17. queimando 💫

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Por um período interminável só o que havia era a tortura causticante e os meus gritos mudos, implorando pela morte. Nada mais. Nem mesmo o tempo; o que tornava aquilo infinito, sem início nem fim.




Um momento infinito de dor.



A única mudança veio quando de repente, inacreditavelmente, a dor duplicou. A metade inferior do meu corpo, entorpecida desde antes da morfina, de repente também estava em chamas. Alguma conexão rompida tinha sido curada - refeita pelos dedos abrasadores do fogo. O ardor interminável prosseguia em sua fúria.



Poderiam ter sido segundos ou dias, semanas ou anos, mas por fim o tempo voltou a significar alguma coisa... Três coisas aconteceram simultaneamente, surgindo uma da outra de modo que eu não sabia dizer o que veio primeiro: o tempo voltou a passar, o peso da morfina diminuiu e eu fiquei mais forte. Podia sentir o controle de meu corpo me voltando progressivamente, e esses foram meus primeiros sinais da passagem do tempo. Soube disso quando fui capaz de contrair os dedos dos pés e fechar as mãos. Eu soube, mas não fiz nada disso.



Embora o fogo não tivesse abrandado nem um grau - na verdade, comecei a desenvolver uma nova capacidade de vivenciá-lo, uma nova sensibilidade para apreciar, separadamente, cada chama devastadora que lambia minhas veias; descobri que podia pensar em meio àquilo.



Pude me lembrar do por que não deveria gritar. Pude me lembrar do motivo em estar empenhada em suportar aquela agonia intolerável. Pude me lembrar de que havia algo que talvez valesse a tortura, embora naquele momento parecesse impossível. Isso aconteceu a tempo de eu me segurar quando os pesos livraram meu corpo.



Para qualquer um que me observasse, não haveria mudança nenhuma. Mas para mim, enquanto lutava para manter os gritos e os movimentos convulsivos presos dentro de mim, onde não podiam causar sofrimento a mais ninguém. Era como se eu tivesse deixado de estar presa a uma estaca na fogueira e passado a me agarrar a essa estaca, para me manter no meio das chamas. Eu tinha força suficiente para ficar deitada ali, imóvel, enquanto era queimada viva.



Minha audição estava cada vez mais clara, e eu podia contar o batimento frenético do meu coração para marcar o tempo. Podia contar as respirações baixas e regulares que vinham de algum lugar bem perto de mim. Essas eram mais lentas, então me concentrei nelas. Isso significava mais tempo passando. Mais regular que um pêndulo de relógio, essas respirações me impeliam pelos segundos abrasadores na direção do fim.



Continuei a ficar mais forte, meus pensamentos, mais claros. Quando novos ruídos surgiam, eu podia ouvi-los.



Ouvi passos leves, o sussurro do ar deslocado por uma porta que se abria. Os passos ficaram mais próximos e senti a pressão na face interna do meu pulso. Não consegui sentir a frieza dos dedos. O fogo afugentava toda e qualquer lembrança do frio.



- Nenhuma mudança ainda? - perguntou Carlisle.



" Nenhuma." - responderam Edward e Alec ao mesmo tempo.



Uma pressão levíssima, a respiração contra minha pele em brasa.



- Não há mais cheiro de morfina - afirmou Carlisle.



- Eu sei - sussurrou Edward.




- Kris? Pode me ouvir? - perguntou Alec, próximo ao meu rosto.



Eu sabia, sem dúvida nenhuma, que se destrinchasse os dentes estaria perdida - iria gritar, berrar, me retorcer, me debater. Se abrisse os meus olhos naquele momento, se mexesse um dedo que fosse - qualquer mudança seria o fim do meu auto-controle.




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