parte 35.

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Abri os olhos e me vi num quarto que não era meu, numa cama maior e diferente da minha. Ao me mexer um pouco, senti o corpo do garoto bem próximo.

Dormimos juntos, minha cabeça por cima do peito de Gabriel e seu braço me envolvendo.

Dei um sorriso genuíno.

— Tudo bem? — ele perguntou quando despertou devagar.

— Tudo. — respondo, o abraçando. — Ontem foi...eu passei mal. Desculpa.

— Não peça desculpa, Rosa. Você não tem culpa nenhuma, entendeu? — Gabriel segurou meu rosto, pra que ficássemos cara à cara.

— Entendi. — confirmei, afim de esquecer aquele vexame.

Porém acabo lembrando de outra coisa. Algo mais importante, creio eu.

— O que foi? — ele estranhou quando eu mudei de posição, ficando sentada.

— Eu to bem atrasada, porque passou muito de uma da manhã. — coloco a mão na testa, querendo rir. — Tô fodida.

— É, seus pais não vão gostar nada... — Gabriel balançou a cabeça. — O que vai fazer?

— Nada. Não quero voltar agora.

— Tá falando sério? — ele se aproximou, de olhos levemente arregalados.

— Sim. Vou fazer o que realmente quero. Depois me viro com eles. — dou um sorriso de canto.

— E o que você realmente quer...? — o rapaz arrumou uma mecha do meu cabelo.

— Passar o dia todo com você. Aceita?

— Não tem como eu não aceitar. — ele encostou nossos narizes, posteriormente me dando um selinho. — Mas, olha...

— O quê? — observo Gabriel pegar meu celular.

— Uma ligação. Pra não preocupar ninguém. — estendeu o aparelho pra mim.

— Isso vai preocupar eles ainda mais.

— Não. Vai, Rosa, por favor. Não quero sua família espalhando cartazes de desaparecimento pelo prédio, pra depois te acharem aqui e me acusarem de alguma coisa.

— Cê foi longe agora, hein? Tá com tanto medo, assim? — provoco.

— Medo de te afastarem de mim pra sempre? É, bastante. — ele fez uma cara convencida, e eu finalmente peguei o celular.

Chamou uma, duas, três vezes, nada. Decidi desligar e ligar novamente.

— Rosalinda? — escutei a voz da minha mãe.

— Oi. — tentei não soar aborrecida.

— Onde você se meteu?! Não voltou pra casa até agora!

Ah, mas cê jura?

— O passeio prolongou e como ficou muito tarde, minha amiga pediu pra eu dormir na casa dela. — me surpreendi por ter pensado em algo tão rápido.

— E onde é? Diga, que eu te busco.

— Na verdade, eu volto depois. Ainda hoje, prometo.

— Rosa, minha filha... — ela suspirou. — Fico feliz que esteja vivendo de verdade, depois de muito tempo. Vou aliviar dessa vez, ok? Pelo menos ligou avisando. Tarde, né? Mas ligou.

— Valeu, mãe. — fiz um sinal positivo pra Gabriel.

— Aproveite o dia. E trate de voltar ainda hoje, senão mando seu pai te buscar onde quer que seja!

Imagino ele revirando o bairro inteiro sem se dar conta que eu estou no apartamento da frente.

— Pode deixar, chata. — sussurrei a última parte. — Tchauzinho.

— Tchau.

Após finalizar a chamada e por o celular de lado, relaxo meus ombros e fito o garoto à minha frente.

— E aí? O que faremos primeiro? — ele perguntou, com um olhar divertido.

coração inválido [mount]Onde histórias criam vida. Descubra agora