— Eu vou no banheiro. — disse me retirando do cômodo quando ela sentou-se novamente.
Fiz minhas necessidades e em seguida lavei as mãos — o sabonete líquido dessa velhinha é deliciosamente cheiroso. Ao voltar pra sala, a campainha toca.
— Pode atender pra mim? — dona Carmelita pediu, dando uma piscadinha suspeita.
Eu fui até a porta e quando à abri, dei de cara com Gabriel. Ele me olhou intensamente, engolindo seco e com suas pupilas dilatadas.
— Oi, Rosa. — sorriu lindamente.
— Oi. — fiz o mesmo, um pouco nervosa. — Veio falar com a-
— Não. Eu sabia que você tava aqui.
— Então tava tudo combinado? — troquei meu olhar entre os dois.
— Você que me deu a dica, lembra? — seu sorriso ficou maior e antes mesmo dele terminar a frase, eu me joguei em seus braços. — Sentiu saudade? — ele perguntou entre risos.
— Claro que sim! Por que não me respondeu? — o encarei, o rapaz levantou uma sobrancelha. — Claro, você ama fazer surpresas.
— Não é só isso, também achei que devíamos falar pessoalmente.
— Me perdoa por tudo?
— Tudo o quê?
— Ah... — suspirei. — As minhas crises que vem do nada. Tem horas que eu me sinto horrível e só quero me afastar de tudo.
— Rosa, eu te amo. Amo você inteira. — ele roça nossos narizes. — Só te peço pra tentar compartilhar mais certas coisas. Não é bom guardar tudo pra si.
— Te amo. — juntei nossos lábios.
— Vocês são uma graça! — a senhora apareceu por trás de mim, interrompendo a cena. — Gabriel...!
Eles trocaram olhares de cumplicidade, eu fiquei perdida.
— Calma, eu já ia fazer isso. — Gabriel grunhiu.
— Fazer o quê? — balanço a cabeça.
Nessa hora o garoto se ajoelhou e eu me desesperei. O momento se passou lentamente na minha cabeça. Ele levou sua mão ao bolso e retirou dele duas passagens.
— Aceita viajar comigo, gatinha? — ele perguntou naturalmente, o que me fez rir.
— Se eu aceito? Mas é lógico! — peguei um dos papéis e Gabriel me abraçou forte, tirando meus pés do chão.
— De nada! — dona Carmelita cruzou os braços, convencida.
— Você fez ela pagar? — olhei pro rapaz com repreensão.
— Não, ela só me ajudou com parte da ideia. Eu não sou um aproveitador, né?
— Hm. E quando vai ser? — pulei de alegria.
— Eu te explico melhor mais tarde. Agora a gente pode conversar sobre aquilo? Você disse por mensagem que contaria tudo pessoalmente.
— Tá bom. Pra sua casa?
Ele confirmou e eu peguei minhas coisas. Depois de nos despedirmos da dona Carmelita, saímos.
A conversa foi tão complexa quanto libertadora. Gabriel também acha que eu devia voltar à terapia, e quando eu contei sobre o conselho que recebi mais cedo, concordou ainda mais.
Thalita disse pra ele que se eu atrasasse no processo do livro, não teria problema. Mas provavelmente eu não conseguirei ficar parada muito tempo.
Amo escrever.
— Vai dar tudo certo, Rosa. — ele me beijou e eu deitei em seu peito. — Te amo.
— Te amo. — sorri.
Tempo depois, eu terminava de arrumar minha mala pra viagem.
— Juízo, hein? — minha mãe alertou-me, se aproximando. — Devia ter arrumado tudo ontem.
— Não se tenho tempo hoje. — rebati. — Vou ficar bem, mãe.
— Não duvido. Já é uma mulher crescida.
— E a Isadora?
— Saiu com as amigas. Eu avisei que você passaria um tempo fora, ela não deu muita importância.
— Clássico dela. Já me acostumei. — disse fechando o zíper. — Bom, eu tô indo. Gabriel falou pra nos encontrarmos na piscina.
— Até breve, amor. — ela me abraçou, eu retribui. — Seu pai mandou um beijo, e disse pra você mandar notícias. Ah, e ele quer ver as fotos depois.
— Claro que quer. — reviro os olhos. — Até.
Desci de elevador e quando cheguei na piscina, vi meu namorado de pé, me aguardando.
— Pronta? — perguntou.
— Pronta.
Pegamos nossas malas e fomos até a portaria, onde um carro estava à nossa espera.
— Triz? Calango? — me surpreendi ao entrar no veículo e ver os dois ali.
Calango no volante e Triz no banco do passageiro.
— Vamos levar vocês até o aeroporto. — a de franjinha explicou, animada.
— E pode ficar tranquila, Rosa. Nunca que atrapalharíamos a intimidade do casal. — Calango brincou.
— Acho bom. — Gabriel acompanhou, se acomodando ao meu lado.
Nosso amigo deu partida e nós fomos.
Pra onde iríamos? Eu nem sequer me importei com isso. Só de ter uma perspectiva de vida e alguém que amo por perto já é o suficiente. Não saberia como começar à agradecê-lo pelo que fez e faz por mim. Mas creio que um dia terei essa ideia, até porque ainda viverei muito.
Ainda bem.
•
cabô
dediquei essa noite pra escrever os capítulos finais
o que acharam?
vou sentir falta de coração inválido
(que já não é mais tão inválido assim...)
obrigada mesmo por cada voto e comentário, isso me ajuda e anima bastante!!!
beijo da rosa pra vocês 🤍
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coração inválido [mount]
Fanficonde rosalinda gosta de escrever e gabriel gosta de viver.