parte 30.

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— Não acredito que concordei com isso. — comentei em risos quando nos sentamos à beira da piscina.

— Já se arrependeu? — Gabriel perguntou, franzindo a testa.

— Não. É que... — procuro o argumento certo. — Como vamos fazer? Você ainda não disse.

— Vai ser mais fácil do que você pensa.

— Tudo é fácil pra você, né? — provoquei.

— Não. Nem tudo. — ele virou a cara. — Primeiro temos que esperar o Nado ir pra praça, como todas as tardes.

— Tá bom. — respirei fundo, ficando mais tranquila. — Gabriel...

— Oi.

— E se o pássaro for a única companhia daquele homem? Vamos acabar destruindo a vida dele. Já pensou nisso?

— ...Não. — ele mordeu o lábio, reflexivo. — Você conhece ele há mais tempo. Não sabe de nada?

— Não. Eu não "conheço" ele. Só de longe.

— E nunca procurou saber? — o garoto me encarou curioso e eu lancei um olhar impaciente. — Já entendi. — Gabriel riu. — Vamo fazer o seguinte, então. A gente segue ele e observa.

— Certo.

Aguardamos por uns vinte minutos, até que enfim vimos o velho passar de longe com a gaiola. Sério e indiferente, como todas as outras vezes que já reparei em sua presença.

Levantamos e o seguimos discretamente. Chegando na praça, Nado foi até um banco e se acomodou com seu pássaro. Ele tirou uma cartela de cigarro do bolso, juntamente com um isqueiro.

— É, ele não parece muito feliz... — disse encostada num poste, ao lado do rapaz de olhos azuis.

— Alguém já me disse que toda pessoa solitária que cria um bicho assim, acaba conversando com ele. — Gabriel disse, de braços cruzados.

— Até mesmo em público? — o olho, ele balança a cabeça em afirmativo. — Talvez não seja uma boa ideia.

— Rosa, você não se vê naquele pobre animalzinho?

— Como assim? — murmurei, entendendo onde ele queria chegar.

— Presa, com várias oportunidades bem na sua frente, mas sem chance alguma de alcançá-las.

— ...Talvez. — me entristeço instantaneamente. Ele segura minha mão de forma delicada. — Você apelou! — exclamei, levemente aborrecida.

— Nada disso. Eu só expliquei de uma maneira que você entendesse. — ele levantou as mãos em rendição, não parecia me levar à sério.

— É a mesma coisa. — dei de ombros. — Qual o plano?

— Você distrai ele, e eu abro a gaiola.

— Quê? — perguntei mais alto do que pretendia. — O que eu faço?

coração inválido [mount]Onde histórias criam vida. Descubra agora