Tenho medo disso ser algo momentâneo, sei lá. Sinto como se estivesse presa numa montanha-russa em movimento.

Passamos um tempão no hospital, até mesmo quando levaram a Laura de volta pro quarto. Ela demorou à acordar da anestesia, e Samira me convenceu à voltar pra casa antes que isso acontecesse.

Na hora eu fiquei incomodada, mas depois refleti e vi que era o melhor à ser feito.

Mas hoje eu verei minha amiga, garanto.

— O que tá fazendo aqui ainda? Você vai se atrasar. — chamo a atenção de Vivi, que não saiu da cama desde que acordou.

— Não vou trabalhar hoje. — ela disse devagar.

— Tem certeza? — pergunto um pouco sem graça, ela deve estar se questionando sobre certa coisa.

— Tenho. — a morena se virou pra parede e eu entendi o recado, mas não aceitei.

Não posso deixá-la assim, deprimida.

— Vamo no hospital comigo. — me sentei próxima à ela e pus minha mão em seu corpo. — A Laura vai ficar feliz em ver a gente.

— Não. Ela vai ficar feliz em ver você. — Vivi me olhou de canto e falou de uma forma ríspida, daquele jeito que só ela sabe fazer.

— Não começa, vai. Eu te conheço, sei que você quer. — puxo seu braço e ela faz uma careta.

— E você por acaso quer? — a garota senta na cama e me fita com uma sobrancelha levantada.

Me inclino e beijo sua boca.

— Respondi sua pergunta? — perguntei roçando nossos narizes.

— Talvez. — ela dá um sorriso malicioso e se levanta. — Vou me trocar.

— Nada disso. A senhorita vai tomar banho. — coloco minhas mãos em suas costas e à guio até a porta.

— Ah, não! — Vivi resistiu, mas eu consegui levar a reclamona até o banheiro.

— Ah, sim. Pode começar. — cruzo os braços e espero ela tirar a roupa.

— Justo hoje o banheiro tá vazio. — ela deu risada. — Não vou tomar banho na sua frente.

— Tá, então eu vou te esperar na porta. — revirei os olhos e saí.

Parada do lado de fora e encostada na parede, me reprimi um pouco ao lembrar das coisas ruins e imaturas que já fiz nessa vida. Todo mundo erra, mas eu preciso aprender com meus erros, e acho que isso não tá acontecendo. Tô errada?

Talvez. É possível que eu esteja abalada demais pra pensar coerentemente.

Depois que Vivi terminou, fomos pro quarto e eu ajudei ela à escolher uma roupa bem bonita. Pegamos nossas coisas e descemos as escadas juntas, porém ao chegarmos na sala, Júlia acabara de entrar.

— Onde pensam que vão? — ela bloqueou nossa passagem.

— Ver a Laura. — respondo.

— Não vão, não. Eu proíbo. Depois do que fizeram, ela não merece ter contato nenhum com vocês.

— Como é? — a postura de Vivi mudou de repente, parecia que ela avançaria em Júlia à qualquer momento. — Você nos proíbe?

— Sim. Então podem dar meia volta.

— Júlia, cê sabe que isso não é justo, né? — questionei, entristecida.

— O que você sabe de justiça? Já falei que estão proibidas de ver a Laura.

— A gente só quer ajudar, mas que merda!

— Então fiquem aqui bonitinhas, se não quiserem ser expulsas dessa casa. Eu não vou repetir. — ela passou por nós, esbarrando em nossos ombros.

— Essa filha da puta bem que merece um tapa. — a morena balançou a cabeça se pondo na minha frente.

— Ela acha que tá ajudando, mas nem sequer pensou nas crianças. Quem vai buscar elas? Como vão explicar tudo?!

— ...A gente, ué. — Vivi me olhou sugestivamente. 

— Que cara é essa? — sorrio de leve.

— Ninguém pode nos impedir de nada. Somos adultas, e que se foda essa pensão. Vem! — ela segura minha mão e nós saímos da casa correndo.

borboletas [gabi cattuzzo]Onde histórias criam vida. Descubra agora