Mestre Nureddin aguardava o príncipe em um dos salões que antecediam a saída de AyaSofya. Queria falar-lhe o quanto antes, após receber notícias das províncias em conflito, chefiadas pelos filhos do sultão. O imã, vendo o velho médico, o cumprimentou, parando ao seu lado para também saudar Sua Alteza Real.
Metin e Clara aproximaram-se de ambos e o jovem notou o olhar preocupado de seu mentor.
- Meu amor, espere por mim mais alguns minutos. - disse o príncipe a Clara, que desejava sair dali o quanto antes para, após o almoço, retomar seus estudos com tia Bahar.
- Vossa Alteza - interrompeu-o o mestre - talvez seja melhor que Clara Hatun e Bahar nos aguardem em seu pavilhão do Topkapi.
O casal olhou-se triste e amorosamente. Queriam estar juntos, Metin sentia a necessidade de andar de mãos dadas com Clara, beijar-lhe as mãos, para espantar todos os temores de sua alma.
- Alteza - disse-lhe o imã - se me permitir posso acompanhá-las, junto com a escolta, até seu pavilhão.
Metin consentiu com a cabeça e, aproximando-se de Clara, beijou-lhe a testa.
- Sentirei sua falta, meu tesouro.
- Eu também - respondeu ela, afastando-se de Metin sem vontade de ir.
- Preciso lhe falar algo importante - iniciou sem rodeios mestre Nureddin. - Sei que quer ficar próximo de Clara, porque está preocupado com sua segurança. Mas o que tenho a te dizer, diz respeito a isso também.
Ambos dirigiram-se para uma das salas privadas da mesquita para que o velho médico informasse Metin sobre suas descobertas.
Sentaram-se sobre as almofadas e o ancião continuou.
- Ontem recebi a visita de uma pessoa que me mantém informado sobre o movimento de seus irmãos. Além disso, os espiões de Istambul já há alguns dias estão observando movimentos estranhos próximos ao Topkapi.
O coração de Metin pressentia esse perigo. Por isso aquele apego à Clara, a preocupação excessiva com sua segurança. Com certeza seu tio Hakan já informara seus irmãos sobre sua esposa e seu amor por ela. Clara era seu ponto fraco e os filhos do sultão não teriam problemas de usá-la contra ele.
- O senhor interceptou algum plano contra Clara? - interrogou o então calado Metin.
- Sim, dois deles. - Comunicou-lhe o mestre.
- E, mesmo assim, pediu para que Clara e Bahar não ficassem conosco...
Mestre Nureddin conhecia Metin desde que nascera. Fora ele que fizera o complicado parto, porque a parteira real não sabia mais o que fazer para auxiliar a concubina real a parir a criança. Sentiu a contrariedade de seu pupilo.
- Elas estão seguras, não se preocupe.
Metin não respondeu ao mestre, em respeito a tudo o que ele representava, mas não concordava.
- Bahar sabe de tudo Metin. Sabe como proceder tanto na segurança no percurso quanto na alimentação.
Metin tinha a expressão carregada e sisuda. Mas não disse nada.
Então os irmãos planejavam sequestrá-la e, caso não conseguissem, envenená-la. Exigir que ficasse fora de seus planos em troca da vida de seu amor ou, simplesmente, fazê-lo perder-se na dor de perdê-la.
- Meu senhor - disse Nureddin - o único jeito de proteger Clara é tornar-se sultão, acabar com o conflito, prender seus irmãos e executá-los sem demora.
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O SULTÃO E A PRISIONEIRA
Literatura KobiecaO sultão e a prisioneira é uma história romântica, porque narra o relacionamento ideal e, por isso, fictício, entre um homem e uma mulher. O protagonista é o avesso do homem que encontramos no presente e, a história, como uma ficção, apenas utiliza...