— E esse caderno aí? Não vai mesmo dividir seus sentimentos com seu novo amigo? — ele brincou.
— Quem sabe um dia. — acompanhei. — Mas isso aqui não é meu diário.
— Eu reparei que é um pouco maior. O que você escreve nesse? — Gabriel se aproximou.
— Histórias. Livros que eu nunca vou publicar, basicamente. — comecei à folhear, mostrando rapidamente o tanto que já criei.
— Caramba, Rosa. Você é muito criativa. Posso ler uma? — ele pôs a mão no objeto.
— ...Tá bom, mas eu escolho.
— Você que manda.
Escolhi uma que escrevi em três dias, há uns dois meses. Provavelmente uma das minhas favoritas.
— Aqui, tem alguns gatilhos, quer que eu fale pra você não se assustar com o que está por vir? — murmurei e ele assentiu. — É sobre um homem de quase trinta anos que passou anos num hospital psiquiátrico internado, por ter desejos e alucinações suicidas. Depois que recebe alta, ele se considera totalmente recuperado, até que conhece uma estudante de psicologia de vinte anos. Ela se encanta com a personalidade cômica dele, e os dois topam se conhecer melhor, até que...
— Até que...?
— Melhor você ler, eu já quase estraguei tudo. — coloquei o caderno no colo dele, que começou a leitura então.
Observei a cena tão atentamente, quase me esqueci de piscar. Meus olhos ardiam e meu coração palpitava. Nunca tinha mostrado uma história que escrevi à alguém, e como era a primeira vez, eu me senti como uma criança exibindo seu brinquedo na escola.
Encorajada.
— Acabei. — ele disse, após um bom tempo. — É muito triste, mas muito romântica também.
— Pois é, eu gosto disso. Qual sua parte favorita?
— Acho que quando ela ajuda ele à se tratar corretamente, depois que as alucinações voltam. Ela tava fodidamente exausta, mas insistiu em ficar pra ajudar o cara que gostava. — sorrimos. — Você também caprichou nas partes sexuais, hein?
— É... — cocei a nuca, sem graça. — Às vezes acho que eu exagero, mas é como eu gostaria que fosse nos filmes que assisto e não gosto.
— Não, ficou perfeito. Os detalhes, a delicadeza do ato, as palavras que você usou. Você tem um dom, Rosa.
Caralho...
— Aham, tá. — fiz pouco caso.
— Tá duvidando? Que absurdo. — ele fingiu se importar.
— Tô sim. Você só leu uma história e já deduz que eu tenho um "dom"?
— Se quiser eu leio todas e garanto que continuarei com a mesma opinião. — nessa ele me pegou, fiquei sem palavras. Revirei os olhos e Gabriel passou as páginas, lendo por cima. — Sua mão não cansa?
— Cansa, mas eu não paro. Por mim escrevia o dia inteiro sem pausas.
— E de onde vem tanta inspiração?
— Séries, filmes, a minha própria vida. Gosto de misturar as características...
— Olha, meus parabéns. — ele bateu palmas silenciosamente. — Pode-se dizer que você já viajou muito, então.
— Só na ficção, no mundo faz de conta. — rebati, lembrando das vezes que Isadora disse isso.
— Às vezes isso chega à ser melhor que a realidade.
— Concordo plenamente, Gabriel. — me senti acolhida naquele pensamento tão próximo do meu.
— Mas você ainda vai viver muito, não se preocupe.
Ele tocou no meu braço e eu me senti mal. Senti um nó na garganta, mas não queria chorar. Aquele estava sendo um momento tão bom, tão gostoso, eu não podia arruinar tudo.
E aí? Apostam quanto que ele vai sair correndo assim que descobrir minhas verdades?
Por enquanto tá tudo lindo, histórias, jantares, conversas corriqueiras...mas e depois?
![](https://img.wattpad.com/cover/323420133-288-k370922.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
coração inválido [mount]
Fanfictiononde rosalinda gosta de escrever e gabriel gosta de viver.