— Não acredito que concordei com isso. — comentei em risos quando nos sentamos à beira da piscina.
— Já se arrependeu? — Gabriel perguntou, franzindo a testa.
— Não. É que... — procuro o argumento certo. — Como vamos fazer? Você ainda não disse.
— Vai ser mais fácil do que você pensa.
— Tudo é fácil pra você, né? — provoquei.
— Não. Nem tudo. — ele virou a cara. — Primeiro temos que esperar o Nado ir pra praça, como todas as tardes.
— Tá bom. — respirei fundo, ficando mais tranquila. — Gabriel...
— Oi.
— E se o pássaro for a única companhia daquele homem? Vamos acabar destruindo a vida dele. Já pensou nisso?
— ...Não. — ele mordeu o lábio, reflexivo. — Você conhece ele há mais tempo. Não sabe de nada?
— Não. Eu não "conheço" ele. Só de longe.
— E nunca procurou saber? — o garoto me encarou curioso e eu lancei um olhar impaciente. — Já entendi. — Gabriel riu. — Vamo fazer o seguinte, então. A gente segue ele e observa.
— Certo.
Aguardamos por uns vinte minutos, até que enfim vimos o velho passar de longe com a gaiola. Sério e indiferente, como todas as outras vezes que já reparei em sua presença.
Levantamos e o seguimos discretamente. Chegando na praça, Nado foi até um banco e se acomodou com seu pássaro. Ele tirou uma cartela de cigarro do bolso, juntamente com um isqueiro.
— É, ele não parece muito feliz... — disse encostada num poste, ao lado do rapaz de olhos azuis.
— Alguém já me disse que toda pessoa solitária que cria um bicho assim, acaba conversando com ele. — Gabriel disse, de braços cruzados.
— Até mesmo em público? — o olho, ele balança a cabeça em afirmativo. — Talvez não seja uma boa ideia.
— Rosa, você não se vê naquele pobre animalzinho?
— Como assim? — murmurei, entendendo onde ele queria chegar.
— Presa, com várias oportunidades bem na sua frente, mas sem chance alguma de alcançá-las.
— ...Talvez. — me entristeço instantaneamente. Ele segura minha mão de forma delicada. — Você apelou! — exclamei, levemente aborrecida.
— Nada disso. Eu só expliquei de uma maneira que você entendesse. — ele levantou as mãos em rendição, não parecia me levar à sério.
— É a mesma coisa. — dei de ombros. — Qual o plano?
— Você distrai ele, e eu abro a gaiola.
— Quê? — perguntei mais alto do que pretendia. — O que eu faço?
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coração inválido [mount]
Hayran Kurguonde rosalinda gosta de escrever e gabriel gosta de viver.