parte 15

381 38 16
                                    

ponto de vista: gabi

Senti a presença de alguém na sala e quando me virei, avistei Vivi. Ela desviou o olhar e coçou a nuca, parecia tímida. Isso despertou lembranças na minha mente, da época em que não nos desgrudávamos.

Vivi andava com outra menina antes de me conhecer de verdade. Um dia eu fiquei no grupo delas pra fazer um trabalho, e nos aproximamos. Com o tempo, a terceira integrante se mudou e ficamos apenas nós.

Melhores amigas, uma dupla imbatível. Ou quase.

— Não conseguiu dormir? — perguntei gesticulando pra ela sentar no sofá comigo.

— É. — foi tudo o que a morena disse, mas pelo menos ela fez o que eu falei. — E você? O que tá fazendo?

— Vendo as fotos que tirei hoje. — inclinei a câmera pra que ela também visse.

Comecei à passar as imagens, até que parei em uma que continha apenas ela, sentada na areia, de costas e observando o mar.

— Então você tira foto das pessoas sem pedir autorização? — Vivi tirou o objeto da minha mão e eu me perguntei se ela falava sério ou não.

— Mas ficou ótima. Até porque você tá de costas, né? — brinquei, tentando pegar a câmera de volta.

— Você é tão engraçada... — ela enfim me devolveu, fazendo uma careta. — O que pretende fazer? Imprimir e colar no nosso quarto?

Fiquei feliz por ela dizer "nosso".

— Até que não é uma má ideia. — reflito.

— Não, pelo amor de Deus, não. — Vivi balançou a cabeça em negativo.

— Por que?

— São muitas fotos, vai parecer uma galeria. Por que não escolhe só uma e põe num porta-retrato?

— Porta-retrato? — alonguei a palavra, com desleixo.

— Que é? Não sabe o que é, burra? — ela me empurrou de leve e eu dei risada, dizendo que sei.

— Vou pensar. Por enquanto, as fotos ficam aqui. — pus a câmera por cima das minhas pernas.

— Faça como preferir. — ela se encostou numa almofada e suspirou.

— Vivi. — chamei sua atenção.

— Oi. — a garota respondeu, baixo.

— Desculpa de novo, por... — não consegui dizer exatamente, mas espero que ela tenha entendido.

— Cê tinha que me lembrar, né? — ela revirou os olhos.

— Então tinha esquecido?

— Às vezes, sim. Mas foi algo muito ruim pra deletar totalmente da minha memória.

— Você sente falta do que éramos antes daquilo?

— Como assim? — Vivi me olhou confusa, e eu cogitei que ela estivesse fazendo isso pra enrolar.

— Apesar de tudo, a gente se divertia juntas. — um silêncio se instalou em seguida. — Lembra quando você me maquiou aquela vez, na minha casa?

— Sei, pra imitar as fotos de uma cantora. Quem era, mesmo?

— Não lembro, mas também não importa. A gente riu tanto quando você errou o delineado... — gargalhei e ela acompanhou, mas não tão animada quanto eu.

— Eu não era muito boa com maquiagem. Ainda não sou, mas melhorei bastante. — ela mordeu o lábio, parecia estar lembrando dos detalhes daquele dia.

— Pintar unha você sabia. — mudo de posição, ficando de frente pra ela, que continua de lado.

— Mas isso é fácil. Não é?

— Depende. Quase sempre eu erro, quando pinto as minhas. — falei sorrindo de lado.

— É, eu lembro. — ela me olhou e riu também.

Pensei em pedir desculpa de novo, perguntar se tudo podia ficar bem. De novo. Nunca quis tanto me acertar com alguém, e não pra reviver momentos antigos, mas sim construir novos.

Viviane é muito legal, eu sei disso. Mal posso imaginar as inseguranças que ela adquiriu depois do que eu fiz, mas quero que ela volte à confiar em mim. De um jeito ou de outro.

Consigo sentir aquela euforia de antigamente, ao vê-la assim tão perto. Ouso dizer que é ainda maior, porém bastante confuso de identificar. Talvez o poder e a força de uma grande amizade?

— Posso pintar suas unhas? — pergunto extasiada.

— À essa hora, Gabriela? — a miss simpatia resmungou, e eu fiz um bico. — É bom sentir o geladinho do esmalte nas unhas, mas não quero ficar parada esperando você acabar.

— Então vamo fazer assim: eu pinto uma mão sua, depois você pinta uma mão minha.

— Suas mãos já tão pintadas. — ela disse, reparando.

— Já enjoei dessa cor. — dou de ombros. — Vou buscar tudo. Já volto. — levantei rapidamente.

E assim passamos boa parte da madrugada. Juntas, uma pintando as unhas da outra, conversando sobre qualquer coisa que não nos lembre a merda que eu fiz no passado. Eu tô muito feliz com essa evolução.

Acho que feliz até demais.

borboletas [gabi cattuzzo]Onde histórias criam vida. Descubra agora