parte 15.

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"Que estranho, agora eu tenho um amigo. O que tá acontecendo?

Isso tá me tirando o foco que é e sempre foi escrever. Ficar na minha, não interagir. Simplesmente aguardar pelo momento da minha morte. Porra, diário...

Como eu pude contar aquelas coisas ao Gabriel? Agora ele tá envolvido na nossa vida e de fato preocupado. Estraguei tudo outra vez. Merda!"

Fechei meu diário e peguei o caderno de poesias. Decidi tentar continuar a minha última, mas na medida que eu escrevia as palavras, uma angústia crescia dentro de mim.

Comecei a ficar tonta, ansiosa, em desespero. Levantei da cama e me desequilibrei.

— Rosa? Tudo bem por aqui? — ouvi a voz de minha mãe adentrar o quarto. — Rosa... — ela se aproximou e segurou meus braços, percebendo.

— Eu tô bem. — engoli seco, fechando os olhos com força.

— Não parece. Vem, deita aqui. — Ivana me ajudou à deitar e eu consegui respirar mais tranquila.

— O que houve? — Isadora apareceu com sua bengala, óbvio.

— Nada. Foi só uma crise de pânico, ansiedade, sei lá... — comentei olhando pra cima.

Merda, tá difícil raciocinar. Mas eu tô tentando.

— Sua vida é mesmo muito conturbada, Rosa. — vi de relance o sorriso irônico da minha irmã.

— Isadora, menos. — nossa mãe à repreendeu.

— Eu vou beber água, mãe. — caminhei devagar até a saída e ela me seguiu.

Chegando na cozinha, encontrei meu pai mordiscando uma maçã.

— Tudo bem, Rosa? — ele levantou uma sobrancelha.

— Sim! — respondi ríspida e impaciente.

— Nossa, o que te deu?

— Nada, pai...! — peguei um copo com as mãos trêmulas e fui até o filtro.

O copo acabou caindo no chão e se quebrando por inteiro.

— Mas o que...?! — meu pai estava perplexo.

— Pode deixar, filha. Volte pro quarto, eu vou levar água pra você. — minha mãe segurou meus ombros, num gesto de calma. — André, não fala nada, tá? — ela olhou pro marido.

— Tchau, pai. — falei automaticamente antes de me retirar.

— ...Tchau, filha.

Novamente em minha cama, eu chorava compulsivamente. Consegui ouvir as vozes dos meus pais, um falando com o outro, e isso só piorou meu estado.

Eu preciso fazer alguma coisa. Preciso acabar com essa agonia.

— Isadora. — chamei a atenção da garota que saiu do banheiro.

— Fala. — ela disse, bufando.

— Preciso de um favor. — minha voz soou indecisa.

— Sim...?

— Me traz uma cartela de remédio pra dor de cabeça? — respirei fundo.

Por que tão na cara assim, Rosalinda?

— Você não me engana. Que foi? Vai tentar de novo?

— Eu já disse. Tô com dor de cabeça, só isso.

— ...Ok. Vou trazer um calmante. Só um. Assim você dorme, esquece essas ideias e não me enche mais.

Ela andou fazendo barulho.

— Brigada. — agradeci, sentindo meus olhos arderem.

coração inválido [mount]Onde histórias criam vida. Descubra agora