Capítulo 3

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Quando os portões do Topkapi se abriram para a chegada do triunfante sultão, uma comitiva de altos funcionários e empregados correu para saudá-lo, surpresos com a discrição do momento. Em outros tempos, uma vitória sobre qualquer inimigo, fosse externo ou interno, seria anunciada desde a entrada da cidade.

Mas, Metin não era como os outros monarcas. Ele não via razões para comemorar a prisão e exílio dos irmãos que muitos esperavam que o novo sultão matasse, juntamente com suas famílias.

- Vossa Majestade, seja bem vindo! Adiantou-se Engin, realmente feliz com o retorno do novo sultão.

Metin saudou-o com a mão direita no coração e um aceno de cabeça, procurando com olhar sua Clara, uma vez que identificou mestre Nureddin, tia Bahar e Sumru vindo ao seu encontro, deixando o pavilhão particular para cumprimentá-lo.

Conduzindo sua égua em direção aos três, encontrou-os com sorrisos abertos e exclamações de felicidade.

- Onde está Clara? - foi a primeira frase que ouviram.

Mestre Nureddin e Sumru olharam-se e foi tia Bahar quem respondeu ao monarca.

- Ela está dormindo majestade! Ela tem passado as noites em claro e, apenas ao amanhecer, dorme por algumas horas. Não tive coragem de acordá-la.

Ao ouvir aquilo o peito de Metin apertou-se novamente. Ela não dormia por sua causa.

Despediu-se delicadamente do grupo que voltaria para o pavilhão a pé enquanto ele conduziu Özgürlük até a entrada. Apeou e rapidamente amarrou a égua na balaustrada, subindo sem demora os degraus e mesmo sem se lavar, como sempre fora seu costume, dirigiu-se até o aposento real no qual repousava seu sonho.

Com todo o cuidado ele abriu a porta do quarto que estava em penumbra. Clara, muito magra e abatida, dormia com um ruga na testa e sua expressão era de tristeza. O jovem sultão não conseguiu conter as lágrimas que tal imagem lhe causava, aproximando-se sem fazer barulho.

Ao lado da cama havia uma jarra com água sobre uma bacia e ele lavou as mãos antes de tocar naquele rosto tão amado e do qual ele sabia todo o contorno de cor. Sonhara com esse momento desde que, há meses, a beijara pela última vez, sem saber se o faria novamente.

Ela estava nua sob o lençol, com as mãos a proteger o coração e os joelhos próximos aos seios. Parecia tão frágil e solitária, como quando ele a encontrara acorrentada na prisão.

Metin deixou o quarto com todo o cuidado para preparar-se para quando sua Clara despertasse espontaneamente. 

O SULTÃO E A PRISIONEIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora