parte 8

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ponto de vista: gabi

Depois da ligação inesperada e extremamente esquisita de Samira, eu fiquei pasma. No início achei que fosse brincadeira, ou um trote, por parte da Vivi. Ela tá tão puta comigo que eu não sei do que é capaz. Só que a Samira não tem cara de quem participa de algo assim, ela é de boa e tranquila.

Tinha acabado de finalizar uma live, estava vendo as atualizações no Twitter quando aconteceu. Peguei minha bolsa e minhas chaves, quando passei pelo quarto da Triz, na hora ela saiu da cama e veio até mim.

— Aconteceu alguma coisa? — ela perguntou, preocupada com o meu estado.

— Depois te explico. Tem a ver com umas meninas da pensão onde eu moro. — eu disse girando a maçaneta da porta. — Beijo.

Na correria, acabei não falando, mas eu não faço mais minhas lives em casa. Até porque agora minha casa é outra, e não tem espaço o bastante. Passei umas dificuldades por conta de dinheiro e tive que optar por algo mais fácil, prático e barato.

Triz é minha amiga e parceira. Ela ofereceu seu estúdio pra eu fazer stream pelo tempo que fosse necessário. Agradeço muito à ela por isso.

Eu não contei sobre a Vivi, ainda. Tenho vergonha daquela estupidez que fiz na oitava série, então não é algo que eu saio facilmente contando pra todo mundo. Por anos, tentei esquecer. Fingir que minha ex melhor amiga tinha me perdoado, mas agora tudo veio de repente.

É chato saber que ela guarda rancor. Mas também, ela tá impossível. Não sei explicar o incômodo que Viviane me causa, é algo absurdo. Eu cheguei à achar satisfatório deixar ela irritada.

Preciso de terapia, urgentemente.

Tava com tanta pressa que nem cogitei pedir um Uber ou ir de ônibus, mesmo. Caminhei em passos longos até passar pelo shopping e enfim, chegar ao bendito bar.

Assim que entrei, as duas me olharam e levantaram da mesa em que estavam sentadas.

— Gabi! — elas me abraçaram fortemente. — Que saudade, veio salvar a gente? — Samira riu, e eu senti seu hálito forte.

— Acho que sim, né? Pelo jeito, o passeio foi ótimo. Quem me dera estar fedendo e embriagada assim, como vocês. — eu disse, com ironia.

Elas nem perceberam. Continuaram sorrindo igual duas tontas. Reparei na maquiagem preta borrada de Vivi, sua saia apertada e seus coturnos grandes. Ela me olhou com simpatia, por um momento pensei que fôssemos amigas de novo.

— Eu quero ir embora. Cansei desse shopping. Muito mais ou menos... — ela falou bamba, mexendo no cabelo.

— Aqui é o bar, sua monga, a gente já foi no shopping! — Samira rebateu.

— É mesmo! — elas gargalharam altamente, e eu arregalei os olhos.

— Bom, vamo indo, né? — eu segurei na mão das duas para guiá-las, mas um garçom veio até nós.

— Ei, falta um detalhe, mocinhas. O pagamento. Vocês beberam mais do que todos aqueles velhos barrigudos ali... — o moço fez uma careta ao perceber que falou mais do que devia.

— Quanto ficou tudo? — eu me prontifico à pagar. Ele disse o valor e eu paguei com dor no coração.

Elas beberam pra caralho!

Fiz as meninas sentarem na calçada, já que estavam em desequilíbrio, e chamei um Uber pelo meu celular. Em uns minutos ele chegou e nós entramos com dificuldade.

De volta em casa, as mais velhas nos receberam.

— Meu Deus, o que aconteceu?! — Manu ficou bem assustada.

— Ai, me ajudem...! — eu implorei, tendo que aguentar o peso do corpo de Samira no meu ombro.

Laura à puxou delicadamente e deitou a garota no sofá. Eu me esforcei pra conseguir sentar Vivi na poltrona e acabei conseguindo. Suspirei ofegante, e elas continuavam à perguntar o que houve.

— Essas duas não tem jeito. Nunca fizeram isso antes! Que a gente saiba, né... — Manu comentou depois que eu contei.

— Melhor levar elas pro quarto, oferecer um café ou um chá...

— Tomar banho. — Manu acrescentou.

— O quê? Vai ser impossível dar banho nessas duas assim. Melhor elas só descansarem, mesmo. Aí, ó! Tão quase dormindo. Gabi, você pode levar a Vivi pro quarto?

— Eu? Mas... — perdi as palavras, mas eu só precisava falar que já tinha feito o bastante pra Viviane hoje. — Tá bom.

Fui até a poltrona e coloquei o braço da morena em volta dos meus ombros. Mesmo quase inconsciente, ela ainda deu alguns passos e subiu uns degraus da escada.

Chegando no quarto, ela ficou mais ativa instantaneamente.

— Sai, eu não gosto de você. — Vivi saiu de perto de mim.

— Relaxa, só tô fazendo isso porque me pediram. Também não simpatizo com você. Pelo menos, não mais. — desabafei sem querer.

— Você nem tem motivo pra isso. Quem arruinou a nossa amizade foi você!

— Mas que merda, você nunca vai esquecer isso?! Desculpa, tá?! Satisfeita?!

— Não! Satisfeita eu estaria se você sumisse da minha visão, assim, que nem esse papel! — ela jogou um papel amassado pela janela.

— Quer saber? Eu não vou discutir com você nesse estado! Eu sou madura, diferente de você, que só pensa no passado e não vive de verdade!

— Nossa, ai, falou a adulta! — Vivi gargalhou. — Continua a mesma de sempre, né Gabriela? Se achando mais que os outros, sendo a única certa da história, né?! Pois saiba que voc...Ai! — ela foi dar um passo em minha direção e acabou tropeçando enquanto falava.

— Tá vendo? Não consegue nem ficar em pé direito e quer falar alguma coisa? Vai, se apoia em mim. — vou até ela e à levanto do chão.

— Eu não pedi sua ajuda. — ela disse em pausas.

— Mas precisa. — nos encaramos por um segundo, até que ela finalmente cede.

Consigo deita-la na cama e ela faz uma careta, como se quisesse chorar.

— Sua insuportável... — pensei alto, me dando conta de que falaria sozinha até mesmo se ela estivesse sóbria.

borboletas [gabi cattuzzo]Onde histórias criam vida. Descubra agora