Capítulo 2

8 1 1
                                    

Enquanto o sultão fazia os graciosos movimentos daquela arte marcial com mestre Chen, Clara sultana e Sumru os observavam da janela do quarto do casal. A vinda do sobrinho de Metin fora marcada em Bodrun por causa de mestre Chen que, amigo de mestre Nureddin e do sultão, abrira uma exceção para ensinar Metin uma arte só conhecida por sua família.

- Tenho certeza que Vossa Majestade a ensinará essa nova "arte". - disse Sumru à sultana, escovando seus cabelos.

- Se Metin fosse como a maioria dos homens, assim que eu me recuperasse, voltava para minha casa.

- Mesmo o amando? - indagou-lhe surpresa Sumru.

- Como poderia amar alguém que me faz mal? - a sultana falou calmamente - para mim o amor tem que ser alimentado todos os dias, com muito carinho, atenção, respeito e amizade.

Sumru em sua aldeia na Capadócia nunca fora escolhida para ser esposa, o que, de certa maneira, a agradara porque pudera acompanhar Metin em seu retorno à Istambul. Sempre fora ela, desde muito jovem, a quem Metin procurava nos momentos mais difíceis e assim ela fora esquecida na corrida por um esposo. Mas, nutria há alguns anos, uma paixão secreta pelo médico Cem.

- Desculpe meu mau-humor Sumru - falou Clara olhando nos olhos da amiga. - Eu sei que Metin irá compartilhar comigo o que aprender, mas fico muito irritada com o fato de que, nós mulheres, somos excluídas de quase tudo devido ao nosso sexo.

- É a vontade de Allah, majestade. - respondeu resignada Sumru, trançando os longos cabelos castanhos de Clara.

- Não acredito nisso.

A criada não ficou surpresa com a resposta. A jovem sultana parecia não seguir regra alguma, exceto o que desejava fazer. Sumru ainda lembrava das cicatrizes que vira em seu corpo, quando a ajudara em seu primeiro banho no Topkapi.

- Para Deus somos todos iguais Sumru. Foram os homens, principalmente, os que causaram essa divisão de tarefas para nos dominar.

Sumru teve a impressão de ouvir a mãe de Metin falando, quando ela ainda morava na aldeia e ela e Sumru eram amigas.

- Eu sei - iniciou reflexiva Clara - que Metin me ajudou porque viu em mim muito da mãe, tudo o que ela passou. E, que temos muitas coisas em comum, eu e ela. Talvez essa seja a explicação para que ele me ame.

- Ele a ama porque Vossa Majestade é uma mulher maravilhosa - respondeu Sumru com sinceridade. - A cada dia encontramos um motivo para amá-la. Com o sultão não tem sido diferente.

Clara interrompeu o trabalho de Sumru em seus cabelos e, com os olhos marejados, abraçou a mulher. Ficou imensamente feliz em ouvir que a amiga, que também era sua auxiliar, a amava. 

O SULTÃO E A PRISIONEIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora