parte 14

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ponto de vista: vivi

Saí da piscina me sentindo enrugada. Fui até o balcão próximo à churrasqueira e Samira surgiu do nada, me dando o maior susto.

— Garota! — eu caí na risada, e ela também.

— Finalmente resolveu vir comer?

— Me deixa, eu gosto de piscina, ué. — coloquei um pouco de farofa na boca.

— Vocês nem pensem em tocar nessas carnes, aqui. — Laura apareceu e tirou a bandeja com comida de perto de nós.

— Se ninguém vai comer, tá de enfeite?

— Essa parte aqui é das crianças, Vivi. — ela respondeu, caminhando na direção de seus filhos.

— E qual o tamanho do estômago delas?! — gritei quando ela já estava longe e Samira tocou no meu braço, como um conselho pra eu esquecer.

— Deixa, já tem mais carne assando ali. — ela disse apontando pro lado. — E aí? Tá curtindo?

— Muito. Queria ficar aqui pra sempre.

— Eu também, pena que a vida real não é só isso. — Samira bufou, desanimando por um segundo.

— Mas pode ser. Basta querer.

— Querer? Simples assim? — ela riu.

— Não. Também precisa de outras coisas, como... — faço uma pausa pra pensar. — Um pai rico, ganhar na loteria, se inscrever naqueles programas que dão prêmios de graça e torcer pra que saia com algum cheque no bolso...

Gargalhamos.

— Um dia eu vou ganhar na loteria, Vivi. Anota o que eu tô dizendo. — ela bateu na mesa, determinada.

— Anotei no meu bloco mental. — me viro na direção da piscina e vejo Gabriela com os braços apoiados na borda. — Eu já volto.

Ando até o chuveirão e o ligo. A água bem mais gelada do que eu esperava, mas como tá calor, eu só aproveitei. Passei as mãos pelo cabelo e fechei os olhos, relaxando. Até que quando eu menos espero, alguém praticamente se joga ao meu lado.

— Ai! Tá fazendo o quê, aqui? — perguntei à Gabriela que colou em mim, pra que a água pegasse nela também.

— Eu também quero me lavar.

— Você tava na piscina ainda agora! — resmunguei.

— É, mas não considero cloro a melhor opção pra ser lavada decentemente. Licença. — ela me empurrou com seu quadril, me fazendo quase escorregar.

A garota ri e eu à empurro também. Ficamos numa guerra pra disputar o espaço abaixo do chuveiro.

— Gente, olha a carne! — Manu gritou, e nós corremos como se fôssemos esfomeadas.

Comi tanto que pensei que explodiria. Nós conversamos sobre os assuntos mais aleatórios possíveis, mas foi divertido. As horas passaram e a tarde chegou ao fim. O sol se pôs e eu tomei um banho de verdade.

Lavei o cabelo com o shampoo que já estava no meu banheiro. De primeira, achei que não fosse de qualidade, porque ninguém dá nada de graça nessa vida, mas o cheiro é maravilhosamente bom.

Lembra os cremes da insuportável da Gabriela. Ela usa tanto isso, que já me acostumei.

Agora estamos todos na sala, observando a lareira. Algo que me agrada é a iluminação, que é quase mínima. Uma luz amarelada, quase como se ainda estivesse de dia. Manu preparou biscoitos e eu fiz um suco de laranja pra acompanhar.

Fiquei com um dos sofás só pra mim. Estico minhas pernas e apoio meu braço por baixo da almofada. A paz é tanta que pra pegar no sono é em questão de minutos. E eu estava certa.

Acordo e ao levantar a cabeça, me dou conta de que to sozinha. Ou quase.

— Oi. — ouço a voz de Gabriela.

— Que horas são? — pergunto sem raciocinar direito.

— Acho que umas dez da noite.

— Tava me olhando dormir? — me sentei e esfreguei meus olhos.

— Não, eu tava na sala também, mas lendo. — ela balançou um livro em sua mão.

— ...Tá. — assenti meio ríspida, antes de levantar bruscamente. — Vou deitar.

— Eu também. — ela me segue e isso me incomoda um pouco.

Não é como se estivéssemos nos reaproximando. Né?

— Por que tá sendo legal comigo? — viro pra garota, que me fita misteriosamente.

— Porque sim. — ela responde após uma pausa, eu junto as sobrancelhas.

— Que seja. Vou pro meu quarto. — reviro os olhos e subo as escadas.

Já na minha enorme e temporária cama de casal, me sinto sozinha. Pequena demais pra esse colchão. E também já tentei dormir novamente, mas o sono sumiu por completo. Mudo de posição pela trigésima vez e jogo o cobertor pro lado, irritada.

— Merda. — murmuro.

Vou até o banheiro e fico me olhando no espelho. Resolvo sair do quarto, quem sabe se eu arrumar algo interessante pra fazer?

Caminho pelo corredor e todas as portas estão fechadas. Não ouço barulho algum, então deduzo que todas estão dormindo. Agradeço aos céus por ainda ter sobras de biscoitos na cozinha.

Me acomodo na mesa e como sem dó. Ao acabar, volto pra sala sem a menor expectativa de encontrar alguém, porém me enganei. Lá está ela, Gabriela, mexendo na câmera que trouxe, concentradíssima.

borboletas [gabi cattuzzo]Onde histórias criam vida. Descubra agora