Dentro da antiga igreja bizantina, agora mesquita, Clara aguardava, na parte superior, seu marido terminar as orações do meio do dia. Ao seu lado, Bahar, esposa do mestre Nureddin lhe fazia companhia. Passada apenas uma semana de sua chegada à Istambul, sua vida mudara completamente.
Agora ela era uma Hatum, esposa, mesmo que continuasse a ser cristã. Ela sequer cogitou o fato de uma possível conversão, pois para ela eram coisas diferentes: casamento e conversão à outra religião.
Enquanto as mulheres aguardavam o príncipe, a senhora Bahar explicou a Clara que as antigas pinturas cristãs haviam sido veladas com uma nova pintura e o majestoso local fora coberto por trechos do Alcorão e os 99 nomes atribuídos a Allah.
Ela gostaria de ter visto a igreja original, pois como explicou o mestre Nureddin, mesmo os cristãos eram diferentes entre si, e os que dominaram Constantinopla, antigo nome de Istambul, eram ortodoxos.
Após o primeiro dia de amor entre ela e Metin, os dias tinham sido repletos de compromissos e preparações e as noites, mesmo estando ambos cansados, seus corpos pediam para que se amassem. Assim, sentia-se exausta, porém muito feliz com aquele novo mundo que se lhe abria as portas e janelas.
Seu primeiro encantamento foi acordar e ser pedida em casamento pelo homem que ela amava e sabia-se amada; logo em seguida, no mesmo dia, após o desjejum matinal, foram conhecer mestre Nureddin e sua esposa Bahar, que moravam próximos ao mar, aquele mar de Mármara que a havia conquistado.
Mesmo protegidos pelos janízaros que acompanhavam a bela égua do príncipe, Clara sentia-se livre, para a qualquer momento, pedir para Metin parar o animal e ela apreciar um ou outro elemento daquela linda paisagem.
- Clara Hatum, deseja sentar-se? - traduziu a senhora Bahar que percebeu que Clara estava apenas com o corpo em AyaSofya e não notara que um serviçal da mesquita vinha oferecer uma cadeira para a ilustre visitante.
- Não, obrigada. Vou aguardar o fim das orações, conhecendo um pouco mais desse lindo lugar. - Disse Clara ao homem que não a compreendeu, o que uma tradução da senhora Bahar logo esclareceu.
Dias antes, Mestre Nureddin e a esposa, assim que a viram aproximar-se com o príncipe, a recepcionaram como se ela fosse filha ou neta deles; ambos falavam seu idioma e logo o jovem casal estava dentro da simples residência/laboratório natural do médico. Enquanto Bahar foi lhe mostrar as ervas e flores colhidas à pouco, mestre Nureddin foi conversar com seu pupilo e senhor.
Clara olhou através de uma das janelas de AyaSofya e viu a mesquita Azul. Sorriu ao pensar que Metin era a Mesquita Azul e ela AyaSofya, a antiga igreja. Frente a frente uma da outra; mas, a igreja bizantina não tivera a mesma sorte que ela e fora obrigada a converter-se.
No dia em que visitaram os anciãos queridos de Metin, ficou acordado que ambos lhe ensinariam turco e os segredos das formulações de plantas e, para isso, primeiro Metin sugeriu que ambos se mudassem para seu pavilhão em Topkapi.
- Eu quero vir aqui todos os dias. - manifestou-se Clara antes do médico, que também preferia continuar em sua própria casa.
Metin desejava que ela não saísse da segurança de seu pavilhão, sempre vigiado por janízaros fiéis a ele. Deslocamentos a colocariam em constante perigo, mesmo com a escolta. Mas, ele não queria impor sua vontade, principalmente a ela.
- Alguns dias nós iremos e outros senhorita Clara poderá vir - disse suavemente a esposa do médico que conhecia o marido e também percebera na jovem um desejo de não ficar confinada no palácio.
O casal de idosos permaneceu em silêncio, esperando a palavra do príncipe e, Clara, percebendo que seu desejo só seria validado com a resposta de seu amado, perguntou-lhe docemente.
- Posso vir estudar aqui com eles, alguns dias?
A razão e a praticidade lhe diziam para negar o pedido; o coração e a empatia para que cedesse.
- Eu e o mestre Nureddin iremos conversar com o imã agora. Quando voltarmos, lhe darei uma resposta. - disse-lhe Metin beijando-lhe a testa.
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O SULTÃO E A PRISIONEIRA
ChickLitO sultão e a prisioneira é uma história romântica, porque narra o relacionamento ideal e, por isso, fictício, entre um homem e uma mulher. O protagonista é o avesso do homem que encontramos no presente e, a história, como uma ficção, apenas utiliza...