— Eu não fui proibida. O que aconteceu foi a Isadora. A culpa é toda dela e desse doente. Ele tava me espiando, mãe! Acabou de dizer que me ama... — tomei coragem e cuspi as palavras.
— Marcelo, e a Isadora? Você traiu ela?! — Ivana prestou atenção no mínimo possível, claramente.
— Claro que não. Mas ele queria. — Gabriel me defende, eu me aperto em seu abraço.
— Não, eu só-
— Cala a boca, rapaz. Saia daqui. Depois você volta, mas agora, vá embora. — André, meu pai, o "expulsou", e o homem então foi embora pisando forte. — Eu já tô cheio dessa confusão entre você e sua irmã, Rosalinda! E agora metem dois moleques no meio como se nada mais importasse?
— Mas, pai-
— Você passou o dia com ele? E aquela sua amiga de escola que você disse? — minha mãe perguntou.
— Eu menti, não tem amiga. O problema é que a Isadora destruiu meus cadernos.
— E o que isso tem a ver? — eles ficaram ainda mais confusos e eu suspirei, perdida. — Entrem.
— Sério? — Gabriel ficou surpreso.
— Sim, entrem. Quero que expliquem tudo.
— E a Isadora?
— Ela também vai ter que se explicar. — Ivana abriu espaço para que entrássemos, e assim fizemos.
Minha mãe foi chamar a filha mais velha que aparentemente dormia, e quando elas voltaram, Isadora sentou comigo e Gabriel no sofá.
Me sinto com nove anos de novo, prestes à levar uma puta bronca. Meus pais estão exatamente como naquela época, em pés, parados à nossa frente e de cara fechada.
Gabriel e eu contamos nossa versão, que são bem parecidas. Isadora só soube se defender à todo custo, ela não deu chance de dúvidas e questionamentos.
A culpa é claramente dela.
— Isadora, como você traz um homem pra casa dizendo ser seu namorado, quando na verdade é um cúmplice, espião, sei lá que porra?! — meu pai gritou.
— Não, pai, mas o Marcelo é meu namorado de verdade! Que droga, só porque eu tô cega não posso ter vida social?!
— Ninguém disse isso. — eu falo.
— Cala essa boca...! — a cegueta grunhiu, tive a sensação de que me bateria com sua bengala.
— Filha, o Marcelo deixou claro pra sua irmã que ele te ajudava à-
— Essa garota tá mentindo. Eu não fiz nada! Meu namorado não fez nada!
— Assim não dá. — minha mãe bufou.
— Se me permitem falar... — Gabriel levantou a mão, eles assentiram. — A Rosa não mente. E se já mentiu, foi por um bem maior. Ela é uma pessoa incrível e nunca quis o mau da irmã.
— Você só fala isso porque tá com ela. — Isadora provocou.
— E você só fala isso porque é uma filha da-
— Chega! — meu pai interrompeu o garoto.
A conversa prolongou muito depois disso. No fim das contas, ninguém mais foi proibido de nada. Afinal, somos todos maiores de idade. Felizmente eu fui reconhecida como tal.
Minha irmã podia continuar com seu namoro, se quisesse, mas se o marmanjo do Marcelo aparecesse por aqui novamente, alguém sairia preso ou machucado. Ou os dois, segundo meu pai.
Eu não esperava que meu namoro fosse exposto e revelado dessa forma, mas por um lado, todo o peso e a preocupação por conta disso passou. Bom...e agora? Não tô nem um pouco afim de ir pro meu quarto dormir e arriscar ser sufocada com um travesseiro.
— Mãe... — me aproximei dela, que está sentada à mesa, com uma mão apoiada no rosto.
— O que foi, Rosa? — disse, cansada.
— Eu vou dormir lá no Gabriel. — não pergunta, não pergunta, não pergunta! — Tudo bem?
— Tudo. Pode ir. — ela concordou mais rápido do que eu imaginava.
Peguei o necessário e saí.
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coração inválido [mount]
Hayran Kurguonde rosalinda gosta de escrever e gabriel gosta de viver.