parte 18.

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— Rosa, você tá aqui? — levantei a cabeça e vi minha irmã adentrar nosso quarto.

— Tô. — respondi, fechando meu caderno.

— Vim pra conversarmos. — ela dobrou sua bengala devagar, posteriormente sentando em sua cama. — Não se preocupe, não é sobre seu drama depressivo de sempre.

— Ah, bom. — disse em sarcasmo.

— O Gabriel se afastou de mim, e eu sei que foi por sua causa.

— Por minha causa? — juntei as sobrancelhas.

— Não se faça de desentendida. Eu sou a cega, óbvio que vou ser a segunda opção. Mas aí é que tá. Somos irmãs, você não devia ser tão egoísta.

— O que quer que eu faça, Isadora? Que eu obrigue o garoto à ser seu amigo?

— Eu quero que você perceba o que tá bem debaixo do seu nariz! — ela suspirou ofegante. — Te conheço muito bem, Rosalinda. Você não gosta de ninguém, de nada. No máximo essa porcaria que escreve o dia inteiro.

— Você não me magoa falando essas merdas. E não, eu não vou me afastar do Gabriel. Pelo menos, não porque você tá pedindo.

— Sério, o que você ganha competindo comigo? — Isadora balançou o rosto em negativo.

— Isso não é uma competição pra mim. Se fosse eu já teria te dito que não foi você que se tornou amiga dele primeiro.

Droga, falei demais.

— Agora disse. — ela sorriu friamente, um silêncio se instalou. — Pensa bem...Você não tem muito à oferecer sendo amiga das pessoas.

— E você tem? — provoquei.

À essa altura já estava aborrecida. Certeza que essa conversa vai permanecer em loop na minha cabeça por dias.

— Eu gosto da vida, eu quero vivê-la. Essa é a diferença entre nós. Mesmo sem enxergar, eu tenho planos e objetivos. Já você-

— Meninas, fiz um lanchinho. Vamos comer? — nossa mãe apareceu, interrompendo a filha mais velha.

— Vamo. — Isadora levantou.

— Eu não tô com fome. — falei, abrindo meu caderno novamente.

— Rosa... — Ivana pronunciou meu nome com preocupação e repreensão ao mesmo tempo.

— A Rosa tem muito o que fazer, mãe. Deixa ela.

Elas saíram do quarto e eu tive vontade de jogar alguma coisa quebrável na parede. Senti as lágrimas descerem quando eu reli uma frase que escrevi outro dia.

"Fingi indiferença, coloquei os fones quebrados e logo em seguida senti que morri por dentro."

Não teve muito a ver com o contexto da vez, mas ainda sim me entristeceu. Ninguém sentiria minha falta se eu fosse embora.

coração inválido [mount]Onde histórias criam vida. Descubra agora