03|EU CONTINUO AQUI, E ONDE VOCÊ ESTÁ?

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—|OITO ANOS DEPOIS|—

—AINDA EM ILHA GRANDE DO SUL

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—|Torcendo as roupas em suas mãos, lavando os pratos e talheres na pia, guardando as roupas de cama, varrendo o chão e limpando os livros nas estantes da sala, Kizzy suspirou. Não passa do meio dia, ela constatou, ao olhar para o sol pela pequena janela da cozinha.

Dentro do quarto principal, Madame Giza reclamava do calor, da poeira nos móveis e do fedor dos lençóis; que foram lavados cinco dias atrás. Kizzy pegou uma bandeja, que continha uma jarra de água grande e algumas ervas para preparar o chá, e encaminhou-se até o quarto da velha.

O quarto era relativamente grande, com uma cama de casal, um armário grande de pesado, uma penteadeira e uma poltrona. Tudo naquele quarto era feito de madeira. Madame Giza estava deitada; suas gorduras espalhadas por toda cama, os tornozelos inchados escapando do lençol e o rosto rechonchudo arfando.

— Por que demorou tanto?! — ela rugiu, como fazia todos os dias e noites. Kizzy não a respondeu, sequer a olhou. — Estou aqui sofrendo e você com essa cara de paspalha...! Traga-me água agora mesmo!

Com as mãos firmes, experientes, Kizzy adicionou as ervas dentro do copo e colocou água logo após. Eram ervas importantes. Precisou de dois minutos para que o efeito das ervas agisse; enquanto isso, Kizzy ajudava Madame Giza a sentar-se na cama.

Desde que seu marido falecera, oito anos atrás, Madame Giza ficara dolorosamente debilitada. Luto eterno, ela dizia. Depois, quando seus filhos Hunter e Hugor não retornaram da guerra — pois o rei de Hybern, para quem lutavam, perdera —, Madame Giza se afundara na mais profunda depressão, descontando toda a sua tristeza na comida.

A princípio, a Madame ainda realizara algumas tarefas de peso leve, mas depois de quarto anos acabando com a dispensa da família, Madame Gibs precisou de repouso completo.

Por isso, todas as tarefas encarregadas à Madame Giza, passaram a ser responsabilidade de Kizzy. Isso já faz quatro anos.

Quando Madame Giza estava devidamente confortável na cama, Kizzy se aproximou com o chá, ajudando-a a beber. Ao terminar, Madame usou seu gordo e pesado braço para afastar o corpo magro de Kizzy da cama.

— Vá! Preciso dormir... — ela resmungou e fechou os olhos. Não estava dormindo, mas detestava a presença de Kizzy como uma memória do passado; gostava de ignorar e destratar a feérica illyriana.

Suspirando, Kizzy pegou a bandeja e tratou de resolver o resto dos afazeres da casa.

Depois de atender as necessidades de Madame Giza, Kizzy terminou de arrumar a mesa e chamou todos os filhos restantes da família Gibs. As ferras — chamadas de crianças — passaram por ela com velocidade e sentaram-se a mesa, esperando que ela os servisse. Kizzy fez suas obrigações e os deixou desfrutar da refeição, rumando para o lado de fora onde arrumaria o quintal da frente, algumas das plantas e flores mais carentes de cuidados e, ao terminar, já próximo as três horas da tarde, esperava a chegada de Dyana.

Enquanto esperava a mais nova chegar da cidade, refletiu sobre esses anos que passaram. Algumas mudanças desses oito anos foi o casamento de Poppy com Mellos — um humano vizinho, que morava à alguns quilômetros de distância, em outra fazenda —, que resultou com mais três pestinhas que se divertiam em causar o caos na vida de Kizzy; eram eles: Marcus, Margarida e Romeu. A melhor parte do casamento desses dois era a mudança de Poppy para a casa da família de seu marido que, por ser mestiço, possuía um casebre humilde na fazenda de seu irmão feérico mais velho. Infelizmente, essa fazenda era do outro lado da ilha, o que acarretava em visitas longas, apesar de não tão constante.

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