parte 6.

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Gabriel era um bom ouvinte, mas ele também falava horrores. Desde que entrei em seu apartamento, não sobrou tempo pra ficar entediada, e o silêncio nem cogitou em aparecer.

Fiquei grata por isso.

— Eu falei sério. Até comentei com a Isadora, mas ela não gostou muito da ideia. — ele disse, se referindo à ideia de soltar o pássaro do Nado.

— Claro, ela não gosta de nada. Mas que é um plano arriscado, é. Aquele cara não desgruda da gaiola. — me aconcheguei nas almofadas do sofá.

— Pra tudo se dá um jeito, Rosa. Imagina se fosse você lá, presa e dependente. Seria péssimo, né? — ele se senta ao meu lado com mais um copo de coca.

— É. Seria sim. — respondi refletindo, é meio que assim como me sinto.

Claro, de uma maneira mais metafórica.

— E viajar? Você já viajou? — o garoto mordeu um pouco da sua fatia e eu beberiquei o meu refrigerante.

— Já. Pro nordeste, quando eu era criança. Mas não lembro bem, então não sei se conta.

— É, pensando por esse lado.

— E você? — o fitei, imaginando ele respondendo totalmente o contrário.

— Já sim. Pra alguns lugares. — Gabriel lançou um sorriso de satisfação, e eu revirei os olhos.

— Jura?

— Tá bom, vou falar a verdade. Se viajei duas vezes foi muito. — ele gargalhou. — Mas eu pretendo.

— Entendi. Bom, deve ser fácil decidir algo assim quando se vive sozinho.

— Eu não vivo sozinho. Tô aqui com você, não tô?

— Mas você mora nesse apartamento sozinho. Ou tem mais alguém e eu tô enganada?

— Você não tá enganada. Mas olha, deve ser bem melhor ter companhia pra brigar pelo banheiro, pelo menos. — sorriu e eu virei o rosto.

— Não é tão legal assim, não. — suspirei.

— É por causa da sua irmã? — uau, ele foi bem direto agora.

— Oi? — a palavra saiu sozinha.

— Pelo jeito vocês se odeiam, né? — Gabriel pôs os braços no encosto atrás de si mesmo.

— Eu não odeio a mi-

— Rosa, pode falar. Eu não sou tão distraído à ponto de não perceber.

— Se quer que eu te conte toda a história, vai esperar sentado. — cruzei as pernas, decidida.

— Tá bom, não precisa me contar. Só me fala como vocês conseguem conviver assim. — ele levantou as mãos em rendição.

— Não conseguimos. — sorri pensando no quão patético tudo isso era. — É só provocação pra lá e pra cá, uma disputando com a outra...

— Vocês chegaram à brigar por minha causa? Por conta daquele jantar?

— Foi como eu esperava, mas não brigamos realmente. Melhor cê se preparar, porque ela vai te importunar todo dia. — falei num tom de piada, mas foi bem sério.

— Já fiz amizades aqui mesmo acabando de me mudar, eu não me importo de ser importunado.

— Ok, se você diz... — levantei as sobrancelhas rapidamente, impactada com a postura dele.

Como alguém pode ser tão...pra cima, assim?

coração inválido [mount]Onde histórias criam vida. Descubra agora