06|MAMÃE

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—|O ÚLTIMO DIA EM ILHA
GRANDE DO SUL|—

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—|O senhor Boros Dantas possuía estatura alta, cabelos pretos como a noite e, como contraste, barba ruiva e olhos amarelos cintilantes. Estava quase sempre com roupas formais e uma expressão arrogante e mesquinha, parecia exibir que tinha dinheiro apenas com o olhar.

Quando encontrou Dyana se afogando no mar, lembrou-se imediatamente da irmã, Afonsina, que não morrera afogada — na verdade, era uma excelente nadadora — e não possuía nenhuma característica comum com Dyana.

Ele não sabe o por que, mas, ao segurar a jovem de nove anos nos braços, soube que ele nunca teria alguém como ela na vida. A menos que impusesse isso; a ela ou a sua família obviamente pobre, com uma fazenda que pouco os sustentava.

A princípio, estava feliz em esperar alguns anos por ela, para que amadurecesse e pudesse servi-lo como uma esposa. Contudo, com um irmão de personalidade inconstante e impulsiva, temia que houvesse uma quebra de acordo.

Assim, vinha exigindo o adiantamento do casamento para o final deste mesmo ano, no outono — pois Dyana poderia usar o vestido de casamento que sua mãe, Mara, usara; de mangas grossas e gola alta, com lindas e delicadas flores rendadas a mão por toda a saia do vestido.

Claro que Boros esperaria até que seu corpo estivesse preparado para recebê-lo antes de consumar o casamento. Ele não era nenhum monstro, apenas precisa de uma garantia de que Dyana será dele, e de ninguém mais. Seu conselheiro Pietro via-o como um obsessivo compulsivo. Julgava que seu amor pela jovem não passava de tédio e algo passageiro, mas estava errado. Seu amor estava enraizado nos seus ossos.

Sempre que a via, parecia que as estrelas haviam vindo para hipnotiza-lo. Hipnotizado, era como Boros se sentia ao vê-la arrumada com o vestido — preto de babados e renda — e as joias que lhe dera alguns dias atrás.

Os anfitriões, Venon Gibs e a esposa, Kizzy Gibs, haviam recebido Boros Dantas e Pietro no portão da fazenda, como não possuíam empregados ou escravos. Fora uma caminhada de um conversar cortes e forçoso. Boros percebera que Venon estava inquieto com sua visita e Kizzy, por sua vez, parecia temer as reações do marido, apesar de saber disfarçar muito bem as expressões. Vendo-a assim, Boros prometeu para si mesmo que jamais causaria sentimento de temor em Dyana, após o casamento, traria apenas sentimentos felizes.

Ao atravessar a porta da casa, deparou-se com o restante da família Gibs — Egg, Molly, Maegery, Roxy, Holly, Magnus — e sua preciosa Dyana. A princípio, espalharam-se todos pela sala de estar, iniciando uma conversa agradável e pouco íntima. As irmãs Roxy e Holly possuíam talento nato para a conversação, engatando em vários assuntos variados, ainda que superficialmente. Molly estava mais envolta do próprio mundo com seu marido, tão insignificante que Boros não recordava-se de seu nome. Maegery, a mais velha irmã solteira, encarava Boros com malícia e se ressentia sempre que Dyana abria a boca. Diferentemente das irmãs, Magnus e Egg eram indiferentes à presença de Boros e seu conselheiro; Magnus estava entediado e, depois de vários minutos, bocejava a cada minuto. Enquanto isso, Egg parecia mais determinado em encarar a esposa do irmão mais novo até conseguir sua atenção — ele falhara na missão pela meia hora que conversaram.

Quando Kizzy retornou da cozinha anunciando que o jantar estava pronto e a postos, todos se levantaram simultaneamente e, em ordem de importância, sentaram-se a mesa. Por incrível que pareça, a esposa de Venon fora a última a se sentar, após alguns minutos de ausência.

— Minhas desculpas — pediu, sentando-se à mesa —, Madame Giza, minha querida sogra, precisava de meu auxílio imediato. Sua saúde tem mostrado certas pioras que a deixaram acamada durante grande parte do dia. Seus ossos não são mais como antes.

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