parte 29.

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Larguei o celular novamente na cama, já convencida de que ele não veria a mensagem tão cedo. Fui pra cozinha e comi um pacote inteiro de biscoito, na tentativa de amenizar a ansiedade. Quando acabei, saí e bati na porta em frente.

A porta dele.

— Oi. — foi tudo o que eu disse quando Gabriel me atendeu.

— ...Sabia que era você. — ele falou com um sorriso lindo em seu rosto, antes de me abraçar.

Foi um abraço tão forte que meus pés saíram do chão.

— Desculpa. Me desculpa. — pedi com a voz abafada.

— Tudo bem, Rosa. — ele pôs suas mãos no meu rosto, o acariciando com seus dedos.

— Você leu a mensagem?

— Li. Praticamente agora. — Gabriel murmurou, seus olhos azuis entrando na minha alma.

Entramos e eu contei tudo. Até mesmo sobre minha tarde na casa da dona Carmelita.

— É, eu tô vendo as coisas diferentes, agora. — concluí, sentada no tapete, próxima à mesinha de centro.

— Que bom. Muito bom. — ele entrelaçou nossas mãos e beijou a minha. — Mas olha, você não tem que desistir de escrever por causa do que a Isadora fez.

— Não é só isso. Eu li as três páginas que ela guardou. Foi só porcaria. Aquilo me fez enxergar o quão idiota e patética eu sou. Ou era...enfim.

— Rosa, diário não precisa ser algo tão certinho quanto você tá pensando. O propósito é o desabafo, mesmo.

— Valeu por me explicar o que é um diário, sempre quis saber. — comentei em sarcasmo.

— Tá, eu entendo. Você esperava algo mais importante, né? — ele ri.

— Sim. — engulo seco. — Se ao menos fosse uma poesia...

— Ah, você pode escrever outras. Papel é o que não falta nesse mundo.

— Eu sei, mas não é tão fácil. Tudo foi em vão. — balancei a cabeça em negativo, até meus olhos baterem no garoto. — Por que você é tão positivo?

— Isso é tão ruim pra você? — Gabriel sorriu, entendendo a intenção da minha pergunta.

Pura curiosidade.

— Não. Mas me faz parecer uma doida.

— Você não é doida. Apenas é mais exótica que muitas outras pessoas.

— Uau...! — fiz cara de choque e ele revirou os olhos. — Eu posso até voltar à escrever, mas não agora.

— Amanhã, então? — levantou uma sobrancelha.

— Pode ser. — dei de ombros. — Sabe, eu perdi muito tempo. Muito mesmo. E agora que me dei conta disso, não faço ideia do que fazer pra "recuperar" tudo.

— ...Hm, que tal se dando mais oportunidades?

— Tipo quais?

— Fazer algo que você já quis muito. — arregalei os olhos e ele acrescentou. — Sem ser isso que você tá pensando, Rosalinda.

Segurei o riso.

— Sei lá... — tento pensar em algo. — Não faço ideia.

— Tudo bem. Uma hora vai saber. Por enquanto, vamos com calma. Cê já avançou bastante.

— Sério?

— Sim, eu tô orgulhoso. — ele mexeu em alguns fios do meu cabelo, pondo-os atrás da minha orelha.

Nos encaramos por um tempo, mas eu não tive coragem de fazer o que queria.

Acabou que foi como se Gabriel tivesse lido meus pensamentos. Ele se inclinou e beijou minha testa, posteriormente me puxando pra um abraço.

coração inválido [mount]Onde histórias criam vida. Descubra agora