parte 36.

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— Pronto. É o único caderno todo em branco que eu tenho. — Gabriel apareceu na sala com isso em mãos.

— Brigada. — agradeci ao pegar o objeto devagar, fazendo nossas mãos deslizarem uma na outra. — Vamos ver, por onde eu começo...?

Estiquei as pernas pra ficar confortável e pus o caderno por cima das minhas coxas. Tentei decidir mentalmente se usaria o lápis ou a caneta primeiro.

— Se quiser ajuda, é só falar. — ele sentou ao meu lado e ficou acariciando minha nuca.

— Eu quero. Tô muito perdida. Parece que não escrevo há anos. — ri de nervoso.

— Mas você tem alguma ideia?

— Acho que sim.

— Então só põe no papel, depois que reler tudo, a gente pensa numa definição.

— Tem razão. — olho pro rapaz e seus olhos azuis me trazem uma iluminação.

Sem pensar muito, peguei o lápis. Comecei descrevendo uma pessoa, muito bonita por sinal. Alguém com os olhos expressivos, o cabelo macio de cor escura e roupas coloridas.

Depois incluí outros personagens, desenvolvendo a vida de cada um e formando uma história. Ao terminar o que acredito ser um capítulo, percebo que ele não é triste como 99% dos que eu fazia tempos atrás.

— Tá incrível, Rosa. — Gabriel elogiou quando terminamos de reler.

— Já lembrei como era divertido fazer isso. Agora ficou ainda mais, porque você tá aqui comigo. — dei risada, me sentindo renovada.

Ele me olha intensamente antes de me beijar, tão suave quanto uma pluma.

— Linda... — o garoto sussurrou, sua boca à poucos centímetros distante da minha. — Rosalinda, linda Rosa...

— Você ama falar isso, né? — brinco.

— Só um pouco. — ele deu de ombros, juntando nossos lábios novamente.

As coisas esquentam e eu sinto arrepios quando Gabriel leva seus toques à lugares sensíveis. Acabo subindo em seu colo e na medida em que vou retirando minhas peças de roupa, ele permanece me olhando nos olhos.

Sorrindo e admirando o que vê.

Engraçado, não tem muito o que admirar quando se trata da minha pessoa. Mas ele faz tudo parecer diferente, possível, bom...feliz.

As horas passaram e nós preparamos um drinque sem álcool. Não ficou do jeito que deveria, mas resolvi aproveitar que pelo menos tava gostoso. Enchi um copo grande com a bebida e Gabriel pôs dois canudos.

Sentamos próximos e ele enrolou um pouco pra beber.

— Vai logo. Não ficou ruim. — o apressei.

— Eu sei, mas... — o garoto fez uma careta preguiçosa. — Tá bom.

Afastei minha boca do copo e ele juntou as sobrancelhas.

— Que bonitinho, me obedecendo. — provoco.

— Vai tirar sarro? — um sorriso malicioso se formou em seu rosto. — Daqui à pouco não faço mais nada que você pede...

— Aham. — puxei o líquido pelo canudo e o jorrei na cara dele.

Gabriel fechou os olhos e paralisou por uns segundos. Eu me acabei de gargalhar, até que ele tentou fazer o mesmo comigo. Coloquei minhas mãos pra bloquear, mas terminei me sujando também.

Levantei e corri pra outro cômodo. Ele me seguiu, aparentemente esquecendo do drinque e focando apenas na importunação.

coração inválido [mount]Onde histórias criam vida. Descubra agora