A vizinha

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Alice narrando

Acordo com um calor desgraçado, pingando de suor.

O clima em São Paulo é louco. De manhã estava fresco, e agora por volta das 18:00 o mormaço quente engolia a gente.

Me levantei e fui até o banheiro e tomei um banho longo. Lavei o cabelos já que o mesmo estava sujo de suor.

Termino o banho e me troco, em seguida eu caminho até a cama e me preparao para pentear minha bucha. Por ter o cabelo batendo no final da cintura eu acabo tendo dificuldade em desembaraça-lo.

É tanto nó que chego pingar de suor novamente.

Resmungo irritada. O calor me deixa agoniada e esse cabelo não ajuda.

- Você penteia o cabelo ou tenta arrancá-lo?- Perguntou Matheus atrás de mim.

- Os dois- Digo frustrada- Qualquer dia eu passo a tesoura e meto um Chanel- Falo séria, porém caio na risada com sua feição.

- Não! Pelo amor de Deus, não faça isso com a minha terapia- Fala ele me virando de costas para si e penteado meus fios delicadamente.

- Sua terapia?- Pergunto confusa.

- Quando você estava internada eu ajudava as enfermeiras a pentear e a trançar seu cabelo. Fazia isso depois do trabalho e me ralaxava muito- Conta com voz de nostalgia.

- Fique a vontade para fazer isso quando quiser- Falo sentindo o mesmo se animar.

Ele penteia meu cabelo cuidadosamente, tirando todos os nós sem me machucar. É gostoso a sensação de alguém mexendo em seu cabelo, sempre gostei... Gabriel fazia isso no começo de nosso relacionamento, acariciava meu cabelo e o elogiava, mas depois só usava meus fios para eu não correr de suas agressões. Me lembro que muitas vezes durante crises de ansiedade, eu pensava em cortá-los, os deixar bem curto ou até ficar careca.

Des de pequena eu gostava de cabelo grande, afinal, minha princesa da Disney favorita era a Rapunzel. Minha auto estima dependia do meu cabelo, e eu ter chegado a tal ponto de querer cortá-lo por conta daquele desgraçado, me fazia ver ao ponto que aquele relacionamento tóxico me fez pensar.

- Ta tudo bem?- Perguntou Matheus me tirando de meus pensamentos.

- Sim, por que?- Perguntei me virando e encarando o mesmo.

- Do nada você ficou quieta, com uma cara triste- Explicou encarando meus olhos, como se buscasse algo.

- Lembranças...- Falo vagamente sem entrar em detalhes - Preciso falar com Você e o Paulo- Digo.

Ele apenas assente.

Ficamos nos encarando por muito tempo em silêncio. Suas esferas castanhas tinha um brilho intenso, o qual eu não sabia identificar.

Até que seu olhar desceu até a minha bocas. Senti a mesma ressecar e uma vontade enorme de beijá-lo, mas me contive e me levantei da cama, saindo daquele transe.

- Vou esquentar a janta- Nem esperei o mesmo responder e sai para a cozinha.

Peguei as comidas e comecei a esquentar as mesmas. Depois fui arrumar a mesa.

Escutei a televisão sendo ligada, mas ignorei.

Logo a porta foi aberta e um furacão, vulgo Paulo, entra na casa.

- Cheguei família- Diz gritando.

- Jura? Ninguém percebeu- Falo implicando.

- Eu sei que você me ama pirralha- Fala me dando um abraço.

Nós sentamos na mesa e começamos a jantar enquanto Paulo falava sobre seu dia na delegacia.

Durante a refeição eu senti muitas vezes o olhar penetrante do delegado em mim, fingi que não percebi e segui o baile.

Quando terminamos de comer, eu  iniciei o assunto.

- Tem uma antiga vizinha minha, que poderia servir de testemunha para o caso- Digo chamando a atenção dos dois.

- Ela via as agressões? Sabia?- Perguntou o delegado interessado no assunto.

- Era ela que chamava a polícia durante as brigas violentas, também cuidava dos meus machucados e tirava fotos dos mesmo. Dona Maria dizia que era para quando eu perdesse o medo de denúnciar. Registrava tudo, vídeo de brigas nossas, hematomas e ameaça que ele fazia- Conto a eles que me encaram seriamente.

- Posso ir lá tentar falar com ela amanhã- Se ofereceu Paulo.

- Eu também vou- Anúncio.

- É perigoso- Alertou o delegado.

- Se você chegar lá procurando informações para me ajudar, ela não vai contar nada achando que armação do pai do capeta- Explico.

- Eu vou junto. Pelo que você disse ela era sua vizinha, então temos grande chances de encontrar seu ex- Fala o delegado carrancudo.

Ele ficava assim toda vez que pronunciava algo do Gabriel ou sobre ele.

- Ok, vamos nós dois disfarçados- Diz Paulo se referindo a ele e o delegado- Se ele pisar na bola caso te veja, nós vamos estar lá e já colocá-lo no camburão- Fala divertido, acho que imaginando a cena.

- Se ele não receber uma bala na testa antes- Diz o delegado sombrio.

Eu o encaro.

- O que? Vai que ele tenta fazer graça. Já vimos que o moleque não bate bem da cabeça- Se justifica.

É isso...

Amanhã eu voltarei aquela rua, cujo uma das casa é carregada de memórias de violências físicas, mentais e sexuais.

Meu DelegadoOnde histórias criam vida. Descubra agora