Metin não queria ir. Não queria deixar Clara logo na sua chegada ao palácio, mas por eles, precisava se apresentar ao sultão e dar explicações ao tio. Tinha que se dirigir ao pavilhão de audiências, porque com certeza, sua chegada já tinha sido anunciada e, no mínimo, seu pai esperava esse sinal de submissão de sua parte.
Beijou a cabeça de sua amada e viu em seu olhar triste, que ela precisava dele ali. Mas era um desejo que, naquele momento, lhe doía na alma, não poder suprir. Beijou pela primeira vez os lábios de Clara, sentindo o desejo até ali contido, acordar todo seu corpo.
Após lhe mostrar o local, desceu os degraus de seu pavilhão com o coração pesado. Ela não conhecia ninguém ali e uma estranha, ainda que mulher, lhe ajudaria com o banho, trocaria suas roupas, pentearia seu cabelo. Era ele, desde que se conheceram, que lhe auxiliava em tudo.
Com passos rápidos e decididos, o príncipe se dirigiu ao local de audiências. Queria correr até lá, resolver tudo e voltar logo para Clara. Mas conteve o ímpeto.
Os guardas, ao verem-no, ainda de longe, já comunicaram Vossa Majestade de que o príncipe estava a caminho.
- Não era sem tempo - resmungou o sultão - já faz algumas horas de sua chegada. Ele não demora tanto para vir me ver quando chega de suas missões.
- Dessa vez há algo diferente. - iniciou Hakam, seu irmão e tio de Metin - Meus guardas disseram que o príncipe trouxe da Itália uma jovem.
Os olhos do sultão brilharam com uma curiosa surpresa. Ele conhecia o filho e, se trouxera alguém com ele, ainda mais uma mulher, era alguém importante.
- É claro que ela não está no Harém - iniciou o sultão - peça para suas espiãs verificarem com as empregadas do pavilhão de Metin o que descobrem sobre ela.
O tio de Metin dissimulou a contrariedade que sentia. Era sempre assim quando o assunto envolvia o sobrinho. Vossa Majestade, o homem mais poderoso do Império Otomano, quiçá do mundo, enchia-se de cuidados e pudores quando algo envolvia aquele filho de concubina.
O sultão sentia um misto de admiração e remorso quando o assunto era Metin. Em sua juventude, não se importara com o menino tímido e franzinho, sempre assustado e correndo atrás da mãe ou do médico Nureddin; não pensara nele quando mandara executar, cego pelo ódio, sua concubina preferida. Mas, quando ele voltou, um jovem e belo adulto, o rei viu no filho a imagem que sempre quisera ter de si mesmo, com uma aparência majestosa e o temperamento orgulhoso da mãe.
Viu Metin saudar os guardas e aguardar sua permissão para entrar. Ele era imponente e enchia a sala de audiências com uma tranquilidade segura. Caminhava como alguém que sabe o que quer e o que fazer. Saldou o tio com um reverente curvar de cabeça e ajoelhou-se antes de beijar as mãos de seu pai e senhor.
Vossa Majestade tinha os olhos marejados. Via a dor que ele mesmo causara no filho sempre que olhava em seus olhos. Por isso, evitava encarar seus próprios pecados e fantasmas, dando um tom mais informal aos encontros não tão frequentes de ambos.
- Engin já nos relatou uma parte de suas aventuras - iniciou sorrindo o sultão, que não obteve esboço de reação similar no filho.
- Majestade - disse-lhe seriamente Metin - como deve saber tivemos um contratempo em terras italianas.
- Que nos renderam uma prisioneira? - indagou ironicamente Hakam.
- Que revelaram que meu primo, Ugur, não tem cumprido com os acordos feitos por Vossa Majestade. - respondeu firme e educadamente o príncipe.
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O SULTÃO E A PRISIONEIRA
ChickLitO sultão e a prisioneira é uma história romântica, porque narra o relacionamento ideal e, por isso, fictício, entre um homem e uma mulher. O protagonista é o avesso do homem que encontramos no presente e, a história, como uma ficção, apenas utiliza...