parte 9

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ponto de vista: gabi

Acordei com meu celular tocando. Ao ver no horário que já passa de meio dia, me sinto uma adolescente de novo. O barulho fez Vivi despertar também, mas logo depois dela ter se mexido, voltou à dormir.

— Oi, Triz. — atendi com a voz rouca de sono.

— Oi, você nem deu notícias. Ficou tudo bem com as meninas da pensão? — minha amiga perguntou, e eu à imaginei preparando um café.

— Digamos que sim. Elas tavam bêbadas e eu trouxe as duas pra cá. Agora tá tudo bem.

Espero que esteja, pelo menos.

— Entendi. Bom domingo, Gabi! — Triz se despediu carinhosamente.

— Bom domingo! — disse de volta e nós desligamos.

Mudei de posição, ficando de barriga pra cima. Encaro o teto, imaginando que o dia vai ser longo. Talvez surjam perguntas sobre a noite passada, por parte de todo mundo.

Fico de pé e observo a morena dormir profundamente. Ela continua fedendo, mas parece bem calma. Engano meu, possivelmente. Me aproximo pra checar se ela tá respirando direito, pois já vi umas notícias horríveis sobre crises/convulsões pós bebedeira.

Só me dei conta que cheguei perto demais quando Vivi do nada abriu os olhos e se assustou comigo. Nós duas gritamos, como se tivéssemos visto um demônio.

— Que porra tava fazendo?! — ela suspira ofegante com a mão no peito.

— Eu só...Quem me assustou foi você! Precisava gritar assim?! — distorci um pouco as coisas.

Ela na certa se acharia, ou duvidaria se eu contasse que estava de fato preocupada.

— Claro que precisava! Meu Deus, Gabriela...! — a garota sentou na cama e pôs a mão na cabeça. — Ai, eu tô morta...

— Quem dera. Você só tá de ressaca, mesmo. — eu falei, dobrando meu cobertor.

— Ah, eu tô lembrando. — ela deu risada, mas logo voltou com a expressão de cansaço.

— Pois é.

— Por que tá falando comigo, mesmo? — Vivi franziu a testa e eu revirei os olhos.

Saio do quarto com minha escova de dentes e vou direto pro banheiro, aborrecida. Como tava ocupado, eu fiquei na porta, esperando. Em uns minutos, Samira saiu e me olhou querendo sorrir. Mas pela cara dela, não conseguia nem mexer os dedos direito.

— Tudo bem? — eu pergunto.

— Tudo. Brigada por ontem, Gabi. E desculpa se a gente te deu muito trabalho. — ela disse, numa voz molenga.

— De boa.

Tive vontade de cobrar o dinheiro que gastei no bar, ontem, mas achei melhor esquecer isso.

— A Vivi acordou? — Samira questionou.

— Acordou. Vai lá e vê se coloca juízo na cabeça dela, porque aquela menina é insuportável. — dei umas batidinhas nas costas dela antes de adentrar o banheiro.

Após fazer minha higiene e almoçar sozinha na mesa, decido ir até o quarto de Laura.

— Laura? — chamei por ela.

— Oi Gabi, tudo bem? — ela perguntou enquanto penteava o cabelo de Fabiana.

Henrique estava sentado no chão, fazendo um dever da escola.

— ...Tudo. — ao ver que ela tá ocupada, desisto de perguntar se poderia mostrar como funciona a Twitch agora.

— Quer alguma coisa? — ela disse ao notar meu silêncio.

— Não. Só vim te dar oi, mesmo. Até depois.

— Até, querida.

Passei pelos outros quartos, mas todas estão fazendo alguma coisa. Me senti um pouco perdida, andando pra lá e pra lá sem ter um destino exato. Vou até a sala e vejo Samira e Vivi, cada uma sentada numa poltrona, detonadas.

— Oi de novo, Gabi. Tá perdida? — Samira pergunta, quando eu me acomodo no braço do sofá.

— Pra ser sincera, sim. Hoje é domingo e não tem nada de interessante acontecendo, né?

— Pior que sim. — ela olha de um jeito esquisito pra Vivi, como se à convencesse de falar alguma coisa.

Acabo olhando pra garota também, e ela resmunga algo baixinho.

— Gabriela. — ela pronuncia meu nome, e eu arregalo os olhos.

O que vai ser, dessa vez?

— Sim? — eu perguntei, minha voz meio trêmula.

— Brigada por ontem. — Viviane diz rapidamente, e eu rio.

— De nada. Mas não se force à ser legal. Só quero esquecer a noite passada, pra sempre.

— Digo o mesmo. — ela responde.

— Gabi, posso ver uma live sua? — Samira muda de assunto.

— Pode, claro. — aceitei na hora, tá aí algo bom pra ocupar o tempo. — Vocês tem um computador ou querem ver pelo celular, mesmo?

— Pode ser pelo celular. Tô bem curiosa.

Sentamos lado à lado no sofá e eu escolhi minha live favorita. Vivi ficou nos ignorando, ainda na poltrona.

— Não quer assistir? — olhei-a por cima do aparelho.

— Não. — ela saiu com as mãos nas costas.

— Ela tá parecendo uma velha rabugenta de sessenta anos. — comentei com Samira, e ela riu.

Porém um segundo depois, Viviane se pôs com a cabeça entre nós duas, nos assustando.

— Vai aproveitando que eu tô num dia ruim, vai...Mas não me teste amanhã. — ela sussurrou agressivamente no meu ouvido.

— Aproveite sua ressaca. — eu à observei caminhar lentamente, com um sorriso irônico.

borboletas [gabi cattuzzo]Onde histórias criam vida. Descubra agora