parte 11

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ponto de vista: gabi

Vivi se jogou na beliche de baixo assim que os homens que montaram tudo foram embora. Bufei de braços cruzados, na porta do quarto.

— Patético... — pensei alto.

— Inveja? — ela perguntou com deboche, sua mão apoiada na cabeça. — Eu escolhi primeiro, lide com isso, amiga.

— Claro que não. E para de me chamar assim, tá? — fui até o armário e separei um vestido que gosto muito.

— Pode deixar. — ela deixou o quarto e eu senti um incômodo por ela não ter perguntado se eu iria sair.

Eu nem sei mais se vou, aliás. Falei com meus amigos por telefone hoje cedo, eles disseram que estavam cansados. Quem sabe a Triz aceite, se eu insistir um pouco?

Pego meu celular e ligo pra ela.

— Oi, Gabi. De boa? — ela atende.

— Mais ou menos. Você tá livre, agora?

— Tô sim. Tinha planejado ficar em casa, hoje. Mas pode falar, você tem alguma ideia?

— ...Quer vir aqui? — perguntei com incerteza, não sei se é uma boa ideia, mas tentei.

— Tem certeza? — ela riu. — Não me entenda mal, eu adoraria, mas é que cê pareceu meio insegura.

— É...eu posso jantar aí, então?

— Claro. Vou te esperar.

Coloquei o vestido separado e fiz uma maquiagem leve em frente ao espelho. Passo na cozinha pra beber água e encontro Samira lá.

— Vai sair? — ela pergunta, naturalmente.

— Sim, vou jantar numa amiga. Tô bonita?

— Tá linda, Gabi. Adorei esse vestido. — ela sorriu enquanto eu enchia um copo com água.

— Tô indo. Beijo. — me despeço colocando o objeto vazio dentro da pia.

Peço um Uber e em pouco tempo ele chega. Passei o percurso ouvindo música de fone, o vidro do banco de trás aberto, o vento batendo no meu cabelo. Finalmente no prédio da Triz, ela abre a porta e me abraça.

Conversamos um pouco na sala e quando bate a fome, vamos até a cozinha e ela tira uma torta de frango congelada do freezer.

— Hoje não tô afim de cozinhar, espero que me entenda, Gabizinha... — ela riu, abrindo a caixa e lendo as instruções.

— Claro que entendo, doida. — balancei a cabeça, me sentindo em casa.

Depois de assar a torta, nos servimos e levamos a comida pro quarto. Sentadas em cima da cama, saboreando o recheio quentinho, o vinho, e conversando. Eu enrolei pra falar sobre certo assunto, creio que minha amiga percebeu, mas acho que tá na hora.

— Triz... — eu chamei sua atenção, num tom inocente.

— Eu? — ela me olhou com cumplicidade.

— Você acha que é possível duas amigas que passaram um tempo separadas, voltarem à se falar normalmente? Tipo, sem uma quase matar a outra?

— Depende. O que fez elas se separarem?

— Uma coisa que uma delas fez. Algo ruim, imaturo e nem um pouco leal. — eu mexia meu garfo no prato, sem coragem de olhar nos olhos dela.

— Gabriela, o que você fez? — Triz arregalou os olhos.

— Ai, tá! — exclamei, aceitando que teria que me abrir. — A minha colega de quarto é minha ex amiga. Nós éramos bem próximas no fundamental, mas aí... — contei tudo, sem poupar detalhes.

— Nossa, Gabi...

— Eu sei, foi uma atitude muito infeliz. Mas eu me arrependo e já pedi desculpa pra ela. Mas a Vivi só me odeia cada dia mais!

— Vivi? — ela perguntou, estreitando os olhos. — Acho que não tem muito o que fazer, se ela realmente não quer te perdoar. Bola pra frente.

— Mas é impossível, Triz. A gente divide o quarto, a casa, o banheiro, tudo! Às vezes eu odeio ela tanto quanto ela me odeia, mas tem horas que eu imagino como seria legal se voltássemos à nos gostar. Como amigas, eu digo...

— Você trata ela da mesma forma que ela te trata?

— Mais ou menos. Não sei, direito. Que merda! Isso tá me consumindo... — bati com minha mão na testa, perplexa.

— Acho que pode ter um jeito de tentar melhorar as coisas. Pelo menos um pouco. Quer saber?

— Quero. — eu disse com pressa.

— Vai tratando ela extremamente bem. Ela vai acabar cansando de brigar sozinha e vai retribuir a sua gentileza. — Triz dá a "solução".

— Será? Mas é que é automático, eu fico atentada em provocar ela. Isso é mal pra caralho. Preciso reformular meu caráter. — brinquei, e nós rimos.

— Hm... — ela emite esse som, que eu não faço ideia do que significa.

— Que foi? — dei de ombros.

— Nada. Mas faz o que eu tô dizendo. Se não der resultado, a gente pensa em algo mais eficaz. Porque deve ser um porre conviver com alguém que não nos damos bem.

— Tá bom. — beberico o vinho e depois de um tempo o assunto mudou.

borboletas [gabi cattuzzo]Onde histórias criam vida. Descubra agora