- Junte os pés, braços ao longo do corpo, olhe para a frente e relaxe. Feche os olhos e deixe a mente vazia. - o sultão instruía a esposa, enquanto mestre Chen corrigia a postura de Clara.
Engin os observava, sentado na mesma varanda em que o casal real praticava a arte marcial Tai Chi Chuan. O sultão convencera o mestre chinês a deixar Clara participar das aulas, afirmando que sua continuidade no aprendizado dependia disso.
O vizir sempre ficara intrigado com o modo como Metin tratava Clara. Ainda lembrava de vê-lo carregando-a em seus braços, desacordada e mal-cheirosa, sem saber o que realmente acontecera com ela. A cuidar de seus ferimentos, mas, principalmente a ouvi-la e estar atento ao que ela precisava.
O sultão ensinara a esposa a cavalgar, lutar com a espada, atirar com arco e flecha e, agora, aquela nova e diferente luta, coisas de mestre Nureddin. A tratava com todo respeito, carinho e atenção, coisas que Engin normalmente via acontecer normalmente apenas de homens para com homens.
Ele trouxera sua jovem esposa e seu filho pequeno naquela viagem porque Clara sultana insistira uma vez que, desde seu retorno do Egito, estava utilizando o antigo Harém como um local de encontro e estudo das mulheres nobres e, sua esposa, também a pedido da sultana, frequentava esses eventos.
Homens não eram permitidos, nem mesmo o sultão, para que, segundo Clara, as mulheres pudessem ter mais liberdade naqueles primeiros meses. Com o tempo, todos seriam bem vindos.
Sua esposa não lhe contava o que realmente acontecia nas reuniões, dizendo apenas que estavam estudando sobre saúde feminina com tia Bahar. Engin desconfiava que não era apenas isso.
A ida de Clara para o Topkapi, mudara todas as coisas, desde a ascensão do sultão Metin até mesmo a mudança de função do Harém real. O antigo sultão também ouvia com toda a atenção a nora, concordando com suas ideias mirabolantes.
Ela queria, o sultão fazia. Mas, Engin precisava concordar, os dois eram muito felizes um com o outro e, o reino estava em paz e prosperava.
O que, então, o incomodava?
Talvez o fato de parecer que tudo estava em um lugar diferente daquele que parecia ser seu lugar de origem. Mulheres turcas sempre lutaram e trabalharam nas tribos, mas em uma posição inferior aos homens. Agora, além da sultana simplesmente fazer tudo o que queria, com a autorização do sultão, tia Meryem, uma tecelã, fazia parte do conselho de comércio, o harém não era mais harém, era um tipo de escola de mulheres e sabia-se lá o que tramavam com aquela estrangeira.
- Minha mente não para de pensar - disse rindo Clara sultana para Metin, que estava sério assim como mestre Chen.
- Respire fundo - pediu delicadamente o sultão - feche os olhos e deixe a mente tranquila. Concentre-se na sua respiração.
Engin não conseguia entender o sultão. Tão rico e poderoso, jovem e com uma aparência sedutora e viril, qualquer mulher do Império estaria aos seus pés pronta para atender a todos seus pedidos. E, ele? Ali, com um estranho chinês a lhe mandar fazer movimentos sem sentido para o vizir e os dois ensinando a uma mulher que estava mudando a ordem do mundo, à partir do Topkapi.
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O SULTÃO E A PRISIONEIRA
Chick-LitO sultão e a prisioneira é uma história romântica, porque narra o relacionamento ideal e, por isso, fictício, entre um homem e uma mulher. O protagonista é o avesso do homem que encontramos no presente e, a história, como uma ficção, apenas utiliza...