Hospital

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Alice narrando

Acordo e tento abrir os olhos, mas a claridade me impede.

Depois de finalmente abri-los eu vejo onde estou, reconheço o lugar, afinal, desde que comecei a morar com Gabriel o hospital é minha segunda casa.

Gabriel...

As lembranças me invadem, fazendo meu olhos transbordaram e minha respiração se acelerar.

De novo... ele me machucou de novo.

Mesmo indo embora ele não me esquece, aquela praga não me deixa em paz. Será que ainda não viu o tanto que fodeu com a minha vida?!

Aos poucos eu vou me acalmando mas as lágrimas continuam a cair pelo meu rosto.

Uma voz...

Pode ter sido coisa da minha cabeça, mas eu escutei alguém falando comigo enquanto eu estava desacordada.

Olho para o meu corpo e vejo o novo estrago que ele fez.

Tento respirar fundo mas a dor me corrói por dentro.

Ele me tocou, me bateu e me espancou, deixando meu corpo jogado naquele beco sujo.

Sinto minhas mãos começarem a tremer e não sinto mais ar nos meus pulmões. Tento puxar o ar mas nada saí. O desespero se mistura com as memórias, as lembranças do que aquele nojento fez.

— Alice- Diz uma moça de branco entrando correndo no quarto.

Provavelmente é médica ou enfermera. Ela me ajuda a regular minha respiração e me dá um pouco de água.

— O..briga..da- Digo a agradecendo- A quanto tempo estou aqui?- Pergunto.

— Duas semanas. O delegado te achou machucada e ligou para ambulância. Tá famosa no hospital- Fala brincando.

— Famosa?- Pergunto confusa.

— Sim... A famosa moça que foi encontrada pelo delegado Almeida- Diz fazendo uma voz estranha me causando risada leve- Com todo respeito ao seu namorado- Fala rapidamente.

— O que? Eu não namoro. Nunca nem vi o delegado- Falo a acalmando.

— Sério? Todos juramos que vocês tinham algo, porque ele é muito carinhoso e prestativo ao que refere-se a você. O delegado dorme aqui todos os dias e sempre arruma os seus cabelos- Fala apontando para o meu penteado.

Sei que a mesma está tentando amenizar a situação com esse assunto. Quando fui hospitalizada outras vezes as enfermeiras faziam o mesmo, uma até chegou a me contar sua vida inteira.

Fico surpresa com o que ela diz sobre o delegado, mas sou interrompida dos meus pensamentos quando alguém bate na porta.

— Atrapalho?- Pergunta um homem branco, alto, sarado dos cabelos castanhos e olhos claros.

Sua voz...me parece familiar

— Imagina delegado, vim só ver a bela adormecida- Fala a enfermeira que eu não sei o nome, se afastando e indo embora.

Ele me olha e se aproxima da cama onde estou. Por algum motivo sinto paz e sentimento de segurança vindo dele.

— Como se sente Alice?- Perguntou preocupado.

— Estou bem na medida do possível- Falo sincera.

— Ah... desculpe eu esqueci. Me chamo Matheus, sou o delegado. Acho que a enfermeira já falou de mim- Diz me cumprimentando.

— Obrigada por ter me ajudado delegado- Agradeço sem graça desviando o olhar para minha mão que não está enfachada.

— Querido... cheguei- Falou um moreno, alto e musculoso dos olhos verdes entrando.

— Estamos em um hospital Paulo- Avisa Matheus.

— Foi mal, mas hoje é motivo de alegria- Então ele finalmente me olha- Até que enfim a bela adormecida acordou. O grandão ali ia ficar careca antes da hora, de tanto puxar o cabelo nervoso- Fala apontando para o delegado que o manda um olhar matador.

Fico sem graça com a Fala do moreno e sinto minhas bochechas rosarem.

— Alice...- Fala Matheus me chamando atenção- Você sabe quem fez isso com você?- Perguntou.

Eu apenas assenti, provavelmente se eu falasse iria gaguejar.

— Você pode denunciá-lo, não só pode como deve- Fala me olhando preocupado.

Só de pensar em ter mais contato com ele um arrepio passa pela minha espinha.

— Não... não confio na polícia - Falo desviando de seu olhar.

Por mais que eu sentisse confiança nele eu não poderia arriscar. Outra, o pai do Gabriel é policial, ele mexe seus pauzinhos e o filho nunca saí prejudicado, já tentei denunciá-lo, só me ferrei no final.

— Ok- Diz contra gosto- Preciso que me fale o nome, endereço ou número de algum parente- Fala sério.

— Não tenho ninguém- Falo simples - Moro sozinha, posso passar o endereço da casa- Ofereço.

Anoto o endereço da minha casa e a enfermeira volta para me dar banho.

Os homens saem do quarto e a Denise, a enfermeira, me leva para o banheiro.

[...]

Saio do banho um pouco melhor. Vi o estado dos hematomas e me acabei de chorar, mas pelo menos eu estava mais limpa. Porém ainda me sentia suja.

Eu fiz vários exames para saber como eu estou, e se estivesse tudo bem eu iria ter alta.

— Vejo que já está melhor senhorita Rodrigues- Fala a médica vendo o resultado dos exames- Pode ir para casa. Mas vai precisar tomar os remédios passados, fazer repouso e vir daqui uma semana ver a torção no pé- Falou me liberando.

Suspiro aliviada. Não gosto de hospitais.

Matheus e Paulo estavam presentes na sala, pareciam felizes com a notícia da alta.

Denise me levou até o banheiro e me ajudou a colocar uma roupa que Paulo foi buscar na minha casa.

Era um vestido longo de mangas longas.

Depois ela me ajudou a ficar em pé para eu sentar na cadeira de rodas, e a todo momento os olhos do delegado nos acompanhavam.

Me despeço da enfermeira e da médica.

É isso. Agora eu me preocuparia em me recuperar. Quando estivesse melhor eu iria arrumar outra casa. Não me sinto segura... não agora que ele sabe onde eu trabalho e provavel a onde moro.

Meu DelegadoOnde histórias criam vida. Descubra agora