parte 17

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ponto de vista: gabi

Voltamos pra pensão ontem no fim da tarde, mas só desfiz minha mala hoje quando acordei. Essa geralmente é a pior parte de viajar, mas nesse caso, as coisas mudaram um pouco. A pior parte tá sendo conviver com a minha ex amiga. Mas tudo bem.

Se a Viviane quer que fiquemos nessa disputa de antagonismo idiota, é assim que vai ser.

Obviamente todo mundo percebeu nossas caras de incômodo desde que discutimos na cozinha da casa de praia. Pelo jeito, a ideia da Triz não deu certo. Cansei de dar uma de boazinha e tratar bem quem não me retribui da mesma forma. Talvez a culpa seja minha, mas eu não ligo.

— Então, vai vir aqui hoje? — Triz perguntou ao telefone.

Eu, com meu celular entre o ombro e a orelha, tento abrir meu creme facial.

— Não sei. Não tô muito afim de fazer live, agora. — falei com dificuldade.

— Você e a tal Viviane ainda estão de birra? — ela riu.

— Triz, isso não tem graça nenhuma! — acabei me irritando de repente.

— Desculpa. — minha amiga falou, ainda dando risada. — É que é um pouco ridículo.

— E eu não sei? Por isso tô ignorando. Tenho mais com que me preocupar. — finalmente consigo abrir o creme, então coloco a ligação no viva-voz e começo à espalhar o produto na minha pele do rosto.

— Tipo o quê?

— Tipo...eu mesma. Quero aproveitar a vida. Conhecer gente nova, ir à festas, sei lá.

— Dar umas beijocas? — Triz gargalhou.

— Pode ser. — respondi com incerteza.

Faz tempo que eu não namoro ou fico com alguém. E pra ser sincera, isso não me fez a menor falta. Me pergunto se caso eu decida entrar nessa de novo, minha forma de pensar mudará.

— Eu ainda nem conheci essa pensão que você mora.

— Você é bem-vinda quando quiser vir. — falei fechando o pote de creme e me olhando no espelho.

— Então posso?

— Lógico. Por que não vem amanhã? A gente passa o dia todo juntas, você conhece as meninas.

— Adoraria. Fiquei curiosa.

— Então perfeito. — sorri, não pensando direito no que aquilo poderia significar.

Não posso criar expectativas, de qualquer forma.

Saio do banheiro e tem uma fila aguardando.

— Aleluia! — uma das meninas diz, impaciente.

— Não sabia que vocês queriam entrar, desculpa. — eu disse, envergonhada.

— A gente bateu várias vezes. — outra falou.

— Eu tava no telefone. — mostrei o aparelho à elas.

— Tá, agora licença? — elas me apressaram e eu fui em direção ao meu quarto.

Chegando nele, encontro Viviane deitada, lendo alguma coisa. Ela percebe minha presença, então vira seu corpo pro lado da parede. Vou até o espelho e começo à pentear meu cabelo com as mãos, mesmo. De vez em quando olho pro lado, checando se ela dá uma espiada, mas não.

Droga, por que eu tô assim?

— Meninas... — Samira aparece na porta.

— Oi. — eu disse levemente empolgada, talvez surgisse uma notícia boa.

— Fala, Sami. — Vivi baixou o livro e prestou atenção na amiga.

— Vocês topam um boliche hoje? — Samira lançou um olhar divertido. — Já chamei todo mundo, mas ninguém quis. Aceitem, por favor!

— Lógico que eu topo. — Viviane disse, sentando-se.

— Eu também, mas podemos adiar pra amanhã? Minha amiga vai passar o dia aqui, acho que ela ia adorar. — eu falei.

— Tudo bem. — Samira concordou. — Vivi?

— Tá, tanto faz. — a morena fez uma cara como se estivesse controlando a boca.

Eu à fitei por longos segundos, até que ela acabou se dando conta disso.

— Não vai reclamar, como sempre? — provoquei.

— Até faria, mas se é o que você espera de mim, vou ficar de boquinha fechada. — Viviane sorriu e levantou as sobrancelhas rapidamente.

— Claro, porque você adora me contrariar. — sorri de volta, tão sarcástica quanto ela.

— Uau, a princesinha descobriu a América. Meus parabéns! — ela começou à bater palmas, e eu revirei os olhos.

— Gente, menos. — Samira falou e eu me assustei, porque já tava quase esquecendo que ela continuava ali. — Qual o nome da sua amiga, Gabi?

— Todo mundo chama ela de Triz.

— Gostei. Aliás, acho que já ouvi esse nome antes. — Samira tentou se recordar.

— Ela faz live na Twitch, também.

— É aquela de franjinha e olho azul? — Samira arregalou os olhos, como se estivesse falando de uma deusa grega.

— Sim, essa mesma. — sorri.

— Mal posso esperar pra conhecê-la. — ela saiu do quarto saltitando.

— É, a Triz é bonita, mesmo. — Viviane comentou, quase como se falasse sozinha.

— Você conhece ela? — perguntei, ríspida.

— Será que conheço? — ela fez uma cara dramática.

— Idiota. — resmunguei, caminhando até a saída.

— Vê se lava essa cara, Smurfette! — a garota gritou e eu coloquei as mãos no rosto, azul por conta do creme.

Como ela é insuportável!

borboletas [gabi cattuzzo]Onde histórias criam vida. Descubra agora