PARTE IX BODRUM Capítulo 1

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Enquanto Clara sultana, aos pés do pai de Metin, trocava-lhe as bandagens das pernas, o sultão conversava com tias Meryem e Sumru, o vizir Engin e o médico Cem, em outro aposento.

A saúde do antigo sultão, desde antes da ascensão do filho, já apresentava sinais de atenção. Ele era teimoso e não seguia as dietas prescritas tanto por Cem quanto pelo mestre Nureddin. Além disso, carregava dentro do peito muitas culpas, principalmente com relação à Metin.

Após a chegada do casal real da sua visita ao antigo "Império das Duas Terras", Clara continuava a visitá-lo regularmente e tais encontros eram mais demorados, com a sultana contando sobre suas observações na terra dos faraós e seus cuidados como auxiliar do médico. Em Bodrum, não estava sendo diferente.

- Uma criada deveria fazer isso - sempre lhe dizia o pai de Metin - você é uma sultana.

- Eu preciso fazer os emplastos bem frescos antes de colocar nas bandagens e enrolar em suas pernas, meu senhor - respondia delicadamente Clara - eu preciso colocar em prática os ensinamentos de mestre Nureddin.

O antigo sultão gostava de Clara. Desde o primeiro dia, quando a comparara com a deusa Sekhmet, sentira uma grande simpatia por ela e, era algo mútuo, apesar da distância emocional entre ele e o filho.

- Esta pequena viagem, para ficar junto de seu neto, lhe fará muito bem. - Disse Clara sultana levantando, pois, terminara os cuidados daquela noite.

- Metin fala sobre mim? - perguntou, pela primeira vez, o sogro de Clara.

- Ele o perdoou pelo que fez à sua mãe - iniciou a sultana, sentando-se próxima a ele. - Ele entende agora muitas das suas atitudes do passado. Mas, ter um relacionamento de amizade com o senhor, isso levará mais tempo.

O pai de Metin sabia que a nora tinha razão. Metin havia mudado muito desde que ascendera ao trono, tentando ser menos formal com o pai e sempre cuidadoso com suas necessidades, como fora desde que voltara da Capadócia.

- O senhor verá seu neto crescer. - continuou Clara - Terá a oportunidade, com essa criança, de não cometer os mesmos erros do passado e, quem sabe, encontrar a paz que procura. Só assim, sua saúde ficará melhor. As ervas ajudam o corpo, mas o senhor precisa restaurar sua alma.

Ao ouvir aquelas palavras o antigo monarca não conteve as lágrimas. A sultana aproximou-se e tocou-lhe as mãos repletas de joias, tão diferentes das dela e Metin, sempre nuas. O anel real no polegar, símbolo de status e poder, continuava em seu dedo, uma vez que o novo sultão não o usava.

Metin, que já se despedira dos demais e desejava ler, ia beijar a esposa e verificar se ela já terminara o atendimento de seu pai, para convidá-la a passarem algumas horas agradáveis antes do sono, observando a praia em frente da janela do quarto de ambos.

Antes de entrar no aposento ele ouviu o choro do pai e parou.

Ouviu também a sultana consolando o ex monarca, dizendo-lhe palavras de carinho e conforto.

Quando decidiu entrar, sua amada olhou-o com os olhos também marejados e ele aproximou-se do pai, ajoelhando-se na sua frente, tomando, como Clara, as mãos de ambos.

- Meu pai - disse pela primeira vez Metin - amanhã meu sobrinho e sua mãe chegarão. Você terá, pela primeira vez, a oportunidade de encaminhar pessoalmente a educação do novo sultão.

O SULTÃO E A PRISIONEIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora