parte 21

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ponto de vista: vivi

Valentina não olhou na minha cara desde que chegou. Tudo bem, nunca fomos as melhores amigas do mundo, mas não responder um simples "boa tarde" é demais.

— Atende, que eu vou no banheiro. — ela disse quando o telefone da floricultura tocou duas vezes.

Suspirei e atendi.

— Alô. — nem lembrei de falar roboticamente, como o seu Ronaldo pedia.

— Oi, vocês estão abertos hoje? — ouço a voz de uma moça do outro lado da linha.

— Sim, até as seis e meia. — respondi.

— Eu queria comprar um buquê de rosas brancas pra minha amiga.

— Ok, tem ideia da quantidade de rosas que quer?

— Meia dúzia tá bom, eu acho.

— Vai encomendar? — preparei o bloco de notas pra anotar as informações.

— Não. Melhor eu ir aí diretamente. Espera um segundo...

Eu esperei, e de repente Gabriela apareceu na porta, fazendo uma pose engraçada e com seu celular na orelha. Abri minha boca, à procura das perguntas certas, mas não consegui falar nada.

Coloquei o telefone em seu lugar, e ela se aproximou do balcão.

— Deu pra passar trote, agora? — brinquei.

— Trote? Não sei do que você tá falando. Eu só vim mesmo comprar um buquê. — a garota olhou em volta do lugar.

— Ah, é? E pra quem? — entro na onda.

— Pra Triz. O aniversário dela é amanhã.

— Não sabia.

— Então, vai preparar o buquê ou não? — ela levantou as sobrancelhas.

— Só porque eu gosto bastante da Triz. E do meu salário contadinho no fim do mês... — comentei, fazendo-a rir.

Preparei o buquê de rosas brancas e ainda adicionei um cartão pequeno. Depois de pagar, Gabriela escreveu um recado nele e nós colamos na embalagem.

— Gostei. — ela falou com o presente em mãos.

Nos últimos dias, nossa relação deu uma considerável melhorada. A gente ainda implica uma com a outra, mas também temos nossos momentos de paz. Como agora.

— Talvez eu compre um presente pra ela, também.

Assim que eu terminei de falar, Valentina retorna e fica em silêncio.

— Tipo o quê? — Gabriela perguntou.

— Não sei. Um colar, uma pulseira...

— Melhor decidir logo, pra entregar na comemoração que vai ter na casa dela.

— Então vai ter comemoração?

— Vai, você tá convidada. Samira também.

— E a Triz sabe disso? — provoquei.

— Sabe, foi ela que mencionou a Samira.

— Só a Samira? E eu? — coloco a mão no peito, fingindo ofensa.

— Ela achou que a gente estivesse brigada, por isso. Mas como não é verdade, você pode ir. — Gabriela sorriu meio envergonhada.

— Entendi. — eu disse, alongando a palavra em tom de desconfiança e malícia.

— Chega de conversinha, né Viviane? Você tá aqui pra trabalhar. — Valentina me olhou com ódio.

Pude ver Gabriela arregalar os olhos.

— Ô, sua azeda. Ela é uma cliente. — rebati.

— Tá mais pra sua peguete, isso sim. — ela resmungou, totalmente ríspida, como se eu tivesse arruinado todos os sonhos dela.

— Mano... — a de olhos azuis desviou o olhar, parecia mais envergonhada que antes. — Melhor eu ir. A gente marca melhor, depois.

— Certo. — respondi e ela se foi. — Valeu por isso, Valentina. — olho pra minha colega de trabalho.

— O quê? Você tava quase comendo a menina com os olhos, e agora a culpa é minha?

— Eu? Mas que absurdo! Você tá louca? — exagerei na hora de negar. Eu podia ter dito um "não".

Agora ela só ficou mais convencida do que disse.

borboletas [gabi cattuzzo]Onde histórias criam vida. Descubra agora