parte 51.

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— Alô? — disse ao atender.

— Oi, quem tá falando é a namorada do Gabriel? — uma moça perguntou e eu juntei as sobrancelhas.

— ...Sou. Por que?

— Então, é que ele acabou de ser assaltado. Eu o encontrei na rua com mais dois garotos e trouxe eles pra minha casa.

— Meu Deus, mas... — perdi as palavras, fui pega de surpresa.

— Ele disse que você podia ajudar. O pobrezinho se machucou durante o assalto e os outros tão bêbados demais pra fazerem alguma coisa.

— O que eu posso fazer?

— Você tem como vir aqui, agora? Tô sem meu carro, não posso levá-los embora, e não dá pra deixar eles sairem sozinhos por aí.

— ...Tá. — concordei mesmo cheia de dúvidas na minha mente.

Por que ele estaria na rua? E o tal aniversário?

A mulher me deu o endereço e eu anotei num papel. Bebi água, peguei um dinheiro emprestado na escrivaninha do Gabriel e saí sem ter a menor ideia de nada. Apesar da frustração, não quis gastar toda a grana dele, então peguei um ônibus.

Quando cheguei no lugar, vi uma casa de paredes azuis e um portão de grades um pouco baixo. Toquei a campainha e em questão de segundos alguém apareceu.

Eu nem sequer perguntei o nome da mulher na ligação.

— Você é a Rosa? — ela abriu a porta e sorriu pra mim. Afirmei com a cabeça. — Me chamo Claudia. Pode entrar.

Quando adentramos, vi Gabriel no sofá com os dois amigos ao seu lado. Amigos esses que eu já vi antes. Vagamente, mas vi. Meu namorado me olhou e na mesma hora se levantou. Ele pôs a mão no curativo em seu rosto e gemeu de dor.

— Amor... — chamou minha atenção e eu olhei para os outros, que estavam nitidamente passando mal.

— Deixa que eu explico. Você já falou demais por hoje. Pode sentar. — Claudia indicou e ele fez.

Ela me contou tudo o que lhe foi dito quando acolheu os meninos em sua casa. Eles estavam no aniversário, mas teve uma confusão lá, uma briga feia. Tão feia que fez a maior parte dos convidados sairem obrigados de lá, até mesmo os que tinham bebido demais. Gabriel e seus amigos se afastaram um pouco mais que o esperado, chegando numa rua deserta e escura.

E pra por a cereja no bolo, um cara de moto armado apareceu e roubou seus celulares. Gabriel resistiu e acabou numa briga rápida com o assaltante. A arma quase caiu no chão, foi quando o bandido à pegou rapidamente e deu partida.

Eles ficaram sem um senso de direção, então o que podiam fazer era ir pra um lugar mais movimentado e pedir ajuda à alguém. Foi quando encontraram Claudia.

Eu ouvi tudo com atenção, porém não tinha muito o que fazer ou dizer.

— Melhor irmos embora.

— Como? — Gabriel perguntou.

— De Uber. Eu trouxe dinheiro. — respondi.

— Se quiser eu empresto, também. — Claudia se acercou.

— Não precisa. Mas pode me ajudar com...eles? — aponto para os embriagados.

— Claro.

Quando pedi o Uber e ele chegou, tivemos trabalho pra por gente no carro, mas felizmente deu certo. Enfim em casa, vi o garoto de olhos azuis se jogar no sofá e respirar fundo.

— Você tinha razão. Eu não devia ter ido. — ele disse baixo.

— Aham. — fui diretamente até o quarto.

Ele me seguiu.

— Rosa.

— Aquela história foi...estranha.

— A Claudia não contou muito bem, mesmo. — ele deu de ombros.

— Seus amigos tavam quase desmaiando. Como conseguiram andar tanto? — me apoio na janela.

— Eles pioraram depois. O susto do assalto foi enorme.

— Hm.

— ...Você tá duvidando? — Gabriel semicerrou os olhos. — Rosa.

— Não. — murmurei.

— Ei, olha pra mim. — ele me virou, segurando meus braços delicadamente. — Eu não mentiria pra você. Alguma vez já fiz isso?

— Não é isso. Sei lá, eu... — suspirei. — Hoje definitivamente não é um dia bom. — olho pra o curativo em sua cabeça.

— Não tá mais doendo. Vai passar. — ele falou, se referindo à algo totalmente diferente.

O sentimento não vai passar de uma hora pra outra. Preciso ir embora.

— Eu vou pra casa. — me desvencilhei e comecei a recolher minhas coisas.

— Rosa! — Gabriel me chama quando eu passo pelo corredor. — Rosa, me fala o que tá acontecendo...

E essa vontade de desistir de tudo? Como eu odeio isso! Ele nunca mentiu pra mim, mas eu não consigo acreditar em mais nada. Nem em mim mesma. Parece que tudo tá voltando.

— Nada! Só me deixa em paz, agora. Ok?

Fechei a porta de entrada e abri a da frente, retornando pra casa onde passei os maiores sufocos. Mas curiosamente, no momento, aqui é o único lugar onde posso me aconchegar.

coração inválido [mount]Onde histórias criam vida. Descubra agora