Capítulo 4

23 1 0
                                    

- Vossa Alteza, precisamos conversar. - Cem observara a entrada do príncipe na sala de audiências e aguardava sua saída para falar-lhe algo que antes mesmo da viagem o incomodava.

Metin queria ir o mais rápido possível ao encontro de Clara, mas o rosto e o olhar de Cem demonstravam urgência.

- Vamos nos acomodar sob o carvalho e ali conversamos - disse Metin com sua polidez habitual, tocando os ombros do médico.

Cem se afeiçoara ao filho do sultão. Queria contar-lhe o que ouvira entre seu pai e o tio, mesmo que pudesse ser tido como alcoviteiro. Sabia que o príncipe acabara de falar com ambos, dando o relatório final do que vira naquela missão aparentemente sem importância, mas que na verdade, podia decidir os rumos da sucessão do Império.

Sentaram-se sob a sombra convidativa da árvore que naquele belo entardecer envolvia o local, permeada com as nuances da luz que teimava em iluminar com belas cores o tapete verde natural em que se acomodaram.

- Sei que Vossa Alteza está cansado da viagem e desejoso em desfrutar da companhia de Clara - ousou dizer o médico, observando a expressão sempre séria do príncipe - mas, desde o início de nossa jornada, preciso lhe contar algo que ouvi do sultão e de seu tio quando atendia Vossa Majestade.

- Estou ouvindo Cem - Metin gostava do médico e confiava nele. Era competente em seu ofício e lhe demonstrava uma reverente afeição. Sabia que era rabugento com Clara, mas computava isso como uma preocupação com o filho do sultão e até mesmo com o Império. Não era por desgostar da moça.

- Quando partimos de Istambul - iniciou Cem - nossa missão era acompanhar o roteiro de seu primo e verificarmos se ele realmente estava atacando as pessoas das províncias fora do domínio do Império, contrariando vários acordos que Vossa Majestade fizera por intermédio de seus filhos, irmãos de vossa alteza.

- Sim. - Metin nunca acreditara que a missão era apenas essa, tinha plena consciência da sagacidade tanto do tio quanto da do próprio pai.

Tranquilizado pela serenidade do príncipe, o médico continuou.

- Vossa Majestade e seu tio, na verdade, queriam criar um conflito entre Vossa Alteza e seu irmão mais velho.

Metin sorriu levemente. Imaginava ser esse o real motivo. A única coisa que o intrigava era a concordância de seu tio que ele sabia não concordar com sua ascensão ao trono.

- Esperavam que seu primo percebesse nossa presença e isso causasse um conflito entre vocês dois e por consequência com seu irmão... - informou Cem em uma só respiração, ficando ofegante, mas aliviado.

O príncipe pensava no tio e sua predileção pelo segundo filho do sultão. Com Metin e seu irmão mais velho em conflito, o caminho para o trono ficaria mais livre para o preferido de Hakan.

- Eu agradeço a você Cem, pela coragem de me contar o que ouviu de meu pai e tio. Sei que o fez para me alertar e o que contou, ficará entre nós.

Metin esperou que o médico se levantasse primeiro e, com uma reverência se despedisse. Odiava aqueles jogos da corte, mas fazia parte de quem ele era e precisava ficar atento ao desenrolar daquela situação. Precisava preparar-se para o confronto que poderia acarretar ou não problemas mais sérios para seu futuro. 

O SULTÃO E A PRISIONEIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora