Clara sultana, sentada no centro de uma das casas de pedra da belíssima região da Capadócia, ouvia as hatuns mais importantes das tribos da região. Ao seu lado estavam tia Bahar e tia Meryem, auxiliando a monarca com a língua e também no registro das muitas solicitações das mulheres.
Após uma tumultuada reunião com os vizires em Istambul, Meryem havia sido nomeada pelo sultão como uma consultora da política comercial do Império, o que causou muito descontentamento entre os homens mais importantes daquele reinado. Metin já esperava tal reação e, por isso, utilizou seu poder absoluto, o que não o agradava totalmente, para impor a presença da mulher nas negociações entre as várias regiões internas e externas do Império.
Mas, após conversar com mestre Nureddin e tia Bahar, percebeu que tia Meryem não representava todas as mulheres do reino, as mais simples também precisavam ser ouvidas.
- Clara sultana deve fazer isso. - iniciou mestre Nureddin - Além de representar Vossa Majestade, ela como mulher, irá entender melhor as questões que afligem nossa população feminina.
Mestre Nureddin e tia Bahar haviam conversado muito entre si sobre a sultana. Apesar de inteligente, gentil e muito capaz, a soberana vivia praticamente reclusa no pavilhão do Topkapi, recusando-se sistematicamente em cumprir uma agenda real, convivendo com um número restrito de pessoas e muito apegada à Metin.
Ambos levaram o caso ao sultão que, pensativo, concordou com a ideia e resolveu conversar com Clara sobre a ida de ambos, juntamente com tia Meryem e o casal de idosos, no retorno da tecelã à Capadócia.
A jovem sultana tinha as mãos geladas e suadas enquanto prestava atenção na fala das mulheres. Tia Bahar, mestre Nureddin e Metin a haviam instruído em alguns pontos, antes daquela reunião e em sua mente, repetia as palavras ouvidas dos lábios que amava beijar e morder.
- Você ouvirá as mulheres que tem autoridade e poder sobre outras, inclusive sobre os homens pobres - disse-lhe o sultão com ela em seu colo - não demonstre concordância ou discordância. Reflita com tia Bahar e tia Meryem. Amanhã, após conversar também com as tecelãs, em seus postos de trabalho, marcaremos uma nova reunião.
Ela sabia que os seus três mais chegados amigos tinham razão em querer vê-la participar mais da vida política do Império. Mas, muitas vezes, não se sentia à altura de toda aquela confiança depositada nela. Além disso, não se sentia à vontade na companhia de outras pessoas, que não fossem seu Metin, tia Bahar e mestre Nureddin.
- Esse apego tem que acabar. - Dissera-lhe mestre Nureddin ao se despedir no Topkapi da caravana real que levava sua esposa para a Capadócia.
- Veja o meu caso e o de Bahar - continuara o ancião. - Não ficamos o tempo todo juntos e mesmo assim, nos amamos há mais de 50 anos!
Metin, que estava ao seu lado, em outro cavalo, aproximou-se ainda mais dela que cavalgava a égua do sultão. Tocou-lhe nas mãos e a testa na dela, como sempre fazia para dizer-lhe sem palavras, que dizessem o que quisessem, era uma escolha somente deles estarem juntos ou não.
Clara sultana sabia que precisava mudar algumas coisas, mas não queria mudar tudo. Sentia prazer em estar com o sultão, o maior tempo possível e compartilhar com ele sua rotina. Se mestre Nureddin e tia Bahar não tinham esse costume, isso era com eles. Mas não disse nada.
Estava fazendo aquele esforço por ela, por Metin, mas também porque concordava com a ideia dos três de que nenhum ser humano deveria ter poder de vida ou morte sobre o outro, como Metin possuia e para lutar contra o exercício de poder entre as pessoas, entre homens sobre mulheres e crianças e mesmo a existência da escravidão, seriam as pessoas que deveriam começar a pensar sobre a crueldade do sistema e não esperar que o sultão ou a sultana fizessem isso.
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O SULTÃO E A PRISIONEIRA
Romanzi rosa / ChickLitO sultão e a prisioneira é uma história romântica, porque narra o relacionamento ideal e, por isso, fictício, entre um homem e uma mulher. O protagonista é o avesso do homem que encontramos no presente e, a história, como uma ficção, apenas utiliza...