Capítulo 2

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Antes de tomá-la em seus braços, Metin cedeu aos apelos do médico que também fazia parte de sua comitiva, para verificar as condições gerais da moça, uma vez que poderia ter sido abandonada à própria sorte devido a algum indício de doença contagiosa que a acometera. O local lacrado pelo cadeado não seria uma indicação?

Como o doutor demorava para finalizar o exame, o jovem afastou com seu corpo o médico e, gentilmente, acomodou a moça em seus braços, ajeitou a cabeça da desacordada mulher em seu ombro para que não ficasse pendente, enquanto seus homens, cada vez mais enojados com o cheiro forte do local, não viam a hora de sair dali e respirar ar fresco.

- Vossa Alteza, por favor, cubra o nariz e a boca caso o que a acometeu seja contagioso - Engin utilizava um lenço para proteger-se e olhava horrorizado para o descuidado senhor.

Metin não se importava com aquele cheiro. Há muito tempo, ainda menino, fora com um médico à prisão real para ver sua mãe que, acusada de adultério, aguardava sua execução. Vira outras pessoas em condições similares e a memória olfativa reconheceu o cheiro da violência e abandono.

O filho do sultão levantou-se com cuidado, com a própria cabeça a apoiar a da jovem e, sem dificuldades, saiu do porão rumo ao piso superior da casa. Indo em direção ao maior dos dormitórios, colocou-a com cuidado na cama, indiferente às conversas ao seu redor. Precisava hidratá-la, aquecê-la e limpá-la. O médico Cem já o advertira no caminho entre o porão e o quarto.

- Todos saiam.- disse sem rispidez, mas com autoridade, como era de seu costume. - Turgut, aqueça água e providencie panos. Kenan, procure cobertores e uma vestimenta para a mulher. Sedar, encha uma moringa com água fresca.

Enquanto tudo era providenciado, ele e o médico, com o auxílio de uma faca, iam cortando os trapos que outrora foram o vestido da jovem.

Ao ouvir o rumor de passos dos soldados que já traziam o que lhes havia pedido, falou alto:

- Deixem os itens do lado de fora. - Ele queria preservar a intimidade da jovem mulher, sua nudez, de muitos olhares masculinos.

Enquanto o médico retirava os últimos vestígios de trapos do corpo da moça, Metin iniciou a limpeza e concomitantemente, molhou seus lábios, pingando gotas da moringa com todo o cuidado.

A pele dela estava repleta de arranhões e contusões arroxeadas, mas era fina e delicada. O filho do sultão e o médico tiveram o cuidado de lavar, secar e logo vesti-la, protegendo suas costas e o peito da friagem noturna.

Cem estava admirado com a atitude de Vossa Alteza. Sabia que era um homem muito digno, honrado e amado por todas as pessoas que o serviam em Topkapi. Porém, nunca esteve tão próximo a ele, quanto naquela inesperada viagem.

- Deixe-me limpar a região pélvica, meu senhor. Está repleta de secreções e excrementos, estou acostumado. Quando fui assistente do médico de Vossa Majestade, seu avô, fiz muito isso.

- Eu mesmo termino a limpeza Cem. Enquanto finalizo aqui e a cubro, para aquecê-la, pode preparar os remédios. - Ia dizendo e fazendo, como era seu costume, atitudes moldadas tanto pelas circunstâncias de sua vida quanto por uma inclinação natural.

O médico não discutiu e, em um pilão, macerou algumas flores que sempre trazia consigo com outras que colhera tanto nos arredores da casa quanto durante a viagem. Ele e Metin, durante toda a noite, molharam os lábios e gengivas da jovem com aquele líquido e também umedeceram seus pulsos e atrás das orelhas, conforme o doutor havia aprendido com seus mestres.

O SULTÃO E A PRISIONEIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora