PARTE II A CAMINHO DE ISTAMBUL Capítulo 1

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Nos primeiros dias de viagem, Clara ficava entre a consciência e inconsciência. Apesar de já estar se alimentando, ainda que minimamente, sentia um sono que não conseguia controlar e, a muito custo, mantinha-se acordada para auxiliar Metin a cuidar dela mesma.

O jovem príncipe marchava rumo à sua casa, sério e taciturno; além da preocupação com sua amada jovem, sabia que encontraria surpresas pouco agradáveis em seu retorno. Conhecia a família real suficientemente bem e nunca esperava boas novas vindas de seus parentes paternos.

Sentia muita falta do tempo em que vivera com a mãe, mas era muito jovem para ter recordações vívidas como do período em que estivera na Capadócia, com os nômades da região central do Império. Fora ideia do médico Nureddin levá-lo para longe do palácio e de todo tormento pré execução de sua mãe.

Lá, não fora educado para ser sultão, mas sim um homem simples das montanhas e altas estepes. Mesmo na aldeia, mesclava o tempo entre os guerreiros, agricultores e mulheres tecelãs aprendendo de cada grupo o que de melhor poderiam lhe oferecer.

- Senhor, vamos parar um pouco para que descanse - Cem estava preocupado com seu mestre que durante o dia cavalgava em um ritmo forte e à noite, ficava alerta às necessidades de Clara.

- Ainda temos um bom período com claridade - respondeu Metin no habitual tom seguro e gentil.

O príncipe refreou as rédeas de sua égua para que pudesse contornar a carroça e observar o sono de Clara. Ela parecia bem, mas continuava muito pálida e sem falar.

Encontravam algumas caravanas pelo caminho, inclusive de comerciantes turcos de tapetes e tecidos que aproveitavam a estação amena, após as chuvas, para empreender viagens mais longas e com mais chances de bons negócios.

Em um dos encontros, Metin comprara alguns tecidos com toque suave para deixar a convalescente o mais confortável possível e Clara, com seu olhar verde agradecido, mesmo sem uma palavra, conseguira deixar o filho do sultão com desejo de comprar-lhe todos os tesouros do mundo.

- Senhor, senhor - Kenan, um dos janízaros ouvira Clara falar algo e, imediatamente, resolveu comunicar à Metin - A moça despertou.

Todos pararam, imitando o príncipe que, rapidamente desmontou e foi verificar aquela boa novidade de um dia cansativo e de muitos pensamentos a incomodar sua mente repleta de preocupações.

Subiu na parte de trás da carroça e aproximou-se da mulher que estava com os olhos semicerrados e os lábios entreabertos.

- Do que você precisa? - disse suavemente Metin.

- Água - foi a palavra dita como em um suspiro.

Cem já vinha com o cantil de água fresca, misturada com seus remédios de flores, imaginando que a moça a qualquer momento despertaria com sede ou com fome. Ou ambos!

- Vamos acampar por aqui. - O príncipe Metin achou o lugar agradável, com uma boa visão dos arredores e ao mesmo tempo, protegida de possíveis pessoas com más intenções.

- Você quer sentar? - perguntou à jovem que parecia querer algo.

- Sim, por favor. - As palavras saíram em um tom baixo, porém cada vez mais seguro.

O SULTÃO E A PRISIONEIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora