Voltamos pro prédio e eu coloquei o molho na cozinha, depois de comunicar minha mãe. Gabriel deixou suas compras em sua casa e nós descemos novamente. Não fazia ideia do que faríamos, mas estava bem empolgada.
Nunca deixei de escrever pra sair com alguém por vontade própria.
— Se prepara porque à qualquer dia vou te fazer brincar ali comigo. — o garoto disse quando passamos pelo parquinho.
— Mas nem amarrada. — neguei, convencida de que não me submeteria à isso.
— Ah, mas vai se preparando, vai... — ele me olhou sugestivamente quando atravessamos o portão. — Tchau, seu Carlos.
— Tchau, fio. — o senhor respondeu de um jeito gentil mas ao mesmo tempo surpreso.
Andamos por vários minutos e eu não perguntei qual era o destino. Gabriel também não quis me dizer, então eu só fui. Olhei pra minha pele pálida e me senti morta, faz muito tempo que eu não tomo um banho de sol.
— Tudo bem? — ele reparou quando eu parei pra respirar um pouco.
— Tudo. Só é estranho, parece que tá todo mundo me olhando. — olhei pra baixo.
— Nem tá. — Gabriel olhou em volta, e logo bateu os olhos em mim de novo. — Relaxa, Rosa.
— Isso não ajuda muito, mas valeu.
— Tamo quase chegando. Ajudei agora? — ele sorriu e eu levantei a cabeça, o fitando.
— Não. — sorri também, sarcasticamente.
— E se a gente correr? Com certeza as pessoas vão olhar, mas vai ser tão rápido que nem vão lembrar.
— Oi? — pisquei rapidamente, que ideia absurda.
— Tá bom, então não corremos. Vamos sei lá, parar por aqui e-
— É melhor, mesmo. — antes mesmo que eu terminasse de falar, Gabriel puxou minha mão e nós corremos.
De início eu fui obrigada, senão cairia dura no chão, mas depois não me contive e acabei rindo da situação. Tive vontade de bater nele, mas é uma coisa tão estúpida.
Queria que todos os dias fossem assim.
— E aí? — enfim chegamos onde ele pretendia, tem pistas de skate pra todos os lados.
— Deixa só eu vomitar, que já te respondo. — ajeitei a postura, um pouco exausta da corrida.
— Sério? — o rapaz tocou no meu ombro, preocupado.
— Não. — respondi, e ele balançou a cabeça em negativo. — Gabriel, só uma coisinha...
— Diz.
— Eu não sei andar de skate. Aliás, você nem trouxe um. — cocei a nuca.
— Só pedir emprestado. Tá cheio de gente aqui. Vem. — ele foi até um grupo que conversava sentados num banco.
— Gabriel! — grunhi, não tendo ideia de como vou chegar perto dessas pessoas.
Não tive muita escolha, então segui ele. Um garoto que aparentava ser da minha idade pegou um dos vários skates que ali estavam e entregou pro meu amigo.
— Valeu. Vem, Rosa. — ele agradeceu e eu sorri sem graça pro grupo, me sentindo uma criança de cinco anos.
— Deram assim de graça? — perguntei ao ver Gabriel subir no skate.
— Emprestaram, no caso. — ele me corrigiu antes de fazer uma manobra e quase cair. — Merda, já fui melhor nisso. — dei risada e o garoto me olhou. — Pode rir, agora é sua vez.
— Não. — neguei com a cabeça, em desespero.
Porém é difícil dizer não pra ele, o garoto sabe convencer as pessoas.
Subi no skate e Gabriel me deu as mãos. Por um segundo esqueci que haviam outras pessoas ao redor, e me dediquei em aprender.
— Boa. Agora se inclina e arrasta o chão com o pé. — ele deu os comandos, e eu arregalei os olhos, morrendo de medo. — Vai, Rosa, eu tô aqui. Não vai acontecer nada.
— Certeza que eu vou cair. Eu sou uma desengonçada, Gabriel! — resmunguei, criando coragem.
Pra acabar logo com aquilo, fiz o que ele disse, mas não deu muito certo. O skate foi pra uma direção e eu fui pra outra. Gabriel correu pra me acudir e eu comecei à rir sem parar.
— Não foi tão ruim! — ele gargalhou, agachado no chão próximo à mim.
— Foi horrível... — disse, me levantando com sua ajuda.
— Ei, eu era a plateia. Posso dizer com certeza que não foi ruim, pra alguém que tá começando.
— Ah, para. Que queda horrorosa, meu Deus! — coloquei a mão no rosto, voltando à rir.
— Vamo tentar de novo. Ou vai desistir? — Gabriel me olhou intensamente, com um sorriso idiota e chantagista em seu rosto.
— ...Não. Tenho que conseguir fazer alguma coisa, pelo menos.
Ele gesticulou comemorando.
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coração inválido [mount]
Fanfictiononde rosalinda gosta de escrever e gabriel gosta de viver.