Sumru e os demais serviçais cumprimentaram o jovem casal real que entrou na sala de refeições. Estavam nitidamente embevecidos um com o outro e pareciam não se incomodar com a presença das pessoas ao seu redor. Mas retribuíram os acenos com palavras carinhosas.
Clara ainda não se acostumara com o fato da mesa ser tão baixa e de que precisassem sentar sob almofadas com as pernas cruzadas; nunca fora muito flexível e, em sua casa, mesmo não tendo os mesmos privilégios que as primas, após a morte de sua família, sempre realizava as refeições na mesa da cozinha, sentada em uma cadeira.
- Eu e tia Bahar - iniciou Clara acomodando-se o melhor que pode sobre uma linda almofada multicolorida - estamos tentando descobrir o que ocorreu com as filhas de meus tios - pois não estavam no harém.
Metin olhou-a com amor, enquanto mordiscava um delicioso pão feito há pouco pelas cozinheiras que trouxera da Capadócia já há alguns anos. - Eu tive a oportunidade de interrogar meu primo sobre sua família, meu amor.
A sultana não estava espantada, porque conhecia a gentileza e preocupação do marido sobre tudo ao que se referia a ela. - O que aconteceu com meus parentes?
O monarca tomou sua bebida à base de frutas antes de responder:
- Seus tios foram vendidos como escravos ainda à caminho de Istambul - disse devagar Metin, observando as reações de Clara. - Suas primas foram compradas por um mercador de tapetes do Grande Bazar. Elas estão em Istambul.
O coração de Clara acelerou: então, caso o sultão as comprasse do mercador, elas poderiam ser libertas como foram há meses, desde a ascensão de Metin ao trono, muitas mulheres do harém.
Antes que a esposa falasse, Metin disse-lhe:
- Já pedi para Engin cuidar disso, minha querida. Em breve elas estarão no antigo Harém do Topkapi.
O sultão notou que a notícia perturbou mais do que alegrou sua amada.
- O que houve, meu coração? Não é do seu agrado a vinda delas para o palácio?
- Nós não nos dávamos muito bem, - iniciou Clara. - Estou feliz que elas sejam libertas, mas preferiria que elas fossem para outro local da cidade.
- Amanhã mesmo darei novas ordens à Engin - tranquilizou-a o sultão - segurando suas mãos e puxando-a para seu colo, onde a encheu de beijos por todo rosto e pescoço.
Mas, Clara segurou com carinho a cabeça do marido para lhe agradecer a preocupação tanto com as primas, como com as mulheres que por anos haviam morado no harém real.
Poucos dias após receber a Espada do Islã e o título de Sultão do Império, Metin chocara a corte e até mesmo o pai ao declarar que daquele em dia em diante, toda concubina do Harém receberia uma boa quantia em dinheiro se desejasse sair do palácio, além é claro, da própria liberdade.
Assim, aos poucos, as mais corajosas foram aceitando a proposta inusitada do sultão e, as outras, vendo que era real, foram abandonando suas vidas de concubinas no Topkapi. Durante aqueles meses em que Metin estivera fora, o Harém estava praticamente vazio.
- Apenas quem não tem para onde ir ficou - comunicou tristemente a sultana ao marido. - Eu e tia Bahar pensamos que poderiam ir para uma outra casa, aqui em Istambul ou outro lugar, para começarem juntas uma nova vida.
- Amanhã, nas deliberações diárias, vou discutir essas ideias com os vizires, meu anjo.
Clara pensou que o anjo era ele.
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O SULTÃO E A PRISIONEIRA
Genç Kız EdebiyatıO sultão e a prisioneira é uma história romântica, porque narra o relacionamento ideal e, por isso, fictício, entre um homem e uma mulher. O protagonista é o avesso do homem que encontramos no presente e, a história, como uma ficção, apenas utiliza...