A verdade

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Assim como eu pedi, Matheus ligou para Paulo e o mesmo veio rapidamente.

Os dois homens a minha frente me encaram enquanto eu tento criar coragem para contar a minha vida turbulenta e tóxica.

— Ele se chama Gabriel Vasconcelos- Digo iniciando a história- Começamos a namorar quando eu tinha 15 e ele 23. Eu morava com meu pai e minha madrasta, mas não me dava bem com nenhum dos dois e depois de uma discussão com a mulher do meu pai ele me mandou embora de casa, então eu fui morar com o Gabriel.

— Era a típica história de relacionamentos tóxicos. No começo tudo lindo e maravilhoso e depois ele mostrou quem realmente era- Falo tomando ar para continuar a história.

Os dois prestavam atenção em tudo. E suas caras eram de pura raiva.

— Ele começou a implicar com as minhas roupas, a escola e os trabalhos que eu tinha que fazer na casa de outras pessoas. Até que um dia enquanto ele brigava comigo por conta de ciúmes, começou um ataque de raiva e ele me deu um tapa. Eu simplesmente não sabia como reagir e o que fazer. Logo no outro dia ele veio com flores, chocolate e presentes pedindo perdão e jurando que aquilo nunca mais iria acontecer, mas obviamente era mentira.

— Depois daquele dia, as brigas pioraram e ele começou a me agredir em todas elas, sendo verbalmente ou fisicamente - Dou uma pausa para segurar as lágrimas que transbordaram nos meus olhos.

— Tudo já tinha mudado, não tinha mais nada igual a antes.
Ele insistia muito e me forçava a ter relações com ele, e eu sedia porque não queria saber o que iria acontecer comigo se eu negasse.

— Eu já fiz muitos boletins de ocorrência contra ele, e os vizinhos também, pois eles viam a minha situação. Mas o Gabriel nunca nem ficou preso por uma hora. O pai dele é policial e tinha seu jeito de livrar o filho das acusações e me taxar de louca e problemática.
Eu já estava farta da situação, mas eu não sabia como sair daquela relação tóxico. Não tinha amigos ou familiares para me ajudar, não tinha dinheiro e nem um lugar para ir seu eu fosse embora - Digo com voz chorosa.

Era muito difícil contar tudo o que eu vivi com aquele maldito. Ele terminou de foder com a minha vida que já não era lá essas coisas.

— 6 meses antes de eu fazer 18 anos, comecei a guardar dinheiro escondido. Eu ajudava na cantina da escola, fazia doces em casa falando que era pra mim e os vendia.
Uma semana depois do meu aniversário de 18 anos eu tinha dinheiro suficiente pra fugir. Procurei uma casa aqui em São Paulo e fui atrás de trabalho, para quando eu fugisse já estivesse tudo pronto.

— Um dia antes da fuga ele chegou em casa bêbado. E ele...- Dou uma pausa para ter estômago em contar- Ele começou a gritar comigo, nós discutimos e quando eu disse que ia embora ele começou a me bater- Suspirei engolindo o choro- E me... abusou - Digo já não suportando mais o choro- Não tinha sido como das outras vezes, tinha sido mil vezes pior.
Quando ele dormiu eu bati com um prato na cabeça dele e ele desmaiou, eu aproveitei e fiz minhas malas e fugi.
Fiquei horas na rodoviária esperando o ônibus para São Paulo saí. Quando saiu eu entrei e vim pra cá.

— Comecei minha vida do zero. Arrumei um trabalho, comecei a faculdade de dança e me virava do meu jeito, mas aí ele me achou e me deixou daquele jeito quando me encontraram no beco- Falo terminando de contar os horrores que eu vivi com Gabriel em meio aos soluços .

Paulo se aproximou e me abraçou com força fazendo carinho no meu cabelo.

— Eu sinto muito pequena. Não imaginava que você tivesse passado por tudo isso- Disse fazendo carinho em minhas costas- Mas agora você tem a gente e nós vamos te proteger- Falou tentando me tranquilizar.

Ele saiu do abraço e me encarou.

— Vamos estar sempre com você ouviu?- Perguntou limpando as lágrimas do meu rosto.

Eu apenas assenti. Ele olhou para o Matheus e se levantou.

— Vou ir atrás do nome dele e do pai dele- Contou o que pretendia fazer.

— Gabriel Vasconcelos de Andrade e Antônio Vasconcelos Souza- Falo dando os nomes para facilitar a busca.

Paulo da um beijo em minha cabeça e saí da casa. Era de manhã, chuto ser umas 06:30. Então provavelmente ele já foi direto para a delegacia.

Me virei para frente e vi que o delegado me encarava.

Em silêncio ele caminhou até mim e me abraçou. Por conta da diferença de altura sua cabeça ficava em cima da minha.

Eu retribui o abraço e ficamos daquele jeito por alguns minutos.

Seu abraço me trazia uma sensação boa, uma que eu nunca senti na vida. Era uma sensação de segurança, cuidado, carinho e preocupação.

— Eu estou aqui florzinha- Susurrou no meu ouvido.

Era ele... A pessoa que disse "eu vou cuidar de você florzinha". Escutei essa frase duas vezes e nas duas eu estava desacordada. Achei que era coisa da minha cabeça mas não... Era o anjo que me salvou.

Eu confiava e acreditava em suas palavras e nas de Paulo. Eles estavam realmente cuidando de mim, não tinha más intenções como Gabriel tinha.

Só não queria me apegar demais a eles.

Meu DelegadoOnde histórias criam vida. Descubra agora