parte 39.

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Como explicar esse incômodo? Não deve ser pura coisa da minha cabeça.

Passaram-se duas semanas, e o namorado de Isadora vem visita-la praticamente todo dia. E não são só visitas rápidas, às vezes ele passa boa parte do dia aqui. O que me dá menos espaço e liberdade pra sair despercebida.

E quando eu consigo, parece que esse cara sempre tá lá me observando. Seja de longe ou de perto.

Uma vez esbarrei nele de propósito, na tentativa de fazer Marcelo se tocar de que estava atrapalhando.

Enfim, tirando isso, eu tô bem. Escrevi duas poesias em um período de três dias. Precisei de tempo pra me inspirar o suficiente, e quando terminei, deixei os papéis, lápis e canetas de lado.

Até porque eu tenho um namorado, agora. Simplesmente o homem mais incrível que eu já conheci. Me ensina tanta coisa, dia após dia...

— Tchau, pai. — pus meus fones de ouvido e fui em direção a porta.

— Tchau. Espera! — ele gritou, me assustando.

— O quê? — virei rapidamente, olhos arregalados.

— Cadê sua irmã?

— Sei lá. Pergunta pra minha mãe, ela deve saber. — dei de ombros.

Nessa mesma hora, Ivana passou entre nós toda descabelada.

— Isadora saiu com o Marcelo. — ela respondeu a pergunta.

— De novo? Esse intrometido vem demais pra cá. — meu pai resmungou, batendo as mãos nas pernas.

— André, não comece. — a mulher o repreendeu, em seguida me olhando. — Rosa, pode ir.

Me encontrei com Gabriel no parque. Ele estendeu uma toalha linda pela grama, abaixo de uma árvore, e também trouxe comida. Ficamos conversando por um longo tempo, que passou veloz como o vento.

— Você acha que eu devia voltar à fazer terapia? — questionei o rapaz, deitada ao seu lado, observando as folhas balançarem e a luz forte vinda do céu.

— Eu acho que só você pode responder isso. — Gabriel acariciou minha mão com a sua.

— Tá aí o problema. Eu não faço ideia.

— Mas você quer?

— ...Não. — enfim reconheci meu próprio desejo. — Eu queria ter uma vida normal. Comum, eu digo.

— "Queria", Rosa? — ele me lançou um olhar quase crítico.

— Eu quero. Melhor assim? — revirei os olhos, ele riu.

— Uma vida normal... — o garoto repete essas palavras suspirando. — Tipo, estudar e trabalhar?

— Isso. Não me importo em ter muito dinheiro. Gostaria só de me sustentar sozinha, mesmo.

— A gente vai correr atrás disso, então.

— Não, Gabriel... — disse com insegurança. — Tenho que fazer as coisas por mim mesma. Você disse isso uma vez, lembra?

— Claro que eu lembro, Rosa. Isso é ótimo. Entendo perfeitamente.

E como sempre, ele me compreendeu. Meu amor.

— Mas eu vou querer uma companhia, eu acho. — dou um sorriso sapeca, arrancando a mesma reação dele.

Nos viramos, ficando frente à frente. Gabriel triscou seu dedo na minha pele e eu me inclinei para beija-lo. Seus lábios e sua língua cada vez mais apaixonantes, eu nunca me canso.

A gente se despediu quando o elevador parou no nosso andar. Ele fechou sua porta e eu fiquei presa no beijo dele por tempo demais. Não queria voltar pra casa, mas teria que fazer isso.

Antes mesmo de entrar, a maçaneta girou e a porta se abriu, dando visão à minha irmã e Marcelo.

— Oi, Rosa. — ele me cumprimentou friamente.

— Ah, é ela. — Isadora bufa.

— Oi. — dei o sorriso mais rápido e falso de toda minha existência.

— Não acredito que vou falar isso, mas que bom que chegou. A mãe quer que você ajude ela com uma coisa na cozinha. — a garota disse, impaciente, segurando sua bengala.

— Eu já vou. — estava prestes à deixá-los ali, mas uma dúvida surgiu na minha mente. — Iam me procurar?

— Claro que não. É que chegou uma encomenda, eu não posso ir sozinha, meu namorado se ofereceu pra me acompanhar, enfim...

— Hm.

— Que foi? Já tá com inveja? — Isadora me provocou, tive vontade de dar um tapa nela.

— Me poupe. — rebati. — ...Pode sair da frente?

— Vamos, amor. — Marcelo segurou a mão dela e eles passaram por mim.

Observei os dois andarem até o elevador, mas não imaginava que o marmanjo me olharia de volta. De uma forma mega assustadora, ainda mais. Quem é esse cara?

coração inválido [mount]Onde histórias criam vida. Descubra agora