parte 9.

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"Querido diário, eu adoro ficar sozinha em casa. É uma maravilha fingir que não moro com ninguém, podendo fazer o que eu quiser. Bom, nem tudo. Mas que se foda, vou aproveitar. Até porque quando essa euforia toda acabar, voltarei à ser a inútil de sempre.

Hoje escrevi mais três capítulos bem longos e pretendia fazer uma poesia até o fim da noite, mas mudei de ideia. Lá vou eu, diretamente pra geladeira."

Acabaram com o resto do sorvete. Voltei pra sala decepcionada, até lembrar dos pacotes de pipoca que meu pai trouxe do trabalho outro dia.

Escolhi meu sabor favorito e depois de preparar, me atirei no sofá, ligando a tv em seguida. Filmes de terror e drama me satisfazem, mas dessa vez resolvo assistir um romance.

Porque romances me inspiram. Mesmo aqueles que eu assisto em repetição várias e várias vezes, como por exemplo: Querido John. Depois que a pipoca acabou, me concentrei apenas no casal da tela.

Meu celular tocou na hora em que Savannah e John se separam fisicamente.

— Alô. — atendi em desânimo, me dando conta aos poucos de que quem ligava era minha irmã.

— Rosa, eu esqueci minha bengala no quarto. Você pode trazer pra cá? — Isadora disse num tom estranhamente amigável.

Claro, ela tá se fazendo de dócil pro Gabriel.

— Precisa mesmo? Você já tá aí. — revirei os olhos.

— Precisa. Eu necessito da bengala. Venha agora. — ela exigiu, mudando de humor totalmente. — Por favor, Rosa... — e voltou com o tom amistoso.

— Tá bom. — aceitei, dando pausa no filme e levantando.

Após pegar a bengala, saí do apartamento e toquei a campainha da porta da frente. Pelo menos não tive que me locomover muito. Odeio fazer esforço, principalmente com coisas que não me interessam.

Gabriel atendeu. Ele sorriu ao me ver e eu estendi o objeto, sentindo algo desconfortável no meu peito.

— Ela chegou? — escutei Isadora perguntar assim que o garoto pegou a bengala.

— Sim. Tá aqui. — ele entregou à ela, voltando pra posição de antes. — Você quer entrar?

— Melhor não. — respondi, meu olhar trêmulo.

— Rosa, qual é? Entra. — Gabriel me olhou com insistência.

— Tá bom. — entrei, me acomodando no sofá, meio distante de Isadora.

Na medida que eles voltaram à conversar, eu me toquei de que não tinha pego minhas coisas. Enfiei minhas mãos no meio das coxas e entortei a postura, desejando nada além da morte.

— Rosa, eu tava contando à sua irmã sobre a dona Carmelita. — o garoto chamou minha atenção.

— Que você morre de medo dela? — perguntei em provocação.

— Iss...Ei! — ele franziu a testa ofendido, mas logo riu.

— Ele disse aquilo sobre ela não negar pedidos, e eu respondi que já sabia. Até porque moramos aqui há bastante tempo. — Isadora disse.

— É, tanto tempo e ninguém pensou em construir umas rampas pros deficientes visuais. — comentei seriamente.

— Isso foi sarcástico, Rosalinda? — minha irmã sorriu em deboche, mas estava claramente irritada.

— Não. Fica de boa Isadora, que nem tudo é sobre você. — rebati.

— Claro. É sobre você, né? A pobre menina anti-social, coitadinha dela...

Suspirei, quase perdendo a cabeça.

— Meninas...A gente não tá aqui pra brigar. — Gabriel tentou acalmar as coisas.

— Desculpa, Gabriel, mas eu não suporto ficar perto dela até mesmo fora de casa. — Isadora ficou de pé e apoiou a bengala no chão, prestes à deixar o lugar. Esse teatro é a cara dela. — Eu pedi pra você trazer o que é meu, mas não precisa ficar aqui pra atrapalhar tudo.

— Isadora, você vai nervosa desse jeito? — o rapaz abriu a porta pra ela.

— Sim, e a minha irmãzinha vai comigo, porque eu não posso ficar sozinha. — ela sorriu de novo, daquele mesmo jeito que eu odeio.

— Ah, pelo amor de-

— Eu tô cega, Rosa. Esqueceu?

Não, é impossível esquecer!

Me direcionei à saída, e quando Isadora estava distraída entrando no apartamento em frente, eu senti uma mão segurar a minha.

— Boa noite, Rosa. — Gabriel falou, nossas mãos se separando devagar em seguida.

— Vai ser impossível ter uma boa noite agora, mas valeu. — resmunguei e ele deu de ombros, de uma forma que eu não soube o que significava.

— Quem sabe... — um sorriso de canto de formou no rosto do garoto.

perdoem o cap merda

coração inválido [mount]Onde histórias criam vida. Descubra agora